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Búlgara é escolhida para dirigir Unesco
Na quinta votação, Irina Bokova vence egípcio Farouk Hosny, apoiado pelo Brasil, para direção-geral de órgão da ONU
Pesaram na eleição origem no Leste Europeu e acusação de antissemitismo contra o rival; neste ano Brasil já fora derrotado em pleito na AIEA
DA SUCURSAL DO RIO
A búlgara Irina Bokova venceu ontem a disputa para a direção-geral da Unesco, a organização da ONU para a ciência,
a educação e a cultura. Na quinta e última votação no Conselho Executivo da entidade, Bokova, 57, teve o apoio de 31 países, contra 27 que ficaram com
o egípcio Farouk Hosny, apoiado pelo Brasil e antigo favorito.
Ex-comunista, Bokova é embaixadora na Unesco e diplomata desde o período em que a
Bulgária pertencia ao extinto
bloco soviético. Estudou relações internacionais em Moscou, e seu pai foi alto dirigente
do PC búlgaro, reformado como Partido Socialista.
Entre nove candidatos, ela
ganhou força na última semana
e foi beneficiada por dois fatores: a rejeição a Hosny, que foi
acusado de antissemitismo, e a
origem no Leste Europeu, um
dos dois blocos geográficos (o
outro é o dos países árabes) que
nunca comandaram a entidade.
O Itamaraty não quis comentar a vitória de Bokova, que deverá ser referendada no início
de outubro pela conferência geral dos 193 países-membros.
Para apoiar Hosny, em nome
da aproximação entre a América do Sul e os países árabes, o
governo descartou a candidatura do brasileiro Márcio Barbosa
-que presidiu o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
no governo Fernando Henrique Cardoso, chegou por concurso à posição de vice-diretor
da Unesco e queria concorrer.
Durante a campanha, no entanto, o Brasil não conseguiu a
adesão unânime dos sul-americanos a Hosny, ministro da
Cultura egípcio. O Equador
lançou Ivonne Baki, presidente
do Parlamento andino, que
chegou a ter apoio dos EUA e
dividiu os dez países latino-americanos e caribenhos que
estão no Conselho Executivo.
Neste ano, um candidato
apoiado pelo Brasil, sul-africano, já fora derrotado na disputa
pelo comando de outra organização importante da ONU, a
AIEA (Agência Internacional
de Energia Atômica).
O Egito apostou todo o esforço diplomático na eleição de
Hosny. Mas, em maio último,
ele foi acusado de antissemitismo, quando veio à tona que dissera que queimaria livros em
hebraico encontrados em instituições oficiais. Hosny negou a
acusação e disse que a intenção
era calar opositor da Irmandade Muçulmana que o interpelara sobre o tema e propagandeava a reforma de sinagogas.
Bokova substituirá o japonês
Koichiro Matsuura, que encerra o segundo mandato de cinco
anos. Ontem, ela disse não
acreditar que o processo eleitoral tenha sido um "choque de
civilizações".
(CLAUDIA ANTUNES)
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