São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2006

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Sob pressão dos EUA, bancos reduzem negócios no país

Autoridades americanas usam como instrumento leis bancárias e antiterroristas, além de apelar para organismos como a OCDE

STEVEN R. WEISMAN
DO "NEW YORK TIMES"

Pressionados pelos EUA com a ameaça de multas e perda de negócios, quatro dos maiores bancos europeus já começaram a reduzir suas atividades no Irã, mesmo sem uma resolução do Conselho de Segurança da ONU impondo sanções econômicas sobre o país.
Nos últimos seis meses, altos funcionários dos Departamentos do Tesouro e de Estado vêm intensificando seus esforços para restringir as atividades relacionadas ao Irã dos maiores bancos da Europa, dos EUA e do Oriente Médio, evocando as leis bancárias e antiterroristas.
"Bancos e outras instituições estão reavaliando seus vínculos com o Irã e questionando se realmente querem fazer negócios com um governo que está engajado na proliferação das armas de destruição em massa e no apoio ao terrorismo", declarou o subsecretário do Tesouro para a inteligência financeira e ligada ao terrorismo, Stuart A. Levey.
Em graus diferentes, quatro bancos europeus -os suíços UBS e Crédit Suisse, o holandês ABN Amro e o HSBC, sediado em Londres- já prestaram contas de suas atividades no Irã ao governo americano. Quase todos os grandes bancos europeus têm filiais ou agências nos EUA, sujeitas às leis do país.
Não está claro até que ponto a limitação dos negócios com quatro dos maiores bancos da Europa pode exercer efeito adverso sobre o Irã. Mas alguns especialistas políticos e econômicos externos acham pouco provável que ela cause prejuízos sérios ao país, considerando que o Irã é um dos maiores produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e vem ganhando centenas de milhões de dólares diários com as vendas do produto.

"Nível mínimo"
O UBS, penalizado anteriormente por movimentar dinheiro iraniano e de outros países sob sanção dos EUA, diz que não mais fará negócios diretos com pessoas físicas, empresas ou bancos no Irã e que não financiará exportações ou importações para empresas no país. O ABN Amro, alvo de ação semelhante no passado, também diz que não faz negócios em dólar com o país e participa de "um número bastante limitado de transações". Já o Crédit Suisse deixou de iniciar novas relações de negócios com pessoas jurídicas iranianas em janeiro, mas afirmou que cumprirá os contratos existentes.
Os EUA vêm adotando ainda outras medidas de pressão. Com o incentivo americano, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que agrupa 30 países com grandes economias de mercado, elevou a classificação de risco econômico do Irã.
Ao mesmo tempo, a atitude desafiadora do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, vem causando instabilidade nos mercados, e o clima de ansiedade gerado pela perspectiva de sanções aplicadas em nível mundial tem efeito próprio.
As leis que estão sendo aplicadas contra os bancos são variadas, e muitas delas também se aplicam a Coréia do Norte, Síria, Cuba e Sudão. Uma lei de 1984 requer a proibição das atividades com qualquer país que seja declarado patrocinador do terrorismo. As autoridades também evocam a Lei de Sanções ao Irã e à Líbia, de 1996, e uma diretiva, assinada no ano passado, proibindo transações com países suspeitos de ajudar na proliferação de armas não-convencionais.
Sob essa diretiva, os EUA já classificaram seis entidades iranianas e vários grupos industriais privados como proibidas para os bancos que operam sob as leis americanas.
Alguns especialistas, no entanto, dizem duvidar que qualquer coisa diferente de um embargo petrolífero ou de um bloqueio das importações de gasolina -cerca de 40% da gasolina consumida no Irã é importada- possa levar o Irã a mudar seu comportamento.


Tradução de Clara Allain


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