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Capital da Índia passa por explosão urbanística inédita
Crescimento econômico em país ultrapopuloso faz de Nova Déli gigantesco canteiro de obras de infra-estrutura
Apesar de fluxo para cidades ter crescido, cerca de 70%
da população indiana ainda vive no campo; país domina ranking de megalópoles
Manan Vatsyayana-20.set.2007/France Presse
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Operários em obra de Gurgaon, onde pipocam sedes de empresas |
VINICIUS MOTA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI
Há algo nas ruas da capital da
Índia além dos riquixás adaptados de bicicletas e lambretas,
do incessante grito das buzinas,
de manobras arrojadas no trânsito e da profusão de pedestres.
Nova Déli vive uma efervescência urbanística provavelmente
inédita em sua história.
O ritmo e a escala de grandes
obras públicas impressionam.
Vias elevadas (os minhocões),
que já integravam a paisagem
urbana, estão sendo construídas no atacado. A previsão é
que ao menos 50 novas estejam
prontas até 2010.
Canteiros de obras do metrô
impõem constantes desvios ao
tráfego. A primeira estação foi
inaugurada em 2002. Cinco
anos depois, os cerca de 60 km
da rede metroviária já a igualam, em extensão, à de São Paulo (cujo primeiro trecho passou
a operar em 1974). Em três
anos, o metrô da capital indiana
vai quase dobrar de tamanho.
O frenesi de betoneiras,
gruas, operários e solo revolvido não é exclusividade do setor
público. Em Gurgaon, localidade vizinha ao sul de Nova Déli,
grandes empresas instaladas
no país constroem suas sedes.
Brotam shopping centers e
condomínios de luxo, quase todos no estilo duvidoso dos espigões espelhados presentes em
tantas outras grandes cidades.
Vila olímpica
Como ocorreu com o Rio de
Janeiro, muitas das reformas
se destinam a prepará-la para
um grande evento desportivo.
A capital hospedará em 2010 os
Jogos da Commonwealth (grupo das ex-colônias britânicas
mais Reino Unido e Moçambique). Entre as instalações esportivas e de infra-estrutura
em obras, uma vila olímpica para 8.500 pessoas está sendo erguida às margens do rio Yamuna, que corta a cidade.
Outro vetor importante das
mudanças urbanas em Nova
Déli é o Plano Diretor para
2021, publicado em fevereiro. O
texto, que tem força de lei, preconiza grandes intervenções
em praticamente todos os aspectos da vida na metrópole.
"Nossa estimativa é que em
2021 tenhamos 23 milhões de
habitantes [hoje são pouco
mais de 16 milhões]. É para esse
contingente que estamos planejando moradia, água potável,
serviços, lazer, escolas, hospitais", afirma Dinesh Rai, vice-presidente da DDA (sigla em
inglês para a agência de desenvolvimento de Nova Déli).
Em seu aspecto politicamente mais delicado, o plano propõe uma grande rodada de regularização de assentamentos
ilegais. O governo calcula que
60% das habitações na área
metropolitana estejam em situação irregular. Há também
um forte incentivo à verticalização da capital -onde predominam prédios baixos- e à diminuição das áreas mínimas
admitidas em residências.
Na tentativa de transformar
Nova Déli numa cidade de "primeira classe", vale quebrar tabus e convocar o mercado -antes do novo plano, a oferta de
terrenos e casas era monopólio
do Estado. "Pela primeira vez, o
setor privado poderá nos ajudar a criar as 2,4 milhões de
unidades habitacionais de que
Déli precisará até 2021", diz Ashok Kumar, urbanista da DDA.
Construtoras agora podem
fazer ofertas a moradores de
determinadas áreas degradadas em troca da permissão para
demolir as casas e erguer no lugar torres de apartamentos.
Megacidades
Nova Déli não é a única cidade da Índia a enfrentar os problemas típicos das maiores
aglomerações urbanas. O país é
o único a emplacar três regiões
metropolitanas no ranking das
dez mais populosas do planeta.
A confirmarem-se as previsões
da ONU, em dez anos a população somada de Mumbai (antiga
Bombaim), Nova Déli e Calcutá
será da ordem de 60 milhões.
Se fosse um país sul-americano, esse contingente, que não
ultrapassa 5% da população indiana, só seria menos populoso
do que o Brasil. Embora prevista uma desaceleração na taxa
de crescimento das megacidades da Ásia emergente, elas
continuarão a inchar mais rápido do que suas congêneres. Nova Déli deve superar São Paulo
em menos de 20 anos.
A região metropolitana de
Mumbai -o maior centro empresarial da Índia e segunda
mais populosa metrópole do
mundo- terá de criar 100 mil
novas residências ao ano no fim
da próxima década. Hoje produz 40 mil. A oferta de água potável nesse aglomerado urbano
precisa dobrar em quatro anos
para suprir tais necessidades.
No horário de pico da manhã,
os famosos trens que chegam
ao centro da antiga Bombaim
carregam em média 4.000 pessoas em cada composição -feita para transportar, no máximo, 1.750. Em 20 anos, a frota
de veículos motorizados em
Nova Déli sextuplicou.
A aceleração do crescimento
econômico da Índia -a média
de 5,1% ao ano de 1999 a 2002
saltou para 8,3% no período seguinte- deve acelerar, também, a necessidade de investimentos maciços em infra-estrutura urbana. A instabilidade
na oferta de eletricidade, por
exemplo, já é uma realidade para milhões de moradores das
megacidades indianas.
O jornalista VINICIUS MOTA viajou a convite do
Ministério das Relações Exteriores da Índia
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