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ORIENTE MÉDIO
Desocupação de 4 colônias na Cisjordânia, a parte final do plano, está prevista para acabar hoje e com resistência
Israel conclui retirada histórica de Gaza
MICHEL GAWENDO
ENVIADO ESPECIAL A SA-NUR (CISJORDÂNIA)
O governo de Israel anunciou
ontem ter encerrado a retirada de
Gaza, colocando um fim a 38 anos
de ocupação -desde a Guerra
dos Seis Dias, em 1967.
"Agora, não há assentamentos
judaicos em Gaza", disse o general Dan Harel, que chefiou a retirada. Segundo ele, a transferência
do controle aos palestinos deverá
ocorrer em outubro, ao fim da
destruição das construções.
Foi a primeira retirada israelense de um território reivindicado
pelos palestinos para a formação
de seu Estado. Cerca de 8.500 colonos judeus viviam em Gaza.
Agora, é a vez da desocupação
de quatro colônias na Cisjordânia. As de Ganim e Kadim já estão
vazias, porque os moradores saíram espontaneamente. Cerca de
6.000 policiais e soldados israelenses participarão hoje da retirada das de Sa-Nur e Homesh.
Netzarim, uma das primeiras
colônias judaicas em Gaza, foi a
última das 21 a ser desocupada.
Houve uma cerimônia religiosa,
com a participação de soldados e
colonos. O processo acabou duas
semanas antes do previsto inicialmente. "Saímos contra nossa
vontade, mas de cabeça erguida.
As mudas que foram arrancadas
aqui vão ser replantadas pelo país
até que voltemos para Netzarim",
disse o rabino Tzion Tzion-Tawil.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, telefonou para o
premiê Ariel Sharon e disse esperar que a retirada abra um novo
capítulo nas relações israelo-palestinas, segundo o governo de Israel. Os dois combinaram de se
encontrar em breve. A última reunião foi em 21 de junho.
Abbas, de acordo com o relato
da conversa, chamou a saída de
Gaza de uma "brava e histórica
decisão". Já um porta-voz do grupo terrorista Hamas classificou o
momento de "histórico e feliz",
prevendo que estimulará os palestinos a continuarem a resistir.
Milhares de militantes do Hamas
comemoraram ontem a retirada.
Resistência
Nos dois assentamentos que faltam ser esvaziados na Cisjordânia, é prometida resistência. Ontem, o site do jornal israelense
"Haaretz" relatou que houve depredação por colonos de oito vilas
palestinas na região. Não foram
registrados feridos. Em outro incidente, perto de um assentamento que não será desocupado, dois
palestinos ficaram feridos por pedras atiradas por colonos.
Israel pretende encerrar hoje
mesmo a desocupação das colônias de Sa-Nur e Homesh, no norte da Cisjordânia, encerrando a
primeira fase de seu plano unilateral de retirada. Até agora, o processo transcorreu sem incidentes
graves entre israelenses e sem ataques palestinos, mas o Exército
espera atos de violência hoje.
Jovens ultra-religiosos do movimento Chabad ameaçam atacar
as forças de segurança que farão a
desocupação. Há ainda alertas para atentados palestinos no norte
da Cisjordânia. Pelo menos 2.000
soldados fazem a vigilância da
área ao redor dos assentamentos
que serão desocupados hoje, separados por poucos quilômetros
e rodeados de aldeias palestinas,
nas montanhas da região.
Moradores de Sa-Nur afirmaram ontem que não pretendem
entrar em confronto com as forças de segurança, mas os integrantes da corrente messiânica do
Chabad dizem que vão resistir.
Eles estão reunidos numa construção antiga no centro da colônia, que já foi usada por forças
britânicas como posto policial.
"Ninguém consegue controlar
esses jovens. Eles não ouvem ninguém. Alguns deles podem ter armas de fogo", disse o deputado israelense Arie Eldad, do partido de
direita União Nacional, que se
mudou para Sa-Nur há quatro
meses para "apoiar os colonos".
Ainda restam em Sa-Nur cerca
de cem famílias, sendo apenas 38
de moradores. As demais pessoas,
inclusive estrangeiras, chegaram
ao local nos últimos meses para
protestar contra a retirada.
Os ultra-religiosos passaram a
tarde de ontem preparando a resistência. Eles levaram água, comida e pedaços de ferro para o
antigo posto britânico, que chamam de fortaleza. "As pessoas
precisam saber que a retirada é
um crime e que não vai acontecer,
porque o Messias vai chegar antes", disse o americano Yacob Cohen, 38, que veio de Nova York
para participar dos protestos.
Os manifestantes também fizeram uma oração coletiva. No final, ameaçaram agredir jornalistas e quebrar equipamentos fotográficos e de filmagem. À noite, os
jovens passaram a provocar os
soldados no portão de Sa-Nur, a
imitar barulhos de sirene com
megafones e a gritar slogans. "Vocês são o exército de defesa de Ismael", gritou um deles, em jogo
de palavras com o nome oficial
das forças israelenses e um dos
patriarcas bíblicos dos árabes.
Enquanto alguns protestavam,
em aldeias ao redor de Sa-Nur e
Homesh, palestinos celebravam a
retirada com fogos de artifício.
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