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SAIBA MAIS
Problemas no "New York Times" vêm de longe
DA REPORTAGEM LOCAL
No longínquo dia 4 de novembro de 2000, o jornal "The
New York Times" escreveu um
editorial sobre o futebol brasileiro em que chamava, no texto
inteiro, Ronaldo de Romário.
Este era o menor de seus problemas. Na mesma época, viria
à tona o "escândalo do espião
chinês", reportagens baseadas
em dados dúbios do FBI que
afirmavam que o cientista Wen
Ho Lee, que trabalhava no Laboratório Nacional de Los Alamos, era espião. Ele seria solto
depois, livre das acusações.
Mas o pior estava por vir. Jayson Blair, então um jovem repórter em ascensão, foi pego
em flagrante, e, na primeira do
que viria a ser uma série de "reportagens-erramos", o jornal
admitiu que Blair errou, plagiou ou mentiu em 36 situações, pelo menos. Foi demitido, e com ele caíram os principais executivos da Redação.
O golpe, chamado pelo próprio publisher, Arthur Sulzberger Jr., de "o ponto baixo nos
152 anos de história do jornal",
abriu uma crise interna sem
precedentes, que reverberou
nos leitores e culminou na criação do cargo de "public editor",
ou ombudsman, em outubro
de 2003, cujo primeiro ocupante foi Daniel Okrent.
Uma de suas colunas mais
violentas foi publicada em 30
de maio, com o título "Armas
de destruição em massa? Ou
distração em massa?", em que
ele questionava as fontes e o relacionamento com o poder da
jornalista que publicou as principais reportagens sobre o assunto pré-invasão do Iraque
pelo governo Bush, sempre
com um tom favorável.
O nome dela? Judith Miller.
Nova "reportagem-erramos"
se seguiu, em que o jornal pedia
desculpas a seus leitores por
não ter sido "mais crítico" em
relação aos argumentos do governo antes que a invasão ocorresse, não depois.
Então, surgiu o caso do vazamento da Casa Branca de que a
mulher de um ex-embaixador
americano que vinha escrevendo artigos críticos ao fato de o
governo não ter encontrado até
hoje tais armas era uma espiã
da CIA. Dois repórteres ouviram o nome dela, um deles o
publicou -um crime federal.
A outra não publicou, mas
decidiu não dizer ao juiz quem
era sua fonte. O nome da jornalista? Judith Miller. Pela recusa,
foi para a cadeia, onde ficou 85
dias, até o dia 29 último. No período, Sulzberger escreveu 15
editoriais defendendo-a, e ela
virou uma espécie de "mártir"
da profissão, uma vez que seu
colega, da revista "Time", revelou a fonte e evitou a prisão.
A história piora um pouco.
Agora, a fonte veio a público e
revelou que, desde antes de ser
presa, a repórter tinha sua autorização por escrito para revelar seu nome. É o chefe-de-gabinete do vice-presidente Dick
Cheney, Lewis "Scooter"
Libby. Judith Miller preferiu ir
para a cadeia.
Há três meses, uma consultoria global publicou resultado
de pesquisa feita com empresários, formadores de opinião e
políticos de 50 países segundo
o qual o "New York Times"
não é mais o primeiro jornal
em prestígio global: está em sétimo lugar; os dois primeiros
são os econômicos "Financial
Times" e "Wall Street Journal".
Procurado pela Folha, o segundo e atual ombudsman do
"New York Times", Byron Calame, respondeu por e-mail
que não trataria do assunto
com o repórter, mas poderia
vir a fazer em sua coluna
-provavelmente a de hoje. Judith Miller não respondeu pedidos de entrevista feitos.
(SD)
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