São Paulo, terça-feira, 23 de agosto de 2005

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CARIBE

Valdés pede mais quatro anos

Diplomata quer ONU mais tempo no Haiti

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O enviado especial da ONU ao Haiti, o chileno Juan Gabriel Valdés, disse ontem em Brasília que as tropas das Nações Unidas, lideradas pelo Brasil, deveriam ficar no país caribenho por mais quatro anos. Salientou que se tratava de sua opinião pessoal.
A missão da ONU no Haiti (Minustah) deve iniciar em setembro mudanças com o objetivo de reforçar a segurança da capital, Porto Príncipe, a poucas semanas das eleições presidenciais. A principal novidade será a unificação do comando dos "capacetes azuis" na capital -inclusive os 1.200 brasileiros-, que ficarão subordinados a um general jordaniano.
O Brasil continua com o comando militar da Minustah. O general gaúcho Urano Teixeira da Matta Bacellar deve assumir o cargo em 3 de setembro, no lugar do general Augusto Heleno Ribeiro Pereira -que ontem esteve na sede da ONU, em Nova York, prestando contas de sua atuação.
"O comando se mantém. O general brasileiro é o chefe militar da ONU no Haiti, com um subcomandante chileno. Subordinada aos dois, haverá uma estrutura que centralizará as ações em Porto Príncipe, que será dirigida por um general jordaniano. Por quê? Porque nos demos conta de que o tema real de segurança no Haiti é Porto Príncipe", disse Valdés.

Cronograma
A mudança deve ser implementada no final de setembro, quando chegarão mais 750 soldados jordanianos a Porto Príncipe. Com isso, a Jordânia superará o Brasil como o maior contingente de "capacetes azuis", com cerca de 1.450 homens. O aumento de tropas da ONU, de 6.700 para 7.500 militares, foi autorizado pelo Conselho de Segurança em junho, em razão do aumento de seqüestros e da violência entre gangues na região da capital haitiana.
Valdés voltou a descartar ontem o adiamento das eleições presidenciais, previstas para o final do ano. A idéia tem sido defendida por alguns analistas, que consideram que não há condições de segurança para pleitos transparentes, sobretudo em Porto Príncipe.
"Discordo absolutamente, porque nada produz mais instabilidade do que prolongar esse governo provisório", disse, ao defender que não é possível ter condições ideais dada a fragilidade do país. "Não serão eleições austríacas, serão eleições haitianas."
Otimista, Valdés disse que há bons sinais de que as eleições serão bem-sucedidas. Citou que houve, até agora, 2 milhões de eleitores inscritos de um total de cerca de 3,5 milhões. O prazo de inscrição foi estendido por mais um mês, até 15 de setembro; o primeiro turno presidencial está marcado para novembro.
O diplomata chileno também disse que 46 partidos solicitaram o registro eleitoral, entre eles o Família Lavalas, do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide -deposto em fevereiro de 2004.
Mas ontem o Lavalas ameaçou boicotar as eleições do Haiti caso Gerard Jean-Juste, visto como o provável candidato à Presidência do grupo, seja libertado da prisão. Gilles, que é padre católico, foi preso há cerca de um mês pela polícia haitiana, em investigação sobre o assassinato de um jornalista.

Dinheiro das drogas
Valdés, no entanto, demonstrou preocupação com o uso de dinheiro do narcotráfico durante a campanha eleitoral.
"Os grupos vinculados às drogas são a fonte mais perigosa de subversão e instabilidade no Haiti. Pouco avançaremos com o processo eleitoral se o dinheiro que circular na campanha eleitoral provier dos barões da droga. Pouco avançamos se desarmarmos os bandidos e, no final, as armas puderem reaparecer, financiadas pelo tráfico de drogas."


Com agências internacionais


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