São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Pós-feministas fazem de cabelos grisalhos seu libelo

Mulheres da geração pós-Segunda Guerra deixam de tingir fios para se auto-afirmarem ante jugo da juventude eterna

Autora de livro sobre tema diz fazer mais sucesso entre os homens com os cabelos naturais, mas êxito não se repete no lado profissional

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Desde 1968, quando, reza o mito, queimaram sutiãs em praça pública, as mulheres americanas da geração "baby boom" contabilizam muitas conquistas. Desbravaram o mercado de trabalho, assumiram sua sexualidade, tomaram as rédeas da sua vida amorosa.
Em 2008, uma representante dessa fatia da população poderá chegar à Presidência dos EUA -a democrata Hillary Clinton tem aparecido como favorita entre os pré-candidatos de seu partido. Mas ainda há um campo onde a batalha está só começando: os cabelos.
Ao chegarem à maturidade, as "baby boomers" estão deixando de tingir os fios para ostentá-los grisalhos ou brancos. Para elas, essa é uma forma de se libertar da exigência de parecer infalivelmente jovem e sedutora e começar a botar abaixo os padrões estéticos que lhes são impostos pela sociedade.
A escritora Anne Kreamer, 51, não empunhava bandeiras feministas, porém sempre foi exemplo de modernidade e sucesso como profissional -chegou a diretora criativa mundial do canal de TV infantil Nickelodeon-, esposa e mãe. "Uma amiga me mandou uma foto em que estávamos eu, ela e minha filha Katherine, de 16 anos. Vi a imagem e me dei conta de que não estava enganando ninguém sobre minha idade. Eu era uma senhora de 49 anos que tingia demais os cabelos."
A revelação deu origem a uma jornada de pesquisas sobre o assunto que culminou no livro "Going Gray: What I Learned About Beauty, Sex, Work, Motherhood, Authenticity and Everything Else That Really Matters" (ficando grisalha: o que eu aprendi sobre beleza, sexo, trabalho, maternidade, autenticidade e todo o resto que realmente importa), lançado neste mês nos EUA e sem previsão de chegada ao Brasil.
Anne resolveu averiguar se a cor do cabelo realmente faz diferença na maneira como as mulheres são vistas. E teve uma surpresa. Cadastrou dois perfis num site de relacionamentos: um com foto na qual aparecia de fios castanhos e outro com foto deles brancos. "O segundo recebeu três vezes mais propostas de encontro", diz. "Talvez, ao verem que eu estava sendo honesta sobre a cor do meu cabelo, os homens me tenham achado mais acessível."

Preconceito
Sentimentalmente as coisas não se apresentaram tão difíceis, mas o mesmo não foi observado nas relações de trabalho. "Entrevistei diversos "headhunters" e nenhum deles conseguiu se lembrar de uma executiva grisalha", relata.
No caso das que atuam no mercado financeiro, é mais aceito, nota Diana Lewis Jewell. "Porque assim elas passam a imagem de experiência e confiabilidade", explica a autora do livro "Going Gray, Looking Great" (ficando grisalha, parecendo ótima), de 2004.
Uma discussão "ridícula", na opinião de Christina Hoff Sommers, filósofa e pesquisadora do feminismo. "No Irã, as cidadãs são impedidas de dar a conhecer e exercitar qualquer traço da sua personalidade, são obrigadas a andar completamente cobertas. Isso sim é uma luta que merece ser abraçada. Pintar ou não o cabelo é mera questão de gosto, estilo", diz.
Já para Chrisy Moutsatsos, professora do Programa de Estudos das Mulheres da Universidade Estadual de Iowa, o problema é mais profundo: "É um ato de resistência contra a obsessão pela aparência, pelo padrão único do que é bonito".

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