São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAIBA MAIS

Problemas no "New York Times" vêm de longe

DA REPORTAGEM LOCAL

No longínquo dia 4 de novembro de 2000, o jornal "The New York Times" escreveu um editorial sobre o futebol brasileiro em que chamava, no texto inteiro, Ronaldo de Romário. Este era o menor de seus problemas. Na mesma época, viria à tona o "escândalo do espião chinês", reportagens baseadas em dados dúbios do FBI que afirmavam que o cientista Wen Ho Lee, que trabalhava no Laboratório Nacional de Los Alamos, era espião. Ele seria solto depois, livre das acusações.
Mas o pior estava por vir. Jayson Blair, então um jovem repórter em ascensão, foi pego em flagrante, e, na primeira do que viria a ser uma série de "reportagens-erramos", o jornal admitiu que Blair errou, plagiou ou mentiu em 36 situações, pelo menos. Foi demitido, e com ele caíram os principais executivos da Redação.
O golpe, chamado pelo próprio publisher, Arthur Sulzberger Jr., de "o ponto baixo nos 152 anos de história do jornal", abriu uma crise interna sem precedentes, que reverberou nos leitores e culminou na criação do cargo de "public editor", ou ombudsman, em outubro de 2003, cujo primeiro ocupante foi Daniel Okrent.
Uma de suas colunas mais violentas foi publicada em 30 de maio, com o título "Armas de destruição em massa? Ou distração em massa?", em que ele questionava as fontes e o relacionamento com o poder da jornalista que publicou as principais reportagens sobre o assunto pré-invasão do Iraque pelo governo Bush, sempre com um tom favorável.
O nome dela? Judith Miller. Nova "reportagem-erramos" se seguiu, em que o jornal pedia desculpas a seus leitores por não ter sido "mais crítico" em relação aos argumentos do governo antes que a invasão ocorresse, não depois.
Então, surgiu o caso do vazamento da Casa Branca de que a mulher de um ex-embaixador americano que vinha escrevendo artigos críticos ao fato de o governo não ter encontrado até hoje tais armas era uma espiã da CIA. Dois repórteres ouviram o nome dela, um deles o publicou -um crime federal.
A outra não publicou, mas decidiu não dizer ao juiz quem era sua fonte. O nome da jornalista? Judith Miller. Pela recusa, foi para a cadeia, onde ficou 85 dias, até o dia 29 último. No período, Sulzberger escreveu 15 editoriais defendendo-a, e ela virou uma espécie de "mártir" da profissão, uma vez que seu colega, da revista "Time", revelou a fonte e evitou a prisão.
A história piora um pouco. Agora, a fonte veio a público e revelou que, desde antes de ser presa, a repórter tinha sua autorização por escrito para revelar seu nome. É o chefe-de-gabinete do vice-presidente Dick Cheney, Lewis "Scooter" Libby. Judith Miller preferiu ir para a cadeia.
Há três meses, uma consultoria global publicou resultado de pesquisa feita com empresários, formadores de opinião e políticos de 50 países segundo o qual o "New York Times" não é mais o primeiro jornal em prestígio global: está em sétimo lugar; os dois primeiros são os econômicos "Financial Times" e "Wall Street Journal".
Procurado pela Folha, o segundo e atual ombudsman do "New York Times", Byron Calame, respondeu por e-mail que não trataria do assunto com o repórter, mas poderia vir a fazer em sua coluna -provavelmente a de hoje. Judith Miller não respondeu pedidos de entrevista feitos. (SD)


Texto Anterior: Editor critica Miller em e-mail a jornalistas
Próximo Texto: Panorâmica - Ásia: Ajuda a vítimas de tremor é insuficiente, afirma ONU
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.