São Paulo, quarta-feira, 23 de maio de 2007

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Civis fogem, mas trégua não cessa a violência no Líbano

Mortos em três dias de confronto entre Exército e radicais islâmicos passam de 80

Palestinos deixam campo cercado e relatam cenário de destruição; líderes árabes prometem ajuda militar ao Líbano contra militantes

DA REDAÇÃO

Aproveitando uma frágil e incerta trégua, milhares de civis escaparam ontem do campo de refugiados palestino de Nahr al Bared, no norte do Líbano, levando bandeiras brancas e testemunhos de destruição e morte após três dias de combates entre o Exército e militantes de um grupo radical islâmico.
A fuga em massa do segundo maior campo de refugiados do Líbano, com cerca de 30 mil habitantes, ocorreu durante uma brecha nos confrontos ocorrida no início da noite, após mais um dia de ataques do Exército libanês contra o grupo Fatah al Islam, dissidência palestina obscura e fundamentalista inspirada na rede Al Qaeda.
Horas antes, no início da tarde (manhã em Brasília), um comboio humanitário da ONU foi atingido por disparos durante uma tentativa de cessar-fogo, quando levava comida e água aos refugiados sitiados.
Funcionários da agência da ONU de ajuda aos palestinos contaram que o ataque deixou feridos e mortos entre os civis que se aproximaram do comboio, mas não souberam precisar o número de vítimas.
Quando a calma retornou, pouco após o pôr-do-sol, milhares aproveitaram a chance para fugir. Uma multidão rapidamente ocupou a porta ocidental de Nahr al Bared para ir embora em carros, caminhões e vans, todos lotados. Muitos esticavam as mãos para fora das janelas segurando panos, plásticos, toalhas ou qualquer coisa branca que pudesse evitar um ataque das tropas libanesas que cercavam o campo.

Cheiro da morte
"O odor dos cadáveres está em toda parte. Não há comida, água, eletricidade e eles [o Exército] continuam atirando", disse Dania Mahmoud Kassem, 21, estudante universitária que mora no campo, situado nas cercanias da cidade costeira de Trípoli (norte).
A pausa nos ataques não parece ter sido fruto de um cessar-fogo organizado e havia poucos sinais de que a batalha iniciada no domingo estava encerrada. O governo do premiê Fuad Siniora reiterou que está determinado a dar um fim nas atividades do Fatah al Islam, grupo criado em novembro por um terrorista palestino procurado em vários países árabes.
O Exército cerca o campo de Nahr al Bared desde domingo, quando começou a bombardeá-lo em resposta aos ataques sofridos pelos radicais do Fatah al Islam. Impedido de entrar por um acordo de 1969, que garante imunidade aos 12 campos de refugiados palestinos no Líbano, os militares atacam de fora, para infortúnio dos civis.
No fim da noite de ontem o número de mortos estava em 81 -27 civis, 32 soldados e 22 militantes-, numa estimativa ainda não oficial, já que o cerco ao campo impede uma contagem precisa. Já é, em todo caso, o episódio interno mais sangrento no Líbano desde o fim da guerra civil (1975-1990).
"O Exército bombardeou todo o campo, tudo virou alvo. Até os israelenses teriam sido mais piedosos", disse Rami Mahmoud, residente de Damoun, em um comentário de amarga ironia. Damoun, batizado com o nome de um vilarejo na Galiléia, é um distrito no campo de Nahr al Bared que foi praticamente destruído pelos três dias de confronto.
O governo libanês recebeu amplo apoio doméstico e de países árabes, alguns dos quais ofereceram armas para ajudar o Exército a romper a resistência dos radicais. O apoio salienta a preocupação dos líderes árabes em sufocar o nascimento de mais um grupo terrorista.
Em uma reunião de emergência no Cairo, representantes dos membros da Liga Árabe prometeram continuar ajudando o governo libanês. O secretário-geral da Liga, Amr Moussa, preferiu, contudo, não dar detalhes sobre o tipo de assistência militar prestada.
"Mas nós continuaremos a buscar meios de ajudar o Líbano, o que dependerá dos acontecimentos", disse o diplomata egípcio, manifestando esperança de que um cessar-fogo permanente seja logo alcançado.
Além disso, o governo libanês pediu aos EUA US$ 280 milhões para combater a milícia.


Com agências internacionais


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