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Irã anuncia prisão de "espiões" pró-oposição
Cinco europeus são detidos, acusados de estimular protestos contra Ahmadinejad
Países não confirmam detenção de seus cidadãos; Mousavi afirma que seguirá contestando o resultado
da eleição presidencial
Ali Nazanin/France Presse
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Policiais iranianos a bordo de motos patrulham rua de Teerã, que foi palco de novo protesto ontem
DA REDAÇÃO
Em meio a uma escalada retórica entre o Ocidente e o governo do Irã, Teerã anunciou
ontem a prisão de cinco supostos agentes secretos europeus
que estariam incentivando os
protestos da oposição contra o
resultado do pleito que reelegeu o presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad.
Segundo a mídia oficial, o
serviço de contrainteligência
de Teerã identificou e deteve
dois alemães, dois franceses e
um britânico acusados de estarem "entre os principais responsáveis pelos distúrbios" que
paralisam o país desde a eleição
de 12 de junho. Nenhum dos
três países confirmou as prisões de seus cidadãos no Irã.
O principal alvo das acusações de ingerência é o Reino
Unido. O chanceler iraniano,
Manouchehr Mottaki, disse
que Londres "enviou espiões"
para "manipular e eleição".
O correspondente da rede
britânica BBC recebeu ordens
de deixar o país, e militantes
pró-governo convocaram para
hoje uma manifestação de repúdio na frente da Embaixada
do Reino Unido.
Autoridades britânicas rejeitaram as acusações e anunciaram já ter iniciado a retirada
dos familiares dos diplomatas
em missão no Irã. Londres
também advertiu seus cidadãos
a evitarem viajar ao país persa.
A mídia oficial iraniana afirmou que os protestos também
têm participação do Mujahedin
do Povo, uma organização oposicionista que defende a instauração de um regime secular no
Irã. Os Mujahedin são considerados um grupo terrorista por
EUA e União Europeia.
As acusações de interferência estrangeira refletem uma
possível tentativa de reavivar o
trauma da segunda metade do
século 20, quando o Irã foi palco de manipulações de potências ocidentais.
A Presidência da União Europeia -no momento de incumbência da República Tcheca- considerou "inaceitáveis"
as acusações de ingerência.
Praga também cobrou dos demais 26 países-membros que
convoquem os embaixadores
iranianos para protestar contra
a cada vez mais severa repressão de Teerã aos oposicionistas.
Segundo testemunhas, a polícia iraniana ontem utilizou
bombas de gás lacrimogêneo e
cassetetes para dispersar um
protesto que reuniu mil pessoas em Teerã apesar da advertência da Guarda Revolucionária, que ameaçou lançar uma
repressão "revolucionária" caso os protestos continuem.
Os confrontos de ontem deixaram dezenas de feridos.
No final de semana, dez manifestantes morreram, elevando para 17 o número total de
mortos desde o início da crise.
O relato de iranianos anônimos às agências de notícias é
praticamente o único meio de
se saber o que acontece no Irã,
depois que o governo expulsou
dezenas de jornalistas estrangeiros do país e proibiu os que
ficaram de fazer reportagens
fora de seus escritórios.
Especula-se que a violência
pode aumentar, já que o principal líder oposicionista, o candidato derrotado Mir Hossein
Mousavi, instou seus simpatizantes a continuarem exigindo
a anulação do pleito.
Segundo resultados oficiais,
Ahmadinejad foi reeleito com
62,7% dos votos, margem que
dispensou um segundo turno.
Mousavi, oficialmente com
33%, contesta a apuração.
Pressionado pelas acusações
de fraude, o Conselho dos
Guardiães, responsável por supervisionar eleições no Irã,
anunciou anteontem a descoberta de possíveis irregularidades em alguns distritos.
Segundo o conselho, o número de votos afetados poderia
chegar a 3 milhões, mas não alteraria o resultado final.
Com agências internacionais
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