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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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TRAGÉDIA

Ainda há centenas de desaparecidos; homem é resgatado após 17 horas debaixo dos escombros de prédio de quatro andares

Mortes por tremor na Argélia passam de mil

Philippe Desmazes/France Presse
Moradores do vilarejo de Boumerdes procuram sobreviventes em escombros, após o pior terremoto na Argélia dos últimos 20 anos


DA REDAÇÃO

Equipes de resgate corriam ontem contra o tempo para tentar encontrar sobreviventes do terremoto que atingiu o norte da Argélia anteontem. O total de mortos chegava a 1.092, com 6.782 feridos. O governo argelino admite que essas cifras devem aumentar ainda nos próximos dias, até que todos os corpos sejam retirados dos escombros. Centenas ainda estavam desaparecidos.
O terremoto, de 6,7 graus na escala Richter, provocou pânico na população da capital do país, Argel, e nas cidades mais próximas. O tremor foi o pior no país em mais de duas décadas.
"Este é um momento trágico", disse o premiê Ahmed Ouyahia na rádio estatal. "É um infortúnio que atinge toda a Argélia", disse. O presidente Abdelaziz Bouteflika, que visitou as áreas atingidas, declarou três dias de luto oficial.
Na tarde de ontem, um homem de cerca de 60 anos foi retirado com vida após 17 horas sob os escombros de um prédio de quatro andares na cidade de Boumerdes, próxima à capital. Ele foi encontrado por um vizinho que procurava pela mulher, desaparecida no abalo.
Os piores estragos ocorreram em Raghaia, a leste de Argel, onde um edifício de sete andares, com 78 apartamentos, desabou, matando cerca de 350 pessoas.
Os serviços nos hospitais de muitas cidades entraram em colapso. Em algumas áreas, os corpos eram empilhados do lado de fora dos hospitais, e os feridos eram tratados ao ar livre.
Em Argel, cerca de 60 edifícios foram destruídos, entre eles o Centro de Treinamento para o Esporte Nacional de Elite, um complexo que incluía um prédio residencial de três andares e onde alguns dos mais promissores atletas do país treinavam e moravam. Mais de 200 mortos foram encontrados no local.
Em Rouiba, cidade relativamente próspera a cerca de 30 km de Argel, diversos edifícios foram reduzidos a entulho. "Eu nunca tinha visto um desastre assim na minha vida. Caiu tudo", disse Yazid Khelfaoui, que ficou preso nos escombros de seu apartamento. Sua mãe morreu.
O tremor ocorreu às 19h44 (15h44 em Brasília), quando muitas famílias estavam reunidas para o jantar. O epicentro foi 70 km a leste de Argel. Cerca de 200 tremores secundários foram sentidos nas duas horas seguintes.
A TV argelina mostrava dezenas de corpos alinhados, muitos deles de crianças, cobertos com lençóis e cobertores. "Há tantos feridos que não podemos nem contá-los", disse um médico.
Na cidade de Boumerdes, alguns meios relataram casos de pessoas que se atiraram de janelas quando o terremoto começou.
Diversos países ofereceram à Argélia ajuda para o resgate. A França, antigo poder colonial, enviou duas equipes de 60 membros cada. A Alemanha enviou uma equipe de 22 especialistas e dez cachorros farejadores.
A União Européia disse ainda estar coordenando esforços de ajuda com Bélgica, Itália, Espanha e Grécia para o envio de equipes de resgate e medicamentos.

Lista de tragédias
O terremoto de anteontem na Argélia acrescenta mais uma na já extensa lista de tragédias do país, para o qual a morte e a destruição não são novidade. "Se não é terrorismo, são enchentes. Se não são enchentes, são terremotos. Não temos sorte", disse o motorista Mohammed Khalfallah, 29.
"É assim todo ano", afirmou. "Tem sido assim há mais de dez anos." O país está apenas começando a se recuperar de uma década de matanças envolvendo guerrilhas, forças de segurança e civis que deixaram entre 100 mil e 150 mil mortos, a partir do golpe militar que anulou as eleições de 1992, vencidas pelos fundamentalistas islâmicos.
A matança da guerra civil poupou a capital, mas Argel foi atingida por uma grande enchente em novembro de 2001, que matou cerca de 760 pessoas.
Em 1994, 150 mil pessoas haviam sido desabrigadas por um tremor que matou 170 no noroeste do país.
E muitos argelinos ainda se lembram de 1980, quando um tremor de 7,7 graus na escala Richter destruiu mais de 70% da cidade de El Asnam, a oeste da capital. Anteontem, o epicentro do terremoto foi novamente na pequena faixa da costa ao norte do país onde vive a maioria dos 32 milhões de habitantes do país.

Com agências internacionais


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