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Civis fogem, mas trégua não cessa a violência no Líbano
Mortos em três dias de confronto entre Exército e radicais islâmicos passam de 80
Palestinos deixam campo cercado e relatam cenário de
destruição; líderes árabes prometem ajuda militar ao
Líbano contra militantes
DA REDAÇÃO
Aproveitando uma frágil e incerta trégua, milhares de civis
escaparam ontem do campo de
refugiados palestino de Nahr al
Bared, no norte do Líbano, levando bandeiras brancas e testemunhos de destruição e morte após três dias de combates
entre o Exército e militantes de
um grupo radical islâmico.
A fuga em massa do segundo
maior campo de refugiados do
Líbano, com cerca de 30 mil habitantes, ocorreu durante uma
brecha nos confrontos ocorrida
no início da noite, após mais
um dia de ataques do Exército
libanês contra o grupo Fatah al
Islam, dissidência palestina
obscura e fundamentalista inspirada na rede Al Qaeda.
Horas antes, no início da tarde (manhã em Brasília), um
comboio humanitário da ONU
foi atingido por disparos durante uma tentativa de cessar-fogo, quando levava comida e
água aos refugiados sitiados.
Funcionários da agência da
ONU de ajuda aos palestinos
contaram que o ataque deixou
feridos e mortos entre os civis
que se aproximaram do comboio, mas não souberam precisar o número de vítimas.
Quando a calma retornou,
pouco após o pôr-do-sol, milhares aproveitaram a chance
para fugir. Uma multidão rapidamente ocupou a porta ocidental de Nahr al Bared para ir
embora em carros, caminhões
e vans, todos lotados. Muitos
esticavam as mãos para fora
das janelas segurando panos,
plásticos, toalhas ou qualquer
coisa branca que pudesse evitar
um ataque das tropas libanesas
que cercavam o campo.
Cheiro da morte
"O odor dos cadáveres está
em toda parte. Não há comida,
água, eletricidade e eles [o
Exército] continuam atirando", disse Dania Mahmoud
Kassem, 21, estudante universitária que mora no campo, situado nas cercanias da cidade
costeira de Trípoli (norte).
A pausa nos ataques não parece ter sido fruto de um cessar-fogo organizado e havia
poucos sinais de que a batalha
iniciada no domingo estava encerrada. O governo do premiê
Fuad Siniora reiterou que está
determinado a dar um fim nas
atividades do Fatah al Islam,
grupo criado em novembro por
um terrorista palestino procurado em vários países árabes.
O Exército cerca o campo de
Nahr al Bared desde domingo,
quando começou a bombardeá-lo em resposta aos ataques sofridos pelos radicais do Fatah al
Islam. Impedido de entrar por
um acordo de 1969, que garante
imunidade aos 12 campos de
refugiados palestinos no Líbano, os militares atacam de fora,
para infortúnio dos civis.
No fim da noite de ontem o
número de mortos estava em 81
-27 civis, 32 soldados e 22 militantes-, numa estimativa
ainda não oficial, já que o cerco
ao campo impede uma contagem precisa. Já é, em todo caso,
o episódio interno mais sangrento no Líbano desde o fim
da guerra civil (1975-1990).
"O Exército bombardeou todo o campo, tudo virou alvo.
Até os israelenses teriam sido
mais piedosos", disse Rami
Mahmoud, residente de Damoun, em um comentário de
amarga ironia. Damoun, batizado com o nome de um vilarejo na Galiléia, é um distrito no
campo de Nahr al Bared que foi
praticamente destruído pelos
três dias de confronto.
O governo libanês recebeu
amplo apoio doméstico e de
países árabes, alguns dos quais
ofereceram armas para ajudar
o Exército a romper a resistência dos radicais. O apoio salienta a preocupação dos líderes
árabes em sufocar o nascimento de mais um grupo terrorista.
Em uma reunião de emergência no Cairo, representantes dos membros da Liga Árabe
prometeram continuar ajudando o governo libanês. O secretário-geral da Liga, Amr Moussa,
preferiu, contudo, não dar detalhes sobre o tipo de assistência militar prestada.
"Mas nós continuaremos a
buscar meios de ajudar o Líbano, o que dependerá dos acontecimentos", disse o diplomata
egípcio, manifestando esperança de que um cessar-fogo permanente seja logo alcançado.
Além disso, o governo libanês
pediu aos EUA US$ 280 milhões para combater a milícia.
Com agências internacionais
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