São Paulo, terça-feira, 23 de junho de 2009

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Irã anuncia prisão de "espiões" pró-oposição

Cinco europeus são detidos, acusados de estimular protestos contra Ahmadinejad

Países não confirmam detenção de seus cidadãos; Mousavi afirma que seguirá contestando o resultado da eleição presidencial

Ali Nazanin/France Presse
Policiais iranianos a bordo de motos patrulham rua de Teerã, que foi palco de novo protesto ontem

DA REDAÇÃO

Em meio a uma escalada retórica entre o Ocidente e o governo do Irã, Teerã anunciou ontem a prisão de cinco supostos agentes secretos europeus que estariam incentivando os protestos da oposição contra o resultado do pleito que reelegeu o presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad.
Segundo a mídia oficial, o serviço de contrainteligência de Teerã identificou e deteve dois alemães, dois franceses e um britânico acusados de estarem "entre os principais responsáveis pelos distúrbios" que paralisam o país desde a eleição de 12 de junho. Nenhum dos três países confirmou as prisões de seus cidadãos no Irã.
O principal alvo das acusações de ingerência é o Reino Unido. O chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, disse que Londres "enviou espiões" para "manipular e eleição".
O correspondente da rede britânica BBC recebeu ordens de deixar o país, e militantes pró-governo convocaram para hoje uma manifestação de repúdio na frente da Embaixada do Reino Unido.
Autoridades britânicas rejeitaram as acusações e anunciaram já ter iniciado a retirada dos familiares dos diplomatas em missão no Irã. Londres também advertiu seus cidadãos a evitarem viajar ao país persa.
A mídia oficial iraniana afirmou que os protestos também têm participação do Mujahedin do Povo, uma organização oposicionista que defende a instauração de um regime secular no Irã. Os Mujahedin são considerados um grupo terrorista por EUA e União Europeia.
As acusações de interferência estrangeira refletem uma possível tentativa de reavivar o trauma da segunda metade do século 20, quando o Irã foi palco de manipulações de potências ocidentais.
A Presidência da União Europeia -no momento de incumbência da República Tcheca- considerou "inaceitáveis" as acusações de ingerência. Praga também cobrou dos demais 26 países-membros que convoquem os embaixadores iranianos para protestar contra a cada vez mais severa repressão de Teerã aos oposicionistas.
Segundo testemunhas, a polícia iraniana ontem utilizou bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes para dispersar um protesto que reuniu mil pessoas em Teerã apesar da advertência da Guarda Revolucionária, que ameaçou lançar uma repressão "revolucionária" caso os protestos continuem.
Os confrontos de ontem deixaram dezenas de feridos.
No final de semana, dez manifestantes morreram, elevando para 17 o número total de mortos desde o início da crise.
O relato de iranianos anônimos às agências de notícias é praticamente o único meio de se saber o que acontece no Irã, depois que o governo expulsou dezenas de jornalistas estrangeiros do país e proibiu os que ficaram de fazer reportagens fora de seus escritórios.
Especula-se que a violência pode aumentar, já que o principal líder oposicionista, o candidato derrotado Mir Hossein Mousavi, instou seus simpatizantes a continuarem exigindo a anulação do pleito.
Segundo resultados oficiais, Ahmadinejad foi reeleito com 62,7% dos votos, margem que dispensou um segundo turno. Mousavi, oficialmente com 33%, contesta a apuração.
Pressionado pelas acusações de fraude, o Conselho dos Guardiães, responsável por supervisionar eleições no Irã, anunciou anteontem a descoberta de possíveis irregularidades em alguns distritos.
Segundo o conselho, o número de votos afetados poderia chegar a 3 milhões, mas não alteraria o resultado final.


Com agências internacionais


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