|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUROPA
Socialista português, presidenciável aos 81, se diz "pronto para lutar no limite" de suas possibilidades
Para Mário Soares, esquerda européia avança
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O veterano socialista português
Mário Soares, 81, está em campanha por um terceiro mandato como presidente de seu país. As eleições serão em janeiro. Esteve ontem em São Paulo para contatos
com a comunidade portuguesa.
Desde 1976, foi por duas vezes
primeiro-ministro, por duas outras presidente da República e deputado no Parlamento Europeu.
Disse à Folha que o apelo à ordem, como forma de combate ao
terrorismo islâmico, poderia aparentemente beneficiar os conservadores em detrimento das esquerdas. Mas, a seu ver, a ordem
inexiste no Iraque, e os bons efeitos virão com valores como a solidariedade contra os atentados
terroristas ou ambientais.
Anunciou sua candidatura presidencial em 30 de agosto. Terá
como principal adversário o economista liberal e ex-primeiro-ministro Aníbal Cavaco e Silva.
Eis trechos de sua entrevista.
Folha - Para muitos, o PS não
criou novas lideranças, e foi por isso que o sr. se lançou candidato.
Mário Soares - Não apareceram
até este momento pessoas em
condições de ganhar a eleição de
janeiro. [Outro socialista, Manuel
Alegre, havia se apresentado, mas
depois retirou sua candidatura].
Folha - Como relacionar sua candidatura com o que chama de baixa
auto-estima dos portugueses?
Soares - Há hoje em Portugal o
risco de que, em vez de se cultivarem os valores da democracia,
prevaleça a tendência de manter o
olho nas finanças, no FMI. Há um
desencorajamento da sociedade.
Folha - Os socialistas e social-democratas europeus estão numa
curva descendente?
Soares - Neste momento, com a
falência do neoliberalismo, as esquerdas européias estão a avançar, como se viu nas últimas eleições na Alemanha e na Noruega.
Folha - Mas a "falência do neoliberalismo" não é consensual.
Soares - Os neoliberais ainda
não a aceitaram, mas há a criação
de mais miséria e a concentração
das riquezas nas mãos de um número menor de pessoas. As pessoas reagem contra essa injustiça.
Folha - Foi a seu ver por causa da
tese do Estado mínimo que o governo americano lidou mal com o
furacão Katrina?
Soares - É um exemplo de como
o neoliberalismo gera tragédias.
Folha - O Iraque foi um divisor de
águas da diplomacia européia?
Soares - Tem sido um fator sério
de divisões.
Folha - O terrorismo islâmico bastante ativo não prejudicaria as esquerdas, já que os conservadores
sempre terão razão ao apelar em
favor da ordem?
Soares - Essas forças conservadoras podem apelar em favor da
ordem, mas isso não significa que
a ordem acabará prevalecendo,
como se vê no Iraque. Ou o mundo evolui amparado por valores
éticos, de solidariedade entre os
seres humanos contra os atentados terroristas ou ambientais, ou
então ocorrerão grandes convulsões. Aqueles que têm regalias
não gostam de as perder.
Folha - O sr. manteve contato
com o presidente Lula?
Soares - Não, não mantive.
Folha - O sr. criticou há pouco a
ênfase nas finanças. Seria esse o
quadro do atual governo no Brasil?
Soares - O Brasil está numa posição radical de criar expansão
[crescimento econômico] para
conservar as medidas sociais que
foram prometidas. E eu espero
que isso aconteça, se depender da
vontade do presidente Lula. Eu
também tenho dito que o Brasil e
o presidente Lula não mereciam
isso que está a passar, essa doentia
especulação acerca dos problemas da corrupção. É preciso fazer
justiça, mas só depois de a justiça
feita é que se pode posicionar.
Folha - O sr. acredita que virá a
ser eleito novamente presidente? E
de modo tranqüilo ou difícil?
Soares - Acredito na vitória. Espero que seja tranqüila. Estou
pronto para lutar no limite de minhas possibilidades.
Texto Anterior: Alemanha vota: Schröder e Merkel se reúnem, mas não põem fim ao impasse político Próximo Texto: Frase Índice
|