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CONFERÊNCIA
Em encontro no Azerbaijão, Academia da Latinidade conclui que deve haver um esforço para evitar generalizações
Intelectuais defendem diálogo islã-Ocidente
UIRÁ MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A BAKU
Intelectuais reunidos no Azerbaijão por ocasião da 13ª Conferência da Academia da Latinidade
concluíram que, para existir um
avanço no diálogo entre o Ocidente e o "mundo islâmico", é
preciso haver uma nova abordagem que rejeite generalizações e a
idéia de que ambos os mundos
são homogêneos.
"Chega-se à conclusão de que
não podemos falar em duas civilizações -o encontro que existe é
entre pessoas inseridas nesta ou
naquela realidade. A generalização impede a existência de um
verdadeiro diálogo", afirma o
cientista político Sergio Paulo
Rouanet.
A observação de Rouanet é
compartilhada pela maioria dos
intelectuais que estiveram em Baku, capital do Azerbaijão, entre os
dias 19 e 21 de abril. Participaram
do encontro 23 intelectuais -alguns de expressão internacional,
como o sociólogo Alain Touraine
e o filósofo Jean Baudrillard, ambos franceses, e outros locais, como a analista política Leila Alieva,
do Azerbaijão. O tema da conferência foi "Cultura da Diferença
na Eurásia".
Segundo o sociólogo brasileiro
Candido Mendes, secretário-geral
da academia, a proposta da conferência "é criar uma interlocução
sem envolver interferência política. A academia quer defender o
multiculturalismo, daí por que
viemos ao Azerbaijão, país muçulmano, mas secular, e no qual
convivem diversas religiões diferentes". A República secular do
Azerbaijão, país muçulmano com
maioria xiita, tem mais de 25 religiões reconhecidas -é, por isso
mesmo, diz Mendes, um exemplo
de convivência pacífica na região.
Mendes insiste na busca pela diferença e na sua aceitação como
caminho e garantia para uma
convivência pacífica. "O Ocidente
é sofisticado, não se pode continuar achando que o Ocidente são
os Estados Unidos, da mesma forma que não podemos achar que
todo país muçulmano é teocrático, retrógado ou de ultradireita."
Essa visão esteve presente na
apresentação de Alain Touraine,
quando defendeu a importância
da noção de latinidade. Segundo o
sociólogo francês, esse termo, por
ser artificial e não significar algo
concreto e facilmente identificável, representa exatamente aquilo
que a Academia da Latinidade
busca: o pluralismo, o multiculturalismo.
A rejeição à idéia de um "mundo islâmico" homogêneo apareceu também na exposição de Susan Buck-Morss, professora da filosofia política na Universidade
Cornell, nos EUA, onde dá aulas
sobre islamismo. "O mundo islâmico é tão heterogêneo que pode
inclusive contemplar uma esquerda global, progressiva. E não
digo que isso possa acontecer
apenas como uma dissidência do
governo de um país muçulmano,
mas mesmo no governo."
Embora a maior parte das discussões tenha se dado no nível
puramente teórico, a conferência
não passou ao largo dos debates
concretos da região, como o conflito entre EUA e Irã. Cesario Melantonio Neto, embaixador do
Brasil em Ancara (Turquia), disse
que o evento demonstrou que, se
houver um ataque, "ele virá do
Ocidente". Em sua exposição, a
respeito do oleoduto Baku-Tbilis-Ceyhan, ele descreveu os esforços
americanos para levar petróleo do
Mar Cáspio ao Mediterrâneo e
conseguir, assim, multiplicar suas
fontes de recursos energéticos e
evitar uma possível dependência
de poucos fornecedores.
O jornalista Uirá Machado viajou a convite da Academia da Latinidade
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