São Paulo, terça-feira, 23 de agosto de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Desocupação de 4 colônias na Cisjordânia, a parte final do plano, está prevista para acabar hoje e com resistência

Israel conclui retirada histórica de Gaza

MICHEL GAWENDO
ENVIADO ESPECIAL A SA-NUR (CISJORDÂNIA)

O governo de Israel anunciou ontem ter encerrado a retirada de Gaza, colocando um fim a 38 anos de ocupação -desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967.
"Agora, não há assentamentos judaicos em Gaza", disse o general Dan Harel, que chefiou a retirada. Segundo ele, a transferência do controle aos palestinos deverá ocorrer em outubro, ao fim da destruição das construções.
Foi a primeira retirada israelense de um território reivindicado pelos palestinos para a formação de seu Estado. Cerca de 8.500 colonos judeus viviam em Gaza.
Agora, é a vez da desocupação de quatro colônias na Cisjordânia. As de Ganim e Kadim já estão vazias, porque os moradores saíram espontaneamente. Cerca de 6.000 policiais e soldados israelenses participarão hoje da retirada das de Sa-Nur e Homesh.
Netzarim, uma das primeiras colônias judaicas em Gaza, foi a última das 21 a ser desocupada. Houve uma cerimônia religiosa, com a participação de soldados e colonos. O processo acabou duas semanas antes do previsto inicialmente. "Saímos contra nossa vontade, mas de cabeça erguida. As mudas que foram arrancadas aqui vão ser replantadas pelo país até que voltemos para Netzarim", disse o rabino Tzion Tzion-Tawil.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, telefonou para o premiê Ariel Sharon e disse esperar que a retirada abra um novo capítulo nas relações israelo-palestinas, segundo o governo de Israel. Os dois combinaram de se encontrar em breve. A última reunião foi em 21 de junho.
Abbas, de acordo com o relato da conversa, chamou a saída de Gaza de uma "brava e histórica decisão". Já um porta-voz do grupo terrorista Hamas classificou o momento de "histórico e feliz", prevendo que estimulará os palestinos a continuarem a resistir. Milhares de militantes do Hamas comemoraram ontem a retirada.

Resistência
Nos dois assentamentos que faltam ser esvaziados na Cisjordânia, é prometida resistência. Ontem, o site do jornal israelense "Haaretz" relatou que houve depredação por colonos de oito vilas palestinas na região. Não foram registrados feridos. Em outro incidente, perto de um assentamento que não será desocupado, dois palestinos ficaram feridos por pedras atiradas por colonos.
Israel pretende encerrar hoje mesmo a desocupação das colônias de Sa-Nur e Homesh, no norte da Cisjordânia, encerrando a primeira fase de seu plano unilateral de retirada. Até agora, o processo transcorreu sem incidentes graves entre israelenses e sem ataques palestinos, mas o Exército espera atos de violência hoje.
Jovens ultra-religiosos do movimento Chabad ameaçam atacar as forças de segurança que farão a desocupação. Há ainda alertas para atentados palestinos no norte da Cisjordânia. Pelo menos 2.000 soldados fazem a vigilância da área ao redor dos assentamentos que serão desocupados hoje, separados por poucos quilômetros e rodeados de aldeias palestinas, nas montanhas da região.
Moradores de Sa-Nur afirmaram ontem que não pretendem entrar em confronto com as forças de segurança, mas os integrantes da corrente messiânica do Chabad dizem que vão resistir.
Eles estão reunidos numa construção antiga no centro da colônia, que já foi usada por forças britânicas como posto policial.
"Ninguém consegue controlar esses jovens. Eles não ouvem ninguém. Alguns deles podem ter armas de fogo", disse o deputado israelense Arie Eldad, do partido de direita União Nacional, que se mudou para Sa-Nur há quatro meses para "apoiar os colonos".
Ainda restam em Sa-Nur cerca de cem famílias, sendo apenas 38 de moradores. As demais pessoas, inclusive estrangeiras, chegaram ao local nos últimos meses para protestar contra a retirada.
Os ultra-religiosos passaram a tarde de ontem preparando a resistência. Eles levaram água, comida e pedaços de ferro para o antigo posto britânico, que chamam de fortaleza. "As pessoas precisam saber que a retirada é um crime e que não vai acontecer, porque o Messias vai chegar antes", disse o americano Yacob Cohen, 38, que veio de Nova York para participar dos protestos.
Os manifestantes também fizeram uma oração coletiva. No final, ameaçaram agredir jornalistas e quebrar equipamentos fotográficos e de filmagem. À noite, os jovens passaram a provocar os soldados no portão de Sa-Nur, a imitar barulhos de sirene com megafones e a gritar slogans. "Vocês são o exército de defesa de Ismael", gritou um deles, em jogo de palavras com o nome oficial das forças israelenses e um dos patriarcas bíblicos dos árabes.
Enquanto alguns protestavam, em aldeias ao redor de Sa-Nur e Homesh, palestinos celebravam a retirada com fogos de artifício.


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