São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2008

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Tsvangirai deixa disputa presidencial no Zimbábue

Para oposicionista, clima de violência impede eleições livres e justas no país

Ele acusa governo de querer perpetuar Mugabe, há 28 anos no poder; ministro diz que votação, prevista para sexta-feira, ainda ocorrerá


DA REDAÇÃO

O líder da oposição do Zimbábue, Morgan Tsvangirai, anunciou ontem sua desistência da disputa eleitoral contra o ditador Robert Mugabe argumentando ser impossível uma eleição livre e justa com o atual clima de violência no país.
Tsvangirai fez um apelo à União Européia, às Nações Unidas e à União Africana para darem um fim ao "genocídio" na ex-colônia britânica.
Poucas horas antes, o partido de Tsvangirai, o Movimento por Mudanças Democráticas (MD, disse que uma passeata sua fora interrompida violentamente por milícias jovens pró-Mugabe, que se perpetua no poder há 28 anos.
O presidente não se manifestou sobre a decisão do candidato oposicionista.
"Nós do Movimento por Mudanças Democráticas decidimos que não participaremos mais deste violento e ilegítimo processo eleitoral", disse.
O MDC e Tsvangirai derrotaram Mugabe no primeiro turno, em 29 de março, mas não conseguiram a maioria absoluta necessária para evitar o segundo turno.
Mas, desde então, vêm acusado as milícias e as forças de segurança do governo de tentarem assegurar, por meio da força, a vitória de Mugabe.
Tsvangirai relembrou essas denúncia em seu comunicado de ontem, afirmando haver um roteiro patrocinado pelo Estado para manter Mugabe, 84, no poder. "Não podemos pedir a eles [os eleitores] para depositarem seu voto no dia 27, pois o voto poderia lhes custar as vidas", disse.

Novas propostas
O líder oposicionista também disse que, na quarta-feira, irá apresentar propostas para melhorar a situação do país. A oposição já disse seguidas vezes que receberia bem a proposta de formação de um governo de "cura nacional", incluindo membros do partido situacionista Zanu-PF -embora não o próprio Robert Mugabe.
O MDC também anunciou na noite de ontem que irá retirar formalmente a candidatura de Tsvangirai da eleição prevista para sexta-feira.
"O triste é que eles [a Comissão Eleitoral] querem se antecipar. Eles terão a carta [de desistência]. A resolução acabou de ser tomada hoje. Nós lhe daremos sua carta", afirmou o porta-voz do MDC, Nelson Chamisa.
Contudo o ministro da Informação do Zimbábue, Sikhanyiso Ndlovu, disse que a votação irá prosseguir, segundo o que prevê a Constituição e também para dar mostra do apoio da população a seu longevo líder.
"A Constituição diz que, se alguém deixa a corrida presidencial, a votação não será suspensa."
E prosseguiu: "É uma eleição do povo de Zimbábue contra o Reino Unido e os EUA", voltando ao tema recorrente usado pelo governo -de que Tsvangirai é um fantoche das potências ocidentais, que querem recolonizar o Zimbábue.
Segundo o MDC, helicópteros do Exército estavam patrulhando Harare e Bulawayo -capital e segunda maior da cidade do país, respectivamente- e que o país estava efetivamente sob regras militares.
Mais de 2.000 jovens membros do partido de Mugabe, o Zanu-Paf, estariam atacando cidadãos no centro de Harare, ainda segundo o MDC.
A agência de notícias Associated Press informou que, no início da noite de ontem, era grande a tensão nas ruas da capital, que era percorrida por grupos de milícias. Os hotéis da capital dispensaram seus funcionários mais cedo, temendo por sua segurança.
Segundo Tsvangirai, 86 membros do MDC já teriam sido mortos e outros 200 mil treriam sido desalojados de suas casas. O próprio ex-candidato oposicionista chegou a ser detido cinco vezes pela polícia, quando estava em campanha.
O Zimbábue, que já foi um dos celeiros da África Austral, teve sua economia rural desorganizada pela desapropriação, a partir de 2000, de propriedades pertencentes a fazendeiros brancos.
Há falta de leite, carne e trigo. A taxa de desemprego é de 80%, e a inflação anual está em 165 mil por cento.


Com agências internacionais


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