São Paulo, domingo, 23 de agosto de 2009

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Análise

Tática de Obama e opinião pública americana em risco

Relatos de fraude no pleito afegão minam respaldo à guerra nos EUA mais hoje que no passado

DO "FINANCIAL TIMES"

Após a eleição presidencial afegã na última quinta, funcionários americanos aguardavam ansiosamente os primeiros resultados em meio a sinais de que tanto o público americano como a elite política dos EUA têm cada vez menos paciência com a estratégia adotada pelo presidente Barack Obama.
Obama, que durante a semana que passou qualificou o conflito de "uma guerra necessária", não uma opção, diz que o pleito é o evento mais importante do ano no Afeganistão -mais até mesmo que o aumento de soldados e da ajuda ao país que autorizou.
Anteontem, o presidente exaltou a eleição como "um importante passo" diante as ameaças do Taleban e disse que os EUA atingirão seus objetivos, e "os nossos soldados poderão então voltar para casa".
Mas diplomatas americanos dizem que a percepção disseminada de fraude eleitoral, a intimidação e a corrupção podem comprometer ainda mais o apoio doméstico a um conflito consideravelmente menos popular que há alguns meses.
Em pesquisas de opinião divulgadas neste mês pela emissora CNN e pelo jornal "Washington Post", mais da metade das pessoas que responderam disseram opor-se à guerra ou achar que ela não vale a pena.
O governo Obama contribuiu para a controvérsia sobre o Afeganistão ao externar, durante os seus primeiros meses, a preocupação com as acusações de corrupção no governo do presidente Hamid Karzai.
Críticos esquerdistas como o senador Russ Feingold têm questionado a decisão de Obama de enviar mais 21 mil soldados -medida que teria "americanizado" a guerra, já que levará os EUA a terem mais de 60 mil homens, ou dois terços de todas as forças estrangeiras.
Mas o significado real do aumento do compromisso dos EUA só agora está sendo percebido em casa, com os 44 soldados americanos que foram mortos no Afeganistão só no mês de julho, mais do que em qualquer outro mês anterior.
E a disputa política americana sobre a guerra provavelmente se tornará mais intensa, uma vez que se espera que o general Stanley McChrystal, comandante das forças no país, peça ainda mais 10 mil homens.
O secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, já indicou haver complicadores para tal medida -apontando sua preocupação com que uma força mais numerosa possa parecer uma ocupação para afegãos comuns. Mas o senador John McCain, rival de Obama na corrida à Casa Branca, já defendeu o aumento de soldados.
As divergências sobre a guerra no Afeganistão são comparáveis ao consenso sobre a guerra no Iraque, em que defensores e críticos apoiaram o cronograma de retirada dos EUA, apesar dos violentos atentados em série da semana passada, que expuseram as dificuldades do país em promover a segurança.
Richard Haas, presidente do think tank Council on Foreign Relations, contestou a visão de Obama de que a guerra no Afeganistão é "necessária". "Nós não precisamos, por exemplo, realizar operações de combate em terra", disse. "Poderíamos simplesmente fazer no Afeganistão o que fazemos no Paquistão, com aviões-robô. Ou podemos fazer até menos."
Mas, pelo contrário, a atual estratégia americana pretende promover a governança no Afeganistão, combater o narcotráfico e aumentar a segurança.


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