São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

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Força pode derrotar as Farc, diz ministro

Segundo o chanceler da Colômbia, solução militar para o conflito com guerrilha "é mais fácil" do que um acordo de paz

Fernando Araújo minimiza resistências do Congresso americano a acordos com seu país e nega concessões para libertação de reféns

CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Libertado do cativeiro das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) após seis anos de seqüestro, o chanceler colombiano, Fernando Araújo, é cético sobre a possibilidade de se chegar a um acordo de paz com a guerrilha e aposta no componente militar para garantir a vitória e a libertação de dezenas de outros reféns.
"A guerrilha que eu conheço não tem compromisso com a paz. Pude regressar à liberdade graças a um esforço militar autorizado pelo governo", diz.
Em entrevista à Folha na noite de anteontem, Araújo disse estar "tomando nota" da ajuda oferecida por países como Brasil e Venezuela, mas alerta: "A pressão deve ser contra as Farc, que são os seqüestradores, e não contra o governo colombiano". Leia a seguir.

 

FOLHA - Após ter sido mantido refém por seis anos, o sr. realmente crê que seja possível chegar a um acordo de paz ou derrotar as Farc?
FERNANDO ARAÚJO -
Creio que é mais fácil derrotá-la que chegar a um acordo de paz. Porque a guerrilha que eu conheci não tem nenhum compromisso com a paz da Colômbia. São guerrilhas que se originaram na época da Guerra Fria, que se formaram sob os princípios marxistas da congregação de todas as formas de luta e que sempre interpretam qualquer ato de generosidade do governo colombiano como um ato de fraqueza. Além disso, se financiam com o narcotráfico, que produz uma rentabilidade muito alta, e essa riqueza faz borrar a fronteira que poderia existir entre sua antiga luta política e seus atuais interesses econômicos. Se tornaram arrogantes, são fanáticos. E é muito difícil comunicar-se com fanáticos.

FOLHA - Até agora, a tentativa de derrotar a guerrilha pela via militar não funcionou.
ARAÚJO -
[interrompendo] Sim, funcionou. Fui testemunha durante seis anos de como os terroristas das Farc foram cedendo terreno militarmente. Quando me seqüestraram havia naquela região duas frentes, a 37 e a 35. Hoje elas são uma só. Conheci mais de 150 guerrilheiros que me vigiaram em diferentes períodos. Garanto que ao menos 60% deles estão mortos, presos ou desmobilizados. E não foram substituídos, porque as Farc não têm como recrutar jovens onde atuam. Estão, sim, enfraquecendo.

FOLHA - Para o sr. então a saída é aumentar a ofensiva militar?
ARAÚJO -
É o que estamos fazendo. Dentro do conceito de Segurança Democrática [política de segurança do governo Álvaro Uribe], estamos fortalecendo o Exército mediante o aumento do efetivo, da capacidade de inteligência, da modernização dos equipamentos e também do respeito dos direitos humanos e da liberdade de todos os colombianos. É diferente da teoria da segurança nacional da época das ditaduras militares, que se baseava na restrição das liberdades.

FOLHA - Como alcançar isso sem os fundos do Plano Colômbia, que sofreram corte no Congresso dos EUA?
ARAÚJO -
Recebemos fundos importantes pelo Plano Colômbia, mas a cada dia somos mais autônomos na solução de nossas necessidades militares e de todo tipo. Criamos um imposto no ano passado, pago pelas empresas com patrimônio superior a US$ 1 milhão, que vai nos permitir arrecadar nos próximos quatro anos aproximadamente US$ 4 bilhões, que vão servir para o fortalecimento de nossas forças militares.

FOLHA - Há uma forte pressão internacional pela libertação dos reféns das Farc. Essa pressão pode fazer Uribe negociar pontos que normalmente não aceitaria?
ARAÚJO -
Tem havido grande pressão, mas essa pressão deve ser contra as Farc, que são os seqüestradores, e não contra o governo colombiano. Não existe nenhum suporte moral para a ação terrorista das Farc. A Colômbia é uma democracia plena, em que todas as pessoas podem se manifestar com liberdade. Então não há motivo que justifique que grupos violentos tentem impor sua vontade contra a maioria dos colombianos.

FOLHA - A Colômbia sofreu uma derrota importante ao não conseguir aprovar o Tratado de Livre Comércio no Congresso americano...
ARAÚJO -
[interrompendo] Você está mal informada. Primeiro que não sofremos nenhuma derrota ainda, porque o tema não foi apresentado formalmente para votação no Congresso. Os congressistas democratas chegaram a um acordo com o governo Bush para incluir nos tratados de livre comércio um marco geral que fixa padrões em matéria trabalhista, ambiental e de propriedade intelectual. Esse novo marco já foi firmado entre o governo Bush e a Colômbia e acabamos de apresentá-lo ao Congresso colombiano. Depois, Bush deve colocá-lo para votação. Enquanto isso não ocorrer, não se pode falar de derrota.

FOLHA - A demora na aprovação teve algo a ver com a emergência do escândalo da parapolítica?
ARAÚJO -
Não há demora. Os acordos do Peru e do Panamá também não foram aprovados. Que o tema da parapolítica tenha surgido no debate é natural. As forças discordantes magnificam os problemas que temos na Colômbia e diminuem nossos êxitos. Mas as pessoas não se deixam enganar, e a verdade vem à tona.

FOLHA - O que veio à tona foram as evidências de vinculação de políticos, alguns aliados de Uribe, com paramilitares e da infiltração do Exército por narcotraficantes.
ARAÚJO -
Todas essas coisas saíram à luz pública pelo firme compromisso do governo colombiano em que se conheça a verdade e se castiguem os responsáveis pelos atos ilícitos. As pessoas próximas a Uribe estão sendo processadas pela Justiça com o respaldo do governo.


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