São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2008 |
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Greve geral é novo golpe para Sarkozy
Paralisação convocada por maiores centrais sindicais protesta contra plano de aumentar tempo de contribuição para aposentadoria
CÍNTIA CARDOSO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS Centenas de milhares de franceses pararam de trabalhar e saíram às ruas ontem contra o projeto do governo de Nicolas Sarkozy de aumentar de 40 para 41 anos o tempo de contribuição para a aposentadoria. As cinco principais centrais sindicais do país convocaram greve geral e protestos disseminados. A CGT, principal entidade sindical, estimou em 700 mil os manifestantes que saíram às ruas para protestar. Só em Paris, dizem terem sido 70 mil -já a polícia fala em 28 mil. O governo francês argumenta que a combinação do déficit das contas públicas e o aumento da esperança de vida da população torna imprescindível a mudança no sistema previdenciário. O regime único de aposentadoria tem um rombo de 4,6 bilhões. Uma sondagem divulgada pelo jornal "Libération" mostra que 60% dos entrevistados apóiam a greve de ontem e 36% são contra. Os franceses, no entanto, estão divididos quanto à necessidade de reformas. Para 49%, inevitavelmente a França será obrigada a adotar um regime de aposentadoria inspirado do modelo americano. Ou seja, onde cada empregado é responsável pelo pagamento de sua própria aposentadoria. Paradoxalmente, apenas 22% concordam com um período mais longo de contribuição. O engenheiro de sistemas Samuel Marchand é um dos partidários da mudança. "Eu comecei a contribuir aos 25 anos. Acho justo ter que contribuir mais tempo, mas me preocupo com a questão do desemprego na faixa dos 50 anos. Não adianta nada eu ter disposição para trabalhar e perder o emprego quando ficar mais velho", afirmou. Essa , aliás, parece ser uma das principais preocupações de Xavier Bertrand, ministro do Trabalho. O governo determinou que, até o fim de 2009, as empresas assinem acordos de compromisso para aumentar a participação de empregados entre 55 e 64 anos. O gesto, entretanto, não foi suficiente para acalmar os ânimos. As centrais argumentam que é injusto elevar os anos de contribuição com base em cálculos da expectativa de vida porque um operário vive, em média, menos tempo do que um executivo. Uma das centrais, a CFDT, apóia o princípio de prolongamento da contribuição, mas afirma que é inútil passar de 40 anos para 41 anos com uma taxa de emprego de apenas 38% entre os trabalhadores entre 55 e 64 anos. Já as centrais CGT e FO discordam das propostas do governo. Esse cisma sindicalista parece ter sido sentido na taxa de adesão à greve. A média nacional entre os funcionários públicos foi de 8%, chegando a 25% em alguns setores, como o ferroviário. Os representantes sindicais, porém, minimizaram esses dados. Em comunicado, as centrais afirmaram que o mais importante foi a mobilização nas ruas. Além da manifestação na praça da Bastilha, em Paris, também foram realizados protestos em outras 80 cidades. Transtornos Mesmo com a adesão baixa, o movimento já foi suficiente para perturbar o cotidiano dos franceses. Na capital, os trens do metrô circularam normalmente, mas o trem urbano que liga os principais aeroportos da capital, Orly e Charles de Gaulle, teve a circulação reduzida em 50%. Em outras linhas, um terço dos trens não circulou. A mobilização também provocou reflexos no tráfego aéreo -foram registrados atrasos por causa da adesão de alguns funcionários da companhia aérea AirFrance. Os vôos para o Brasil da empresa, porém, não foram afetados pela greve. No interior do país, os reflexos foram mais fortes. Em Marselha, uma das linhas de metrô deixou de funcionar, e somente 35% dos ônibus saíram das garagens. Em Toulose, sete vôos da AirFrance para Paris foram cancelados. Próximo Texto: Saiba mais: Apoio cai entre população e partidários Índice |
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