São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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ELEIÇÕES NA ARGENTINA /INVESTIMENTOS

Empresas brasileiras vão às compras no país vizinho

Baratas, companhias tradicionais argentinas são alvo de investidores estrangeiros

Tênis Alpargatas, cimento Loma Negra e cerveja Quilmes mudaram de mãos; empresários reclamam de Kirchner, mas faturam bem

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL À ARGENTINA

As incertezas dos últimos anos em relação à economia argentina puseram à venda dezenas de empresas no país, muitas delas centenárias e símbolos de uma época de ouro. Nesse movimento, o Brasil se tornou um dos principais investidores no país. Na base dessa tendência está a fragilidade da economia argentina e de seus fundamentos.
As empresas argentinas estão baratas. Mesmo tendo crescido entre 7% e 9% ao ano desde 2003, as companhias do país vizinho não conseguem aumentar seus valores no mercado. Assim, tornam-se presas fáceis para os estrangeiros.
Nos últimos dez anos, o índice Merval, principal indicador da Bolsa de Buenos Aires e que reflete o valor das empresas ali negociadas, teve uma queda de 27% em dólares. Para comparar, o índice Bovespa, que faz a mesma medição no Brasil, subiu 187%. Enquanto as empresas argentinas se depreciaram, as brasileiras cresceram e agora têm capital suficiente para comprar na Argentina.
Há duas semanas, mais uma empresa argentina, a Alpargatas (fundada em 1883), foi comprada por uma brasileira, a São Paulo Alpargatas, do grupo Camargo Correa. Originalmente, a São Paulo Alpargatas era argentina, até ser comprada pelo grupo brasileiro na década de 80. A Alpargatas, agora brasileira, é a principal fabricante de têxteis para jeans e de calçados esportivos na Argentina, onde detém as marcas Nike e Adidas.
Há três anos, a Camargo Correa também comprou a maior e mais tradicional empresa de cimento da Argentina, a Loma Negra. "Sempre olhamos a Loma Negra com atenção. Era um ícone e pertencia a uma senhora de 80 anos, sem sucessor, e acabaria caindo no mercado", afirma José Edson Barros Franco, presidente do conselho da Loma Negra.
Comprada por US$ 1,02 bilhão, a Loma Negra já atingiu níveis de venda neste ano que só esperava alcançar em 2011 - graças à recuperação do país vizinho. Outro "ícone" argentino, a cervejaria Quilmes (com 117 anos e 70% do mercado), também caiu em mãos estrangeiras. A Inbev, fusão entre a Ambev brasileira e a belga Interbrew, passou a controlar 91% das ações da empresa em 2006.
O argentino Mariano Botas, diretor da Quilmes, diz que os recentes problemas com falta de energia e tentativas de controle de preços atrapalham, mas a empresa mesmo assim investirá a cifra recorde de US$ 100 milhões neste ano no país.
Um empresário brasileiro com um grande negócio na Argentina (ele pediu para não ser identificado) afirma que tem sido "assustador" conviver com a tentativa do governo Kirchner de controlar os preços finais dos produtos sem que haja controle sobre as matérias-primas. Ele também reclama do "alinhamento" entre o governo e os sindicatos de trabalhadores, que têm o respaldo do presidente nas negociações salariais.


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