São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 2006

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Congressistas exigem revisão de ação no Iraque

A apenas duas semanas de votação, democratas e republicanos pressionam Bush

Mortes de soldados chegam a 80 no mês e elevam tom de críticas; oposição sugere que governo adia mudanças necessárias devido à eleição

France Presse/Departamento de Defesa
General William Casey (centro), comandante das forças no Iraque, discute estratégia com militares em Yusufiyah, ao sul de Bagdá


DA REDAÇÃO

Com a proximidade das eleições que definirão o comando do Congresso americano e a situação no Iraque se deteriorando de modo evidente, senadores foram a público ontem exigir mudanças imediatas na estratégia da Casa Branca no país. Além dos democratas, republicanos -do partido do presidente George W. Bush- e autoridades questionam abertamente a atuação no Iraque.
"Não acho que uma mudança nas táticas tenha que esperar até as eleições [de 7 de novembro]", disse o republicano Arlen Specter, chefe do Comitê Judiciário do Senado. "Há muitas mortes. Se temos um plano melhor, devemos adotá-lo logo."
A Casa Branca, segundo o jornal "New York Times", planeja um cronograma a ser imposto ao Iraque para que ele assuma responsabilidades maiores por sua própria segurança, que seria apresentado ao premiê xiita Nuri al Maliki só no fim do ano. O governo diz que o relato é "impreciso".
O senador democrata John Kerry, que disputou a Presidência com Bush em 2004, criticou um possível adiamento. "Eu acho que é imoral pôr a vida de jovens americanos em jogo esperando pelo dia da eleição. Se o senhor tem uma estratégia melhor, senhor presidente, merecemos tê-la agora."
Ontem mais dois soldados dos EUA morreram, elevando a 80 as baixas só neste mês -um recorde nos últimos dois anos. O crescente descontentamento dos eleitores com a atuação americana no país é um dos fatores que dão aos democratas perspectiva de vitória.
Bush se reuniu anteontem com os generais que comandam a ação no Iraque para redefinir sua política no país, mas evita falar em mudança de "estratégia" -o que poderia ser visto como um reconhecimento do fracasso-, preferindo citar alterações nas "táticas".

Retirada
Muitos políticos pressionam pelo estabelecimento de datas específicas para a retirada escalonada das tropas americanas. O senador democrata Carl Levin, do Comitê dos Serviços Armados, em entrevista à rede de TV Fox, disse: "Precisamos fazer isso [estabelecer as datas]. Devíamos ter feito isso há muito tempo". "Sem a pressão de nossas tropas deixando o país, os iraquianos não farão o que só eles podem fazer, que é resolver suas diferenças políticas."
Bush insiste que as tropas não sairão "antes que a missão esteja completa". "Há alguns em Washington que afirmam que a retirada nos deixaria mais seguros. Eu discordo."
Os congressistas querem que o presidente aumente a pressão sobre o premiê xiita Nuri al Maliki para que ele contenha as milícias que lutam entre si. Maliki hesita em agir contra elas pois depende do apoio político dos líderes das duas principais milícias xiitas -o Exército Mehdi e a Organização Badr-, que controlam grande parte do Parlamento.
O republicano John Warner, chefe da Comissão de Serviços Armados do Senado, é um dos que insistem numa atuação mais firme do premiê: "É trabalho dele, e não da coalizão, se livrar dessas milícias privadas".
Em entrevista à TV do Qatar Al Jazira, que foi ao ar ontem, um alto diplomata dos EUA foi extremamente crítico sobre a atuação americana. Falando em árabe, Alberto Fernandez, diretor de diplomacia do Escritório de Assuntos do Oriente Médio do Departamento de Estado, disse: "Há muito espaço para críticas, porque, sem dúvida, houve arrogância e estupidez da parte dos EUA".
E acrescentou: "É difícil para qualquer político admitir erros, porque as pessoas não gostam de admitir que os cometeram ou que estão erradas".
O porta-voz do departamento, Sean McCormack, que está em Moscou com a secretária de Estado, Condoleezza Rice, tentou culpar uma tradução imprecisa para o inglês pelas palavras duras: "Isso [a tradução do trecho sobre arrogância e estupidez] não mostra de modo preciso o que ele disse".
Uma alta autoridade -que falou sob anonimato porque no momento ainda não havia uma tradução disponível- também pôs em dúvida se as palavras haviam sido essas mesmas, acrescentando que "esses comentários, obviamente, não refletem nossa posição".
Ontem ao menos 29 iraquianos morreram ou tiveram seus corpos encontrados, elevando para 935 as mortes no mês.


Com agências internacionais


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