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IRAQUE OCUPADO
Casa Branca diz que vai buscar "equilíbrio entre justiça e necessidade de experiência" para montar governo
EUA agora recorrem ao partido de Saddam
DA REDAÇÃO
A administração americana em
Bagdá deve recorrer a membros
do extinto partido Baath, que, durante 35 anos, manteve o Iraque
sob uma ditadura, para montar o
novo governo. A mudança de estratégia, confirmada por Washington ontem, é forçosa no país
que emergiu da guerra carecendo
de tradição democrática e de instituições políticas sólidas desvinculadas do regime deposto.
No início deste ano, analistas
consultados pela Folha já previam o movimento, ainda que a
Casa Branca insistisse na política
de erradicar do poder o Baath, ao
qual pertencia o ex-ditador Saddam Hussein.
Na Casa Branca, o porta-voz
Scott McClellan confirmou a revisão da estratégia. "Estamos estudando como ter um equilíbrio
melhor entre a necessidade de
justiça e a necessidade de contarmos com a experiência de alguns
iraquianos", afirmou.
"Por um lado, você tem de se
certificar de que as pessoas sejam
responsabilizadas e punidas. Por
outro, há de se considerar que é
necessário ter gente experiente
em alguns setores do Iraque",
acrescentou.
"Esse é um dilema para a Autoridade Provisória da Coalizão
desde o início, porque você tem
apenas duas fontes reais de poder
no Iraque hoje -os elementos
mais fundamentalistas, xiitas em
sua maioria, e as estruturas políticas vigentes sob o regime de Saddam, ligadas ao Baath", disse o
professor Patrick Basham, do Instituto Cato, um reputado centro
de pesquisas econômicas em
Washington, de orientação conservadora.
Na época da declaração de Basham (janeiro), os EUA ainda buscavam um plano para democratizar o país (hoje concluído, ainda
que de forma precária), e a Folha
o indagou se a APC se veria obrigada a recorrer a membros do
partido de Saddam para evitar o
fortalecimento fundamentalismo
islâmico, sobretudo o xiita. O
Baath, ainda que composto de sunitas, operava sobre uma estrutura essencialmente laica.
É exatamente isso o que ocorre
agora. As autoridades americanas
esperam atrair o apoio de membros da poderosa minoria sunita
e, ao mesmo tempo, reduzir sua
suposta colaboração com a insurgência na tensa região do Triângulo Sunita, que se estende ao
norte e a oeste de Bagdá e inclui a
problemática cidade de Fallujah.
Logo após a queda de Bagdá, em
abril de 2003, os EUA vetaram a
participação de todo membro do
extinto Baath das negociações políticas e das instituições governamentais -até então, totalmente
dominadas pelo partido.
A idéia, segundo o Departamento de Estado, era "evitar que
criminosos desempenhassem um
papel no Iraque pós-guerra".
Mas, ontem, o porta-voz do Departamento de Estado, Richard
Boucher, afirmou que pessoas
com histórico positivo e que eram
filiadas ao partido somente porque isso era necessário para manter seus empregos "não devem ser
punidas".
A decisão foi defendida também pela frente americana no Iraque. O porta-voz da APC, Dan Senor, disse que "não há lugar no
Iraque para baathistas envolvidos
em crimes e brutalidades", masque "gente bem capacitada que
era filiada ao Baath apenas para
constar" é bem-vinda.
Sem Legislativo
O governo americano anunciou
ontem que a estrutura institucional que planeja montar no Iraque
no segundo semestre deste ano
contará com um governo provisório, que "representará a diversidade do país", mas não terá um
Legislativo.
"Não acreditamos que o período entre 1º de julho e o fim de dezembro deva ser um tempo de se
fazer novas leis", disse o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos, Marc Grossman, em depoimento na Comissão de Relações Exteriores do Senado. "A estrutura do governo deve ser eficaz, simples e, para evitar impasses, não muito grande", afirmou
Grossman.
Com Luciana Coelho, da Redação, e
agências internacionais
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