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Honduras sitia Zelaya em missão do Brasil
Forças de segurança dispersam apoiadores do presidente deposto, e embaixada brasileira tem luz, água e telefone cortados
Líder golpista dá garantia de que representação não será invadida; polícia detém 150 pessoas, e ex-chanceler de Zelaya já fala em "mortos"
Esteban Felix/Associated Press
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Apoiadores de Zelaya tentam proteger-se de bombas de gás lacrimogêneo em frente à Embaixada do Brasil; deposto antevê "atos piores, inclusive uma invasão"
DA REDAÇÃO
Forças de segurança cercaram ontem a Embaixada do
Brasil em Honduras, onde o
presidente deposto Manuel Zelaya está refugiado desde anteontem, após entrarem em
confronto com partidários de
Zelaya, que haviam se aglomerado em frente à representação
na véspera para comemorar o
regresso do mandatário.
Utilizando bombas de gás lacrimogêneo, soldados e policias
obrigaram cerca de 4.000 manifestantes pró-Zelaya a deixar
os arredores da representação
do Brasil em Tegucigalpa e ocuparam prédios contíguos, enquanto helicópteros sobrevoavam o local. Manifestantes reagiram atirando pedras, e ao menos 20 pessoas ficaram feridas.
Durante a madrugada, o governo golpista cortara água, luz
e telefone da casa de dois andares que abriga a representação,
deixando as estimadas 303 pessoas presentes -depois reduzidas a 70- na dependência de
um gerador de energia a diesel.
Ao menos duas bombas de
gás lacrimogêneo foram jogadas contra a embaixada brasileira durante a dispersão, mas
não houve relatos de feridos.
Em clima de tensão, durante
o dia de ontem forças de segurança patrulharam ruas de Tegucigalpa para garantir o cumprimento do toque de recolher
decretado pelo governo golpista depois da confirmação da
volta do deposto, estendido ao
menos até hoje.
Segundo a polícia, cerca de
150 pessoas foram presas por
desrespeito ao toque de recolher e por participação em distúrbios -que incluíram ataque
a veículos das forças de segurança- e levados a um estádio
de beisebol. Foram fechados
também os quatro aeroportos
internacionais hondurenhos e
postos de controle na fronteira.
A emissora pró-Zelaya Canal
36 teve a energia elétrica cortada e não realizava transmissões
desde a noite de segunda. Para
o governo golpista, a imprensa
realiza "terrorismo midiático".
O presidente deposto, que
adotou o bordão "pátria, restituição ou morte", disse que o
cerco à representação permitia
"antever atos piores de agressão e violência, inclusive a invasão da Embaixada do Brasil".
"Sabemos que estamos em
perigo. [Mas] estamos dispostos a arriscar tudo, a nos sacrificar", disse Zelaya, que convocou partidários a Tegucigalpa.
O líder golpista, Roberto Micheletti, rejeitou, porém, uma
invasão: "Digo publicamente
ao presidente Lula, respeitaremos sua sede, porque é terra do
Brasil, e nós a respeitaremos".
Micheletti elogiou pedido de
Lula a Zelaya para que não promova atos que deem argumentos a uma invasão, mas voltou a
cobrar de Brasília que conceda
asilo ao deposto -o que Zelaya
rejeita- ou então o entregue à
Justiça hondurenha para a realização do "devido processo".
O governo Micheletti rejeita
a versão de que tenha destituído Zelaya por meio de golpe e
acusa o deposto de ter desrespeitado a Constituição do país
ao tentar levar a cabo uma consulta para promover referendo
junto com a eleição do próximo
dia 29 de novembro. Para o governo interino, a medida visava
permitir a reeleição de Zelaya.
Em Nova York, a chanceler
de Zelaya, Patricia Rodas, disse
que "a repressão visa o povo
hondurenho" e que, além dos
feridos, "já estão por ser confirmadas mortes", entre as quais a
de uma criança que aparentemente morreu devido à fumaça
causada por gás lacrimogêneo.
Rodas exortou ainda países a
restaurar os embaixadores retirados de Honduras, para apoiar
o retorno de Zelaya ao poder.
Mediação
Devido ao retorno unilateral
de Zelaya, Micheletti deu ainda
por encerrada a mediação da
crise realizada pelo presidente
da Costa Rica, Óscar Arias.
Já os candidatos ao pleito de
novembro ofereceram-se ontem como "interlocutores" entre as partes e exortaram Micheletti e Zelaya ao diálogo. O
candidato Porfirio Lobo, direitista que havia respaldado o
golpe, ameaçou retirar o apoio
se o líder golpista não dialogar.
Com agências internacionais
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