São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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Ataque da Otan no Afeganistão mata ao menos 25 civis, diz polícia

Operação é a segunda da coalizão com baixas civis em semana ultraviolenta

Musadeq Sadeq/Associated Press
Soldado dos EUA monitora campo de batalha afegão, que piora


BARRY BEARAK
TAIMOOR SHAH
DO "NEW YORK TIMES", EM CABUL

Ao menos 25 civis -incluindo nove mulheres e três bebês - foram mortos num ataque aéreo no início da manhã de ontem, após ficarem presos no fogo cruzado entre o Taleban e forças da Otan no sul do Afeganistão, informou o chefe de polícia da Província de Helmand.
O cenário não é inédito: o Taleban lançou um ataque durante a noite e depois retirou-se para o vilarejo de Kunjakak, no distrito de Grishk, em Helmand. Comandantes da Otan, a aliança militar ocidental, pediram apoio aéreo. O resultado foi devastador.
Em comunicado, o porta-voz da Otan tenente-coronel Mike Smith informou que possivelmente 30 insurgentes do Taleban morreram no ataque aéreo, e acrescentou que, embora um número desconhecido de inocentes possa ter morrido também, a culpa cabia inteiramente do inimigo: "Ao optar por conduzir tais ataques nesse local e nessa hora, o risco causado aos civis provavelmente foi proposital. Trata-se de uma ação irresponsável que pode ter resultado em baixas."
O próprio comunicado foi um lance preventivo. Os afegãos não estão furiosos só com o Taleban, cujas táticas de terror incluem ataques suicidas e bombas à beira de estradas. Estão irados com o que vêem como as mortes às vezes indiscriminadas provocadas por bombas e foguetes dos aliados.

Salto de mortes
Tal preocupação é expressa também por organizações humanitárias estrangeiras no país. No início da semana, a Acbar -uma coalizão de instituições afegãs e internacionais como Care, Save the Children e Mercy Corps- criticou os EUA e seus aliados, dizendo que as ações militares apressadas já provocaram no mínimo 230 mortes de civis só neste ano.
"Os integrantes da Acbar reconhecem os desafios enfrentados pelos soldados no campo de batalha, mas as forças militares precisam em todos os momentos respeitar a lei humanitária internacional e os direitos humanos", disse a organização. "As forças precisam, especialmente, distinguir entre civis e combatentes e empregar a força de forma estritamente proporcional aos objetivos militares legítimos."
A crítica da Acbar não se limita aos ataques aéreos. A coalizão cita 14 episódios em que civis teriam sido "mortos apenas por andar ou passar de carro perto demais" de soldados estrangeiros e menciona "buscas e invasões abusivas de casas de afegãos", que vêm minando o apoio a funcionários humanitários internacionais e à força militar multinacional.
Ainda se sabe pouco sobre os combates em Kunjakak. O chefe de polícia de Helmand, Muhammad Hussein Andiwal, disse que a batalha começou na noite de anteontem. O Taleban, segundo ele, teria usado pelo menos dois conjuntos de casas civis para escapar.
Os tempos atuais são de brutalidade no Afeganistão. O Taleban lançou vários ataques suicidas, incluindo a explosão de uma bomba num ônibus policial em Cabul, no último domingo, que deixou 24 mortos. Na segunda, sete crianças foram mortas num complexo religioso durante um ataque aéreo da coalizão liderada pelos EUA na Província de Paktika. Há relatos de que dezenas de civis teriam morrido durante dias de combates no distrito de Chora, em Uruzgan, no sul.
"Esta última semana foi muito dura", disse Christopher Alexander, vice-representante especial do secretário-geral da ONU no Afeganistão. "Li os relatos. No incidente de Chora, o Taleban literalmente degolou homens, mulheres e crianças e queimou seus corpos. Mas houve um apoio aéreo intenso (da Otan) que matou civis."
Segundo Alexander, nos últimos dois anos o número de mortos na guerra quadruplicou. Só neste ano a ONU conta cerca de 2.800 mortos -ou entre 20% e 30% a mais do que em 2006. Cerca de um quarto deles é civil, e a grande maioria foi morta pelo Taleban, disse ele.


Tradução de CLARA ALLAIN


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