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IRAQUE SOB TUTELA
Texto enviado ao Parlamento desagrada aos sunitas, que ameaçam ampliar rebelião se houver federalismo
Sunitas voltam a rejeitar Constituição
DA REDAÇÃO
Com forte oposição dos sunitas,
o projeto de Constituição para o
Iraque foi finalizado ontem e
apresentado à Assembléia Nacional do país, mas a sessão na Casa
foi encerrada antes que se iniciasse a votação da Carta.
O objetivo dessa manobra dos
parlamentares é ganhar tempo
para convencer os sunitas, maiores opositores da Constituição
nos termos em que foi redigida, a
darem seu apoio.
O líder da Assembléia, Hajim al
Hassani, que foi aplaudido ao
anunciar que "nós recebemos o
projeto da Constituição", afirmou
que o Parlamento tem três dias
para discutir os pontos pendentes
e chegar a um acordo.
A despeito de a apresentação do
projeto da nova Constituição à
Assembléia já haver sido adiada
uma vez -originalmente estava
marcada para 15 de agosto-,
parlamentares sunitas cogitaram
forçar um novo adiamento, dado
que o texto final não lhes agradava. Não obtiveram sucesso, mas,
após a apresentação do texto, eles
emitiram uma nota rejeitando-o,
o que indica que os próximos três
dias serão de negociações difíceis.
O governo americano se mostrou satisfeito com a decisão de
ontem. "O progresso feito nas últimas semanas tem sido impressionante, com o consenso obtido
em vários temas", avaliou a Casa
Branca, em comunicado.
Federalismo
O principal motivo do descontentamento dos sunitas -que,
embora estivessem no poder durante a ditadura de Saddam Hussein (1979-2003), são minoria em
relação aos xiitas- é a instituição
da forma federalista de governo.
O parlamentar sunita Hussein
Shuruk al Falluji afirmou que "todos os problemas da história do
Iraque estão nessa Constituição:
racismo, sectarismo e secessão".
"Se essa Constituição for aprovada, a rebelião atingirá seu auge",
ameaçou. Os sunitas se recusaram inclusive a integrar a comissão que elaborou a Constituição.
A oposição veemente dos sunitas ao sistema federalista justifica-se pelo fato de eles serem maioria
em apenas três das 18 Províncias
do país, sendo que essas três não
são ricas em petróleo. As Províncias com grandes reservas do mineral ficariam na mão dos xiitas
-a maioria da população iraquiana- e curdos. E, como uma
Federação pressupõe uma autonomia significativa para cada
uma das suas unidades, os sunitas
temem ficar condenados à pobreza, posto que não receberiam os
lucros que xiitas e curdos obteriam com o petróleo.
Uma vez aprovada pela Assembléia Nacional iraquiana, a Constituição seguirá para consulta popular, em outubro próximo. Na
ocasião os sunitas terão a possibilidade de derrubar a Carta, já que,
para ser promulgada e entrar em
vigor, ela tem de ser aprovada em
ao menos 16 das 18 Províncias.
Além do federalismo, outros
dois pontos que causaram discordância entre os três principais
grupos étnico-religiosos foram o
papel do islã na Carta e a questão
do domínio da cidade de Kirkuk.
Sobre o primeiro ponto, decidiu-se que o islã é a principal fonte para as leis iraquianas e que nenhuma delas pode contradizer
princípios islâmicos. Já sobre Kirkuk, localizada numa região rica
em petróleo no norte e cujo domínio é reivindicado pelos curdos,
estabeleceu-se que a decisão final
sobre o assunto ficará para 2007.
Violência
Dois soldados americanos morreram ontem ao norte de Bagdá,
quando o veículo em que faziam
patrulha foi atingido pela explosão de uma bomba instalada na
estrada. Também no norte de
Bagdá, oito policiais e dois civis
foram mortos por atiradores que
seguiram a van em que estavam.
Com agências internacionais
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