São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009

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Entrevista sobre seis meses no cargo põe Obama na defensiva

Em meio à queda de popularidade do presidente, reforma de sistema de saúde domina pauta dos questionamentos

Democrata critica ação da polícia em caso de prisão de intelectual negro da Universidade Harvard, anteontem em Cambridge

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Seis meses após a posse e em meio à maior queda de popularidade até agora, alavancada por sua proposta de reforma para o sistema de saúde pública dos EUA, o presidente Barack Obama passou sua quinta entrevista coletiva, ontem, em Washington, na defensiva.
Defendeu seu plano para o setor, que deve custar US$ 1 trilhão em dez anos, dos quais 50% serão pagos com aumento de impostos sobre o 1% mais rico do país. Defendeu seus gastos em geral, dizendo que, ao assumir, herdou um déficit público de US$ 1,3 trilhão de seu antecessor, o republicano George W. Bush (2001-2009).
"É por isso que eu disse que ao mesmo tempo em que resgatamos a economia de uma crise completa e severa, temos de reconstruí-la mais forte do que antes. E a reforma da saúde pública é central para isso."
Por fim, cobrado sobre a falta de transparência de alguns de seus atos até agora, disse que cumpria as promessas de campanha e comprometeu-se a divulgar uma lista dos executivos de empresas de saúde privada que recebera na Casa Branca.
Seus assessores chegaram mesmo a fazer uma manobra para defender a audiência do evento exibido em rede nacional, adiantando-o em uma hora, para que não coincidisse com um especial sobre a cantora-revelação britânica Susan Boyle, pela emissora NBC.
O relativo desinteresse em torno daquele que é considerado o primeiro presidente-celebridade em anos era marcado ainda pelo número de cadeiras vazias no Salão Leste da Casa Branca, a primeira vez em que há mais lugares que pedidos de jornalistas desde janeiro.
Mas o democrata também atacou. Atacou a oposição republicana, que tenta fazer da derrota da reforma de saúde obamista a primeira vitória de um partido que luta para se recompor. Um dos senadores, Jim DeMint, disse que se a lei não passar será o Waterloo de Obama, referindo-se à batalha que marcou o fim do império bonapartista, em 1815.

Racismo
Na única questão que não tratou de gastos ou planos, ele foi instado a opinar sobre a prisão do acadêmico negro Henry Louis Gates Jr. na porta de sua casa, no campus de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, sob acusação, depois suspensa, de conduta desordeira.
Gates, um dos mais conhecidos estudiosos de relações raciais do país, voltava de uma viagem à Ásia e tentava abrir a porta de sua própria casa, quando foi abordado pela polícia, que respondia a uma denúncia de uma vizinha de que dois homens negros pareciam arrombar uma residência.
Identificou-se, provou que era o proprietário e pediu a identificação do policial, que se recusou a dar e o levou preso. "A polícia agiu estupidamente", disse Obama, chamado o primeiro presidente pós-racial do país. "Sabemos que há uma longa história de afroamericanos e latinos parados pela polícia desproporcionalmente." Por fim, brincou sobre o que aconteceria se tentasse forçar a entrada de sua casa: "Esta [a Casa Branca] é minha casa agora, então acho que levaria um tiro".


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