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entrevista
Analista vê crise institucional inédita no país
DE CARACAS
Especialista no envolvimento dos paramilitares na
política, a pesquisadora Laura Bonilla diz que a atual crise é inédita na história do
Congresso colombiano e vê o
risco de uma solução autoritária ao problema.
Bonilla trabalha na Corporação Novo Arco-Íris, ONG
pioneira nas investigações
acadêmicas sobre a parapolítica, e é co-autora do livro
"Parapolítica: a Rota da Expansão Paramilitar e os
Acordos Políticos". Leia, a
seguir, a entrevista à Folha,
por telefone.
(FM)
FOLHA - Qual a diferença entre o
caso de Mario Uribe e os dos demais parlamentares?
LAURA BONILLA - Além de ser
primo do presidente, foi um
grande aliado seu durante
toda a carreira política. Talvez seja a pessoa mais próxima à Presidência envolvida
nesse tema. De todos os políticos envolvidos, é o que tem
o maior peso. É um congressista de altíssimo status, que
escolheu ser eleito com votos
do paramilitarismo, para
manter sua força política.
FOLHA - É uma crise inédita?
BONILLA - A Colômbia está
entrando numa crise institucional nunca antes conhecida. Hoje, são 60 congressistas que estão implicados juridicamente neste processo. É
um número muito alto, mais
de 35% do total. É uma crise
que pode levar a uma dissolução do Congresso pelo presidente, trazendo uma saída
autoritária ao problema.
FOLHA - A sra. concorda com a
criação de um tribunal apenas
para julgar a parapolítica?
BONILLA - Não, muito menos
se o tribunal for no próprio
Congresso. Que o Congresso
julgue a si mesmo é uma incongruência muito grande.
Infelizmente para o país, as
investigações estão saindo
quase ao pé da letra do que
havíamos investigado.
FOLHA - Qual é o grau de envolvimento do próprio Uribe com a
parapolítica?
BONILLA - Os políticos envolvidos foram eleitos com os
votos obtidos pela via da coação armada, por via da fraude
eleitoral. Esses mesmos votos elegeram o presidente.
Pode ser que ele não tenha
precisado desses 3 ou 4 milhões de votos. Mas eu penso
que não, foram votos necessários para que Uribe fosse
hoje quem é. Ele faz alianças
com pessoas que têm alianças ilegais. A Presidência tem
vícios de ilegalidade também. Não acredito que os paramilitares tenham posto armas nos pescoços das pessoas e dito: "Votem por esses
congressistas, e, para presidente, votem livremente".
Há muitíssimos indícios,
mas o problema é que o presidente só pode ser investigado por uma comissão da
Câmara dos Representantes
onde 10 dos 15 parlamentares são de sua bancada.
FOLHA - O escândalo, iniciado
em 2006, nunca arranhou a imagem do presidente. Por quê?
BONILLA - Aqui, é mais fácil
que se condene alguém moral ou socialmente por temas
como o narcotráfico ou seqüestro do que por um massacre. Outro fator é que as
Farc ocuparam quase toda a
agenda midiática por causa
dos seqüestrados. Com os
paramilitares, nunca houve
uma cobertura desse tipo.
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