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Análise
Tática de Obama e opinião pública americana em risco
Relatos de fraude no pleito afegão minam respaldo à guerra nos EUA mais hoje que no passado
DO "FINANCIAL TIMES"
Após a eleição presidencial
afegã na última quinta, funcionários americanos aguardavam
ansiosamente os primeiros resultados em meio a sinais de
que tanto o público americano
como a elite política dos EUA
têm cada vez menos paciência
com a estratégia adotada pelo
presidente Barack Obama.
Obama, que durante a semana que passou qualificou o conflito de "uma guerra necessária", não uma opção, diz que o
pleito é o evento mais importante do ano no Afeganistão
-mais até mesmo que o aumento de soldados e da ajuda
ao país que autorizou.
Anteontem, o presidente
exaltou a eleição como "um importante passo" diante as
ameaças do Taleban e disse que
os EUA atingirão seus objetivos, e "os nossos soldados poderão então voltar para casa".
Mas diplomatas americanos
dizem que a percepção disseminada de fraude eleitoral, a
intimidação e a corrupção podem comprometer ainda mais
o apoio doméstico a um conflito consideravelmente menos
popular que há alguns meses.
Em pesquisas de opinião divulgadas neste mês pela emissora CNN e pelo jornal "Washington Post", mais da metade
das pessoas que responderam
disseram opor-se à guerra ou
achar que ela não vale a pena.
O governo Obama contribuiu
para a controvérsia sobre o Afeganistão ao externar, durante
os seus primeiros meses, a
preocupação com as acusações
de corrupção no governo do
presidente Hamid Karzai.
Críticos esquerdistas como o
senador Russ Feingold têm
questionado a decisão de Obama de enviar mais 21 mil soldados -medida que teria "americanizado" a guerra, já que levará os EUA a terem mais de 60
mil homens, ou dois terços de
todas as forças estrangeiras.
Mas o significado real do aumento do compromisso dos
EUA só agora está sendo percebido em casa, com os 44 soldados americanos que foram
mortos no Afeganistão só no
mês de julho, mais do que em
qualquer outro mês anterior.
E a disputa política americana sobre a guerra provavelmente se tornará mais intensa,
uma vez que se espera que o general Stanley McChrystal, comandante das forças no país,
peça ainda mais 10 mil homens.
O secretário da Defesa dos
EUA, Robert Gates, já indicou
haver complicadores para tal
medida -apontando sua preocupação com que uma força
mais numerosa possa parecer
uma ocupação para afegãos comuns. Mas o senador John
McCain, rival de Obama na corrida à Casa Branca, já defendeu
o aumento de soldados.
As divergências sobre a guerra no Afeganistão são comparáveis ao consenso sobre a guerra
no Iraque, em que defensores e
críticos apoiaram o cronograma de retirada dos EUA, apesar
dos violentos atentados em série da semana passada, que expuseram as dificuldades do país
em promover a segurança.
Richard Haas, presidente do
think tank Council on Foreign
Relations, contestou a visão de
Obama de que a guerra no Afeganistão é "necessária". "Nós
não precisamos, por exemplo,
realizar operações de combate
em terra", disse. "Poderíamos
simplesmente fazer no Afeganistão o que fazemos no Paquistão, com aviões-robô. Ou
podemos fazer até menos."
Mas, pelo contrário, a atual
estratégia americana pretende
promover a governança no Afeganistão, combater o narcotráfico e aumentar a segurança.
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