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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Entre americanos, "guerra de palavras" é ganha por Israel
Especialistas concordam que imparcialidade é afetada por fatores como a parceria estratégica e o lobby nas emissoras
TVs dão mais destaque
às mortes de israelenses; termos escolhidos para a cobertura do confronto revelam escolha editorial
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Uma norte-americana dá entrevista ao âncora Tony Harris,
da CNN. Ela é uma das milhares de pessoas que tentam escapar de uma cidade do sul do Líbano. Diz estar chocada com a
incapacidade de Washington
de parar o que ela chama de
matança brutal de civis por Israel. "Essa não é a visão aqui",
interrompe rapidamente o âncora, para cortar a entrevista.
Um dos correspondentes da
NBC em Israel pergunta ao ex-primeiro-ministro Ehud Barak: "Por que, cada vez que Israel está disposto a ceder mais
aos palestinos, mais sofre ataques?". Pelo menos na grande
imprensa televisiva dos EUA,
os lados já estão tomados.
"Quando se trata de Israel, não
há cobertura imparcial possível
aqui", decreta Steve Rendall, da
organização liberal Fairness &
Accuracy in Reporting (equilíbrio e exatidão no jornalismo,
"Fair" na sigla em inglês, que
também quer dizer "justo").
É que o país é parceiro estratégico de longa data dos EUA
numa região problemática, e o
lobby de Israel é muito poderoso na indústria de informação
norte-americana, acredita o
analista-sênior, "o que torna a
imparcialidade virtualmente
impossível". "Não vai aqui um
juízo de valor", ameniza.
"Lobby é lobby, mesmo o Brasil
deve ter o seu em Washington."
Escolha de palavras
Mesma impressão tem Scott
M. Libin, especialista em liderança e gerenciamento do prestigioso Instituto Poynter, especializado em estudos de jornalismo e mídia. "O jornalismo
impresso é mais equilibrado no
noticiário -um pouco menos,
mas sem grandes distorções,
nos editoriais." Ele aborda um
aspecto curioso na cobertura: a
"guerra de palavras".
O que ocorre hoje no Oriente
Médio é "guerra" ou "conflito"?
O Hizbollah é "terrorista" ou
"extremista"? A região estava
"À Beira da Guerra" (primeiro
título da CNN para a cobertura,
depois mudado para "Oriente
Médio em Alerta", que lembra
o "Tensão no Oriente Médio"
da rival Fox News)? "Israel mira apenas alvos do Hizbollah",
como declarou a MSNBC? "As
emissoras fazem suas escolhas
editoriais na escolha de palavras", conclui Libin.
O problema não é de hoje. Já
em 2002, o Fair escrevia: "Na
mídia dos EUA, palestinos "atacam" e Israel "responde'". Segundo o estudo, era desequilibrado o tratamento das três
maiores emissoras abertas,
ABC, CBS e NBC, às forças em
conflito na segunda intifada palestina. Quatro anos depois, o
acadêmico americano de origem libanesa Fawaz Gerges defende o mesmo, com números:
"Os ataques de Israel no Líbano deixaram mais de 360
mortos, mil feridos e meio milhão de desabrigados; os ataques do Hizbollah no norte de
Israel mataram mais de 30 israelenses. Mas a imprensa
americana já escolheu seu lado
e ignora a reação desproporcional de Israel à ação agressiva do
Hizbollah", diz o professor de
estudos internacionais da faculdade Sarah Lawrence, autor
de "Journey of the Jihadists".
Talvez o equilíbrio esteja na
fala do repórter britânico Robert Fisk, correspondente-chefe para o Oriente Médio do jornal "The Independent", que vive no Líbano há três décadas.
"Há uma quantidade incrível
de propaganda [de ambos os lados]", resumiu ao programa
"Democracy Now!".
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