São Paulo, terça-feira, 23 de agosto de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Texto enviado ao Parlamento desagrada aos sunitas, que ameaçam ampliar rebelião se houver federalismo

Sunitas voltam a rejeitar Constituição

DA REDAÇÃO

Com forte oposição dos sunitas, o projeto de Constituição para o Iraque foi finalizado ontem e apresentado à Assembléia Nacional do país, mas a sessão na Casa foi encerrada antes que se iniciasse a votação da Carta.
O objetivo dessa manobra dos parlamentares é ganhar tempo para convencer os sunitas, maiores opositores da Constituição nos termos em que foi redigida, a darem seu apoio.
O líder da Assembléia, Hajim al Hassani, que foi aplaudido ao anunciar que "nós recebemos o projeto da Constituição", afirmou que o Parlamento tem três dias para discutir os pontos pendentes e chegar a um acordo.
A despeito de a apresentação do projeto da nova Constituição à Assembléia já haver sido adiada uma vez -originalmente estava marcada para 15 de agosto-, parlamentares sunitas cogitaram forçar um novo adiamento, dado que o texto final não lhes agradava. Não obtiveram sucesso, mas, após a apresentação do texto, eles emitiram uma nota rejeitando-o, o que indica que os próximos três dias serão de negociações difíceis.
O governo americano se mostrou satisfeito com a decisão de ontem. "O progresso feito nas últimas semanas tem sido impressionante, com o consenso obtido em vários temas", avaliou a Casa Branca, em comunicado.

Federalismo
O principal motivo do descontentamento dos sunitas -que, embora estivessem no poder durante a ditadura de Saddam Hussein (1979-2003), são minoria em relação aos xiitas- é a instituição da forma federalista de governo.
O parlamentar sunita Hussein Shuruk al Falluji afirmou que "todos os problemas da história do Iraque estão nessa Constituição: racismo, sectarismo e secessão". "Se essa Constituição for aprovada, a rebelião atingirá seu auge", ameaçou. Os sunitas se recusaram inclusive a integrar a comissão que elaborou a Constituição.
A oposição veemente dos sunitas ao sistema federalista justifica-se pelo fato de eles serem maioria em apenas três das 18 Províncias do país, sendo que essas três não são ricas em petróleo. As Províncias com grandes reservas do mineral ficariam na mão dos xiitas -a maioria da população iraquiana- e curdos. E, como uma Federação pressupõe uma autonomia significativa para cada uma das suas unidades, os sunitas temem ficar condenados à pobreza, posto que não receberiam os lucros que xiitas e curdos obteriam com o petróleo.
Uma vez aprovada pela Assembléia Nacional iraquiana, a Constituição seguirá para consulta popular, em outubro próximo. Na ocasião os sunitas terão a possibilidade de derrubar a Carta, já que, para ser promulgada e entrar em vigor, ela tem de ser aprovada em ao menos 16 das 18 Províncias.
Além do federalismo, outros dois pontos que causaram discordância entre os três principais grupos étnico-religiosos foram o papel do islã na Carta e a questão do domínio da cidade de Kirkuk.
Sobre o primeiro ponto, decidiu-se que o islã é a principal fonte para as leis iraquianas e que nenhuma delas pode contradizer princípios islâmicos. Já sobre Kirkuk, localizada numa região rica em petróleo no norte e cujo domínio é reivindicado pelos curdos, estabeleceu-se que a decisão final sobre o assunto ficará para 2007.

Violência
Dois soldados americanos morreram ontem ao norte de Bagdá, quando o veículo em que faziam patrulha foi atingido pela explosão de uma bomba instalada na estrada. Também no norte de Bagdá, oito policiais e dois civis foram mortos por atiradores que seguiram a van em que estavam.


Com agências internacionais

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