|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Oposição atrasa acordo final na Bolívia
Governadores rejeitam pela segunda vez convocação imediata de referendos sobre nova Carta, precondição de Morales
Bases autonomistas radicais pressionam os dirigentes oposicionistas; quinta-feira é novo prazo para conclusão de negociação com governo
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
O presidente da Bolívia, Evo
Morales, viajou ontem a Nova
York para participar da Assembléia Geral da ONU deixando a
rodada de diálogo com os governadores oposicionistas num
momento de especial fragilidade, após a segunda recusa da
oposição a aceitar um prazo para a convocação dos referendos
que faltam para promulgar o
novo texto constitucional.
As divergências sobre a nova
Carta, aprovada pelos constituintes governistas em 2007 e
ponto central da crise boliviana, colocaram, como se esperava, La Paz e os governadores de
oposição em lados opostos.
A negociação não foi encerrada, mas tem agora um prazo estreito: a volta de Morales ao
país, na quinta-feira.
Os governadores voltaram
ontem a seus departamentos.
Embora, oficialmente, tenham
dito que só aceitarão a Carta se
ela contiver "autonomia plena"
para as regiões, seus aliados
não estão de acordo.
"O texto que o governo quer é
ilegal e os problemas vão muito
além das autonomias. Queremos uma revisão completa,
uma nova Constituinte", disse
à Folha o deputado cruzenho
Pablo Klinsky (Podemos, direita), presidente da "brigada parlamentar" do departamento
que leva adiante, à revelia de La
Paz, a implementação da autonomia administrativa.
Klinsky foi além, desautorizando o governador de Santa
Cruz, Rubén Costas, a falar pela região sobre a Carta. "Costas
está conosco, mas não poderia,
se quisesse, assinar nada. Não é
da competência dele falar de
uma Constituição que já rejeitamos em cabildos [assembléias populares]."
Engrossou o coro o empresário Branko Marinkovic, presidente do poderoso Comitê Cívico que reúne a elite econômica de Santa Cruz: "O que [Morales] propõe é inaceitável".
Cerco a Santa Cruz
Ontem, o governo repetiu
que o compromisso dos governadores oposicionistas dos departamentos de Santa Cruz,
Beni, Tarija e Chuquisaca com
o texto constitucional é a condição exigida por movimentos
sociais -camponeses, cocaleiros, indígenas, mineiros, todos
aliados ao governo- para desbloquearem as estradas que levam a Santa Cruz.
Vários integrantes do governo -do ministro da Justiça ao
vice-presidente, Álvaro García
Linera- repetiram que não
têm controle sobre a mobilização e descartaram reprimir a
passeata de estimadas 20 mil
pessoas até o centro cruzenho.
Até a rádio Erbol, próxima do
governo, publicou em seu site o
temor da população de Santa
Cruz em relação à marcha.
Muitos dos manifestantes levam escopetas e velhos rifles.
Um grupo de cruzenhos tentaria conversar com os ativistas
para desarmá-los. "Somos pacíficos, mas temos direito à legítima defesa, com armas iguais às
deles", disse Klinsky.
Os líderes dos movimentos
sociais pró-Morales aceitam
mexer no tema das autonomias, mas, como o governo, não
abrem mão das autonomias indígenas -que diminuirão o poder dos governadores- e nem
cogitam mexer no limite de
área para propriedades rurais.
García Linera cobrou da oposição "um banho de realidade"
para que reconheça que, como
minoria política, não tem poder
para "vetar" o novo texto constitucional. É uma referência ao
fato de Morales ter sido confirmado no cargo, em agosto, por
67,4% dos eleitores.
Antes de viajar, o presidente
pediu a concordância da oposição à Carta até quinta-feira. Ele
falou ao lado dos representantes da OEA (Organização dos
Estados Americanos) e da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). Os chamados "facilitadores" do diálogo lamentaram que as partes ainda não
tenham chegado a um acordo,
sempre em tom de forte respaldo ao governo boliviano.
A Unasul anunciou que fará
uma reunião amanhã na ONU,
em Nova York, para discutir a
situação da Bolívia.
Texto Anterior: Afeganistão: França aprova envio de novo contingente Próximo Texto: Zuma sugere presidente interino da África do Sul Índice
|