São Paulo, terça-feira, 23 de agosto de 2005

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TERROR EM LONDRES

Família envia mensagem a premiê britânico em que requer punição aos responsáveis pela morte do brasileiro

Em carta a Blair, primo de Jean exige CPI

DA REDAÇÃO

Um dos primos do brasileiro Jean Charles de Menezes -morto pela polícia britânica no metrô de Londres em 22 de julho, ao ser confundido com um terrorista- entregou ontem uma carta destinada ao premiê britânico, Tony Blair, pedindo um inquérito público (processo de investigação parlamentar comparável a uma CPI no Brasil) sobre o incidente.
Cerca de 200 pessoas participaram de uma vigília em frente à residência oficial de Downing Street, para marcar um mês da morte do eletricista. Blair passa férias em Barbados.
"Estou pedindo a ele [Blair] que se assegure de que aqueles responsáveis pela morte de Jean sejam levados à Justiça", disse Alessandro Pereira, primo de Menezes, após a entrega da carta.
"A família pede igualmente uma investigação pública profunda sobre todas as circunstâncias da morte de meu primo, incluindo a política de atirar para matar e as mentiras que foram ditas pela polícia", acrescentou.
Menezes foi morto com sete tiros na cabeça e um no ombro dentro de um trem do metrô na estação de Stockwell, um dia após os atentados de 21 de julho, que não deixaram vítimas. Segundo a versão inicial da polícia, ele agia de forma suspeita, usava um casaco pesado que poderia esconder uma bomba e não atendeu às interpelações dos agentes.
O incidente ocorreu duas semanas depois que atentados a bomba em três estações de metrô e um ônibus mataram 52 pessoas na capital do Reino Unido.

Enviados
Os representantes enviados pelo governo brasileiro para acompanhar as investigações sobre as circunstâncias da morte de Menezes chegaram ontem a Londres, onde tiveram a primeira reunião com a polícia britânica.
"Estamos aqui para ver como a investigação funciona", disse o advogado Márcio Pereira Pinto Garcia, do Ministério da Justiça, ao desembarcar no aeroporto de Heathrow, acompanhado pelo subprocurador-geral da República Wagner Gonçalves.
Segundo nota divulgada pela polícia, Gonçalves e Garcia se encontraram com o vice-comissário-assistente, John Yates. O chefe da polícia, Ian Blair, participou de parte da reunião, que tratou dos protocolos da investigação.
A nota afirma ainda que o encontro foi "positivo e construtivo", segundo um porta-voz, e que a polícia reiterou o pedido de desculpas aos familiares de Menezes por sua morte.
Entre hoje e amanhã os brasileiros devem ter reunião com membros da comissão independente (IPCC) que investiga o caso. A Embaixada do Brasil em Londres negou que a intenção dos enviados seja a de realizar uma investigação paralela.
O governo brasileiro decidiu enviar os representantes depois que uma série de reportagens da imprensa britânica revelou, com base em documentos vazados do IPCC, sérias contradições na versão da polícia sobre o incidente.
Os documentos demonstram que, ao contrário do que a polícia afirmara, Menezes vestia uma jaqueta jeans e não tentou fugir dos policiais. Mostram ainda que houve falhas na identificação de Menezes como um suposto terrorista e desrespeito a uma ordem para que ele fosse capturado vivo.
Na semana passada, o IPCC afirmou que a polícia tentara inicialmente impedir uma investigação independente sobre o caso, fazendo aumentar as pressões para que o comissário Ian Blair renunciasse.
Ontem, o colunista Tim Hames do "Times" londrino defendeu a renúncia do comissário, argumentando que a conduta de Ian Blair no caso de Menezes "não inspira confiança".


Com agências internacionais

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