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ELEIÇÕES NA ARGENTINA /INVESTIMENTOS
Empresas brasileiras vão às compras no país vizinho
Baratas, companhias tradicionais argentinas são alvo de investidores estrangeiros
Tênis Alpargatas, cimento Loma Negra e cerveja Quilmes mudaram de mãos; empresários reclamam de Kirchner, mas faturam bem
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL À ARGENTINA
As incertezas dos últimos
anos em relação à economia argentina puseram à venda dezenas de empresas no país, muitas delas centenárias e símbolos de uma época de ouro. Nesse movimento, o Brasil se tornou um dos principais investidores no país. Na base dessa
tendência está a fragilidade da
economia argentina e de seus
fundamentos.
As empresas argentinas estão baratas. Mesmo tendo crescido entre 7% e 9% ao ano desde 2003, as companhias do país
vizinho não conseguem aumentar seus valores no mercado. Assim, tornam-se presas fáceis para os estrangeiros.
Nos últimos dez anos, o índice Merval, principal indicador
da Bolsa de Buenos Aires e que
reflete o valor das empresas ali
negociadas, teve uma queda de
27% em dólares. Para comparar, o índice Bovespa, que faz a
mesma medição no Brasil, subiu 187%. Enquanto as empresas argentinas se depreciaram,
as brasileiras cresceram e agora
têm capital suficiente para
comprar na Argentina.
Há duas semanas, mais uma
empresa argentina, a Alpargatas (fundada em 1883), foi comprada por uma brasileira, a São
Paulo Alpargatas, do grupo Camargo Correa. Originalmente,
a São Paulo Alpargatas era argentina, até ser comprada pelo
grupo brasileiro na década de
80. A Alpargatas, agora brasileira, é a principal fabricante de
têxteis para jeans e de calçados
esportivos na Argentina, onde
detém as marcas Nike e Adidas.
Há três anos, a Camargo Correa também comprou a maior e
mais tradicional empresa de cimento da Argentina, a Loma
Negra. "Sempre olhamos a Loma Negra com atenção. Era um
ícone e pertencia a uma senhora de 80 anos, sem sucessor, e
acabaria caindo no mercado",
afirma José Edson Barros
Franco, presidente do conselho
da Loma Negra.
Comprada por US$ 1,02 bilhão, a Loma Negra já atingiu
níveis de venda neste ano que
só esperava alcançar em 2011 -
graças à recuperação do país vizinho. Outro "ícone" argentino,
a cervejaria Quilmes (com 117
anos e 70% do mercado), também caiu em mãos estrangeiras. A Inbev, fusão entre a Ambev brasileira e a belga Interbrew, passou a controlar 91%
das ações da empresa em 2006.
O argentino Mariano Botas,
diretor da Quilmes, diz que os
recentes problemas com falta
de energia e tentativas de controle de preços atrapalham,
mas a empresa mesmo assim
investirá a cifra recorde de US$
100 milhões neste ano no país.
Um empresário brasileiro
com um grande negócio na Argentina (ele pediu para não ser
identificado) afirma que tem sido "assustador" conviver com a
tentativa do governo Kirchner
de controlar os preços finais
dos produtos sem que haja controle sobre as matérias-primas.
Ele também reclama do "alinhamento" entre o governo e
os sindicatos de trabalhadores,
que têm o respaldo do presidente nas negociações salariais.
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