São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Capital da Índia passa por explosão urbanística inédita

Crescimento econômico em país ultrapopuloso faz de Nova Déli gigantesco canteiro de obras de infra-estrutura

Apesar de fluxo para cidades ter crescido, cerca de 70% da população indiana ainda vive no campo; país domina ranking de megalópoles

Manan Vatsyayana-20.set.2007/France Presse
Operários em obra de Gurgaon, onde pipocam sedes de empresas


VINICIUS MOTA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

Há algo nas ruas da capital da Índia além dos riquixás adaptados de bicicletas e lambretas, do incessante grito das buzinas, de manobras arrojadas no trânsito e da profusão de pedestres. Nova Déli vive uma efervescência urbanística provavelmente inédita em sua história.
O ritmo e a escala de grandes obras públicas impressionam. Vias elevadas (os minhocões), que já integravam a paisagem urbana, estão sendo construídas no atacado. A previsão é que ao menos 50 novas estejam prontas até 2010.
Canteiros de obras do metrô impõem constantes desvios ao tráfego. A primeira estação foi inaugurada em 2002. Cinco anos depois, os cerca de 60 km da rede metroviária já a igualam, em extensão, à de São Paulo (cujo primeiro trecho passou a operar em 1974). Em três anos, o metrô da capital indiana vai quase dobrar de tamanho.
O frenesi de betoneiras, gruas, operários e solo revolvido não é exclusividade do setor público. Em Gurgaon, localidade vizinha ao sul de Nova Déli, grandes empresas instaladas no país constroem suas sedes. Brotam shopping centers e condomínios de luxo, quase todos no estilo duvidoso dos espigões espelhados presentes em tantas outras grandes cidades.

Vila olímpica
Como ocorreu com o Rio de Janeiro, muitas das reformas se destinam a prepará-la para um grande evento desportivo. A capital hospedará em 2010 os Jogos da Commonwealth (grupo das ex-colônias britânicas mais Reino Unido e Moçambique). Entre as instalações esportivas e de infra-estrutura em obras, uma vila olímpica para 8.500 pessoas está sendo erguida às margens do rio Yamuna, que corta a cidade.
Outro vetor importante das mudanças urbanas em Nova Déli é o Plano Diretor para 2021, publicado em fevereiro. O texto, que tem força de lei, preconiza grandes intervenções em praticamente todos os aspectos da vida na metrópole.
"Nossa estimativa é que em 2021 tenhamos 23 milhões de habitantes [hoje são pouco mais de 16 milhões]. É para esse contingente que estamos planejando moradia, água potável, serviços, lazer, escolas, hospitais", afirma Dinesh Rai, vice-presidente da DDA (sigla em inglês para a agência de desenvolvimento de Nova Déli).
Em seu aspecto politicamente mais delicado, o plano propõe uma grande rodada de regularização de assentamentos ilegais. O governo calcula que 60% das habitações na área metropolitana estejam em situação irregular. Há também um forte incentivo à verticalização da capital -onde predominam prédios baixos- e à diminuição das áreas mínimas admitidas em residências.
Na tentativa de transformar Nova Déli numa cidade de "primeira classe", vale quebrar tabus e convocar o mercado -antes do novo plano, a oferta de terrenos e casas era monopólio do Estado. "Pela primeira vez, o setor privado poderá nos ajudar a criar as 2,4 milhões de unidades habitacionais de que Déli precisará até 2021", diz Ashok Kumar, urbanista da DDA.
Construtoras agora podem fazer ofertas a moradores de determinadas áreas degradadas em troca da permissão para demolir as casas e erguer no lugar torres de apartamentos.

Megacidades
Nova Déli não é a única cidade da Índia a enfrentar os problemas típicos das maiores aglomerações urbanas. O país é o único a emplacar três regiões metropolitanas no ranking das dez mais populosas do planeta. A confirmarem-se as previsões da ONU, em dez anos a população somada de Mumbai (antiga Bombaim), Nova Déli e Calcutá será da ordem de 60 milhões.
Se fosse um país sul-americano, esse contingente, que não ultrapassa 5% da população indiana, só seria menos populoso do que o Brasil. Embora prevista uma desaceleração na taxa de crescimento das megacidades da Ásia emergente, elas continuarão a inchar mais rápido do que suas congêneres. Nova Déli deve superar São Paulo em menos de 20 anos.
A região metropolitana de Mumbai -o maior centro empresarial da Índia e segunda mais populosa metrópole do mundo- terá de criar 100 mil novas residências ao ano no fim da próxima década. Hoje produz 40 mil. A oferta de água potável nesse aglomerado urbano precisa dobrar em quatro anos para suprir tais necessidades.
No horário de pico da manhã, os famosos trens que chegam ao centro da antiga Bombaim carregam em média 4.000 pessoas em cada composição -feita para transportar, no máximo, 1.750. Em 20 anos, a frota de veículos motorizados em Nova Déli sextuplicou.
A aceleração do crescimento econômico da Índia -a média de 5,1% ao ano de 1999 a 2002 saltou para 8,3% no período seguinte- deve acelerar, também, a necessidade de investimentos maciços em infra-estrutura urbana. A instabilidade na oferta de eletricidade, por exemplo, já é uma realidade para milhões de moradores das megacidades indianas.


O jornalista VINICIUS MOTA viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores da Índia

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