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Ataque da Otan no Afeganistão mata ao menos 25 civis, diz polícia
Operação é a segunda da coalizão com baixas civis em semana ultraviolenta
Musadeq Sadeq/Associated Press
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Soldado dos EUA monitora campo de batalha afegão, que piora |
BARRY BEARAK
TAIMOOR SHAH
DO "NEW YORK TIMES", EM CABUL
Ao menos 25 civis -incluindo nove mulheres e três bebês
- foram mortos num ataque
aéreo no início da manhã de
ontem, após ficarem presos no
fogo cruzado entre o Taleban e
forças da Otan no sul do Afeganistão, informou o chefe de polícia da Província de Helmand.
O cenário não é inédito: o Taleban lançou um ataque durante a noite e depois retirou-se
para o vilarejo de Kunjakak, no
distrito de Grishk, em Helmand. Comandantes da Otan, a
aliança militar ocidental, pediram apoio aéreo. O resultado
foi devastador.
Em comunicado, o porta-voz
da Otan tenente-coronel Mike
Smith informou que possivelmente 30 insurgentes do Taleban morreram no ataque aéreo,
e acrescentou que, embora um
número desconhecido de inocentes possa ter morrido também, a culpa cabia inteiramente do inimigo: "Ao optar por
conduzir tais ataques nesse local e nessa hora, o risco causado
aos civis provavelmente foi
proposital. Trata-se de uma
ação irresponsável que pode ter
resultado em baixas."
O próprio comunicado foi
um lance preventivo. Os afegãos não estão furiosos só com
o Taleban, cujas táticas de terror incluem ataques suicidas e
bombas à beira de estradas. Estão irados com o que vêem como as mortes às vezes indiscriminadas provocadas por bombas e foguetes dos aliados.
Salto de mortes
Tal preocupação é expressa
também por organizações humanitárias estrangeiras no
país. No início da semana, a Acbar -uma coalizão de instituições afegãs e internacionais como Care, Save the Children e
Mercy Corps- criticou os EUA
e seus aliados, dizendo que as
ações militares apressadas já
provocaram no mínimo 230
mortes de civis só neste ano.
"Os integrantes da Acbar reconhecem os desafios enfrentados pelos soldados no campo
de batalha, mas as forças militares precisam em todos os momentos respeitar a lei humanitária internacional e os direitos
humanos", disse a organização.
"As forças precisam, especialmente, distinguir entre civis e
combatentes e empregar a força de forma estritamente proporcional aos objetivos militares legítimos."
A crítica da Acbar não se limita aos ataques aéreos. A coalizão cita 14 episódios em que
civis teriam sido "mortos apenas por andar ou passar de carro perto demais" de soldados
estrangeiros e menciona "buscas e invasões abusivas de casas
de afegãos", que vêm minando
o apoio a funcionários humanitários internacionais e à força
militar multinacional.
Ainda se sabe pouco sobre os
combates em Kunjakak. O chefe de polícia de Helmand, Muhammad Hussein Andiwal, disse que a batalha começou na
noite de anteontem. O Taleban,
segundo ele, teria usado pelo
menos dois conjuntos de casas
civis para escapar.
Os tempos atuais são de brutalidade no Afeganistão. O Taleban lançou vários ataques
suicidas, incluindo a explosão
de uma bomba num ônibus policial em Cabul, no último domingo, que deixou 24 mortos.
Na segunda, sete crianças foram mortas num complexo religioso durante um ataque aéreo da coalizão liderada pelos
EUA na Província de Paktika.
Há relatos de que dezenas de civis teriam morrido durante
dias de combates no distrito de
Chora, em Uruzgan, no sul.
"Esta última semana foi muito dura", disse Christopher Alexander, vice-representante especial do secretário-geral da
ONU no Afeganistão. "Li os relatos. No incidente de Chora, o
Taleban literalmente degolou
homens, mulheres e crianças e
queimou seus corpos. Mas houve um apoio aéreo intenso (da
Otan) que matou civis."
Segundo Alexander, nos últimos dois anos o número de
mortos na guerra quadruplicou. Só neste ano a ONU conta
cerca de 2.800 mortos -ou entre 20% e 30% a mais do que em
2006. Cerca de um quarto deles
é civil, e a grande maioria foi
morta pelo Taleban, disse ele.
Tradução de CLARA ALLAIN
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