São Paulo, segunda-feira, 23 de julho de 2001

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A BATALHA DE GÊNOVA
Governo alega busca a anarquistas para ação, na qual foram apreendidos canivetes, martelos e máscaras

Polícia italiana invade QG de ativistas durante a madrugada e deixa 57 feridos

AP
Moradores de Gênova vêem a destruição causada por confrontos, que geraram prejuízos estimados em até US$ 23 mi


LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A GÊNOVA

Uma batida da polícia na sede do Fórum Social de Gênova deixou 57 feridos e resultou na prisão, segundo a polícia, de 93 manifestantes, na madrugada de ontem, último dia da reunião de cúpula do Grupo dos 8 na cidade portuária da Itália.
O conflito foi o último de uma série ocorrida nos três dias de encontro do G-8, com um balanço de 1 morto, 560 feridos e 219 detidos, segundo dados divulgados ontem à noite pela agência italiana Ansa, além de prejuízos estimados pela imprensa italiana em US$ 18 milhões a US$ 23 milhões.
À 0h de ontem, cerca de 200 policiais, com cassetetes e escudos, entraram nas duas escolas da rua Cesare Battisti que abrigavam o Fórum à procura de armas e sob a alegação de que extremistas anarquistas se escondiam no local.
Segundo relatos de testemunhas -manifestantes e repórteres-, os policiais agrediram ativistas que estavam na escola Sandro Pertini. Cerca de 400 pessoas estavam no edifício no momento do incidente -algumas trabalhando, muitas dormindo.
"Estava dormindo no prédio em frente e fui acordado por pessoas gritando: "Polícia, polícia!'", disse Simone Bertino, técnica em computação que trabalhou como voluntária no Fórum Social. "Corri até a janela e vi carros da polícia e ambulâncias na rua. Após 20 minutos dentro do prédio, os policiais começaram a retirar os manifestantes, alguns deles em macas", afirmou Simone.
A polícia mostrou canivetes, martelos, serras, barras de ferros, pedaços de madeira e máscaras antigás, que diz ter apreendido na batida. A escola Sandro Pertini está em obras e havia material de construção estocado em um de seus quatro andares.
O coordenador do Fórum Social de Gênova, Vittorio Agnoletto, afirmou que a ação policial foi fruto de "uma decisão política do governo italiano" e pediu a renúncia do ministro do Interior italiano, Claudio Scajola.
"O que aconteceu aqui lembra as ações das ditaduras na América Latina nos anos 70", comparou o coordenador do Fórum Social.
O governo italiano nega a acusação de ação ter sido uma decisão política. A polícia sustenta que buscava integrantes do Black Bloc, grupo anarquista envolvido nos principais conflitos ocorridos em Gênova anteontem.
O Fórum Social, que condena a ação dos ativistas do Black Bloc, exibiu na tarde de ontem um vídeo que mostra policiais italianos conversando calmamente com um ativista vestindo as camisetas negras com símbolos anarquistas do Black Bloc, após os confrontos do sábado.
"Essa é um indício de que policiais estavam entre os Black Bloc para estimular enfrentamentos e justificar agressões", disse o italiano Davide Ferrario, autor das imagens. A jornalista Sophie Malibeaux, da Radio France Internacional, disse ter visto uma mulher com trajes dos anarquistas usando um capacete da polícia. A polícia negou qualquer relacionamento com o Black Bloc.

Gênova se esvazia
O incidente na escola Sandro Pertini ocorreu quando milhares de manifestantes já estavam deixando Gênova. Trens partiram da cidade durante a noite de sábado e a madrugada de ontem, levando ativistas para Milão.
Dois foram os motivos principais da saída dos manifestantes. Primeiro, pela transformação do ato pacífico de sábado em um intenso conflito com 160 feridos. Segundo, porque já não havia mais nenhuma manifestação organizada pelo Fórum Social prevista para o último dia do evento.
Com os ativistas saindo, os moradores de Gênova que ficaram na cidade durante a cúpula do G-8 começaram a sair às ruas para averiguar o prejuízo dos conflitos.


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