|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Visita de chanceler expõe divergências entre Brasil e Israel
Liberman pede a governo Lula que atue para conter programa nuclear iraniano; Itamaraty mantém convite a Ahmadinejad
Celso Amorim expõe ainda diferença de opiniões quanto ao fim de assentamentos judaicos na Cisjordânia
e em Jerusalém Oriental
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A visita do chanceler de Israel, Avigdor Liberman, a Brasília escancarou ontem as divergências diplomáticas que
opõem os governos israelense e
brasileiro, evidenciando os limites do diálogo entre países
com agendas tão opostas.
Liberman encerrou a primeira e mais importante etapa de
seu giro sul-americano -que o
levará ainda a Argentina, Peru e
Colômbia- sem conseguir a almejada aproximação política
com o Brasil, que Israel vê como país-chave para tentar frear
a atuação do Irã na região.
A intensificação das relações
entre Irã e América do Sul dominou a pauta dos encontros
de Liberman com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e com
o chanceler Celso Amorim.
O israelense disse que "o Brasil, mais do que qualquer outro
país", pode ajudar a pôr fim ao
programa nuclear iraniano,
que Israel, mesmo como única
potência atômica do Oriente
Médio, vê como ameaça existencial. Teerã diz que quer produzir energia, não bombas.
Em entrevista ao lado de Liberman, Amorim respondeu
com uma alfinetada, dizendo
que o Brasil assinou o Tratado
de Não Proliferação Nuclear e
"gostaria que todos os países fizessem o mesmo". Israel não é
signatário do acordo.
A delegação israelense também não gostou de ouvir Lula e
Amorim reafirmarem planos
de receber o presidente do Irã,
Mahmoud Ahmadinejad, que
nega o Holocausto e defende
que Israel seja riscado do mapa.
O iraniano planeja fazer a
Brasília a sua primeira viagem
após a posse para o segundo
mandato, no mês que vem
-antes, portanto, do presidente israelense, Shimon Peres,
que tem viagem ao Brasil marcada para novembro. "O Brasil
tem uma política de diálogo.
Você não dialoga só com os países com os quais você está de
acordo sobre tudo, senão não
há conversa", disse Amorim.
O brasileiro defendeu ainda a
legitimidade da reeleição de
Ahmadinejad, que a oposição
iraniana diz ter sido fraudulenta, afirmando que o Brasil "tem
de lidar com os governantes
que foram eleitos e escolhidos".
Num aceno a Lula, Liberman
rompeu com o tradicional e polido mutismo de Israel sobre as
pretensões de o Itamaraty mediar a paz no Oriente Médio.
"O Brasil tem ótima relação
com a Síria e com os palestinos
e acredito que possa contribuir
para o diálogo direto entre Israel e seus vizinhos", disse o
chanceler israelense.
A declaração agradou ao Itamaraty, mas há discordâncias
frontais. A maior delas é sobre o
fim dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, condição
estipulada em acordos de paz
que o governo de Binyamin Netanyahu se nega a cumprir.
"[Liberman] disse que não
tem havido aumento dos assentamentos, isso é discutível.
Acho que cresceram, e isso é
um fator que dificulta [a paz]",
disse Amorim após despedir-se
do colega -que antes admitira
"desacordos e mal-entendidos"
e fizera votos de que o diálogo
"traga mais compreensão".
Na coletiva, os ministros disseram ter mantido "diálogo
franco e cordial", eufemismo
diplomático geralmente usado
para descrever conversas marcadas por divergências.
Apesar do descompasso político, Brasil e Israel têm relações
comerciais em plena ascensão.
O intercâmbio, com a balança
favorável aos israelenses, é alavancado pelas importações
brasileiras de equipamentos de
segurança e fertilizantes.
Amorim e Liberman também buscaram impulsionar politicamente o acordo de livre
comércio Mercosul-Israel, que
está emperrado nos Parlamentos dos países envolvidos.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|