São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Após novas mortes, indígenas obtêm adesões na Colômbia

Dois participantes de marcha anti-Uribe perdem as vidas em confronto com polícia

Estudantes e central sindical declaram apoio a protestos, que demandam mais terras; governo acusa Farc de estar por trás de manifestações

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Dois manifestantes que participariam de uma grande marcha indígena contra a violência e a falta de terras morreram anteontem durante enfrentamentos com a polícia colombiana. O protesto de 10 mil pessoas, iniciado na semana passada, recebeu nas últimas horas o apoio de estudantes e sindicatos e tem provocado uma intensa troca de acusações entre o movimento e o governo do presidente Álvaro Uribe.
Os dois mortos faziam parte de um grupo de 200 indígenas e camponeses que, segundo a Organização Nacional Indígena da Colômbia (Onic), se integrariam à grande marcha na cidade de Villa Rica (sudoeste), amanhã. Eles fecharam a rodovia Panamericana, uma das mais importantes do país, dando início ao confronto com um esquadrão antidistúrbios.
A polícia nega envolvimento nas mortes e diz que podem ter sido provocadas pela explosão de uma bomba caseira.
Até sábado, quando devem chegar a Cali, os indígenas terão percorrido cerca de 100 km desde a cidade de Piendamó. O protesto está sendo feito numa das faixas da Panamericana -eles se comprometeram a não bloqueá-la totalmente.
Em reação às mortes, estudantes entraram em choque com a polícia após bloquear várias ruas na região do aeroporto internacional de Bogotá. Já a Central Unitária dos Trabalhadores (550 mil filiados) prometeu marchas pelo país em apoio aos indígenas e a uma greve de cortadores de cana.
Até o fim de semana, os manifestantes esperam reunir 20 mil pessoas em Cali, onde exigirão a presença de Uribe.
Porta-vozes do governo têm feito duras acusações contra o movimento. O diretor da Polícia Nacional, Oscar Naranjo, disse que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) estão por trás da mobilização, enquanto o ministro de Proteção Social, Diego Palacio, afirmou que o objetivo é "desestabilizar" Uribe.
"Neste país, quem se opõe ao governo é considerado terrorista e conspirador. Diante disso, respondemos com uma marcha pacífica. Nossa mobilização não tem interesses obscuros", disse ontem à Folha Luis Fernando Arias, secretário-geral da Onic, em entrevista por telefone desde Santander de Quilichao, cidade onde se encontrava a marcha.
Segundo a Onic, 1.273 indígenas foram assassinados desde que Uribe assumiu, em 2002. A organização afirma que existem no país 1,35 milhão de indígenas, 3% da população.
Sobre o problema de falta de terras, Arias disse que, dos 27 milhões de hectares destinados aos indígenas na Colômbia, 23 milhões estão sob preservação. "As terras para o cultivo agrícola são muito poucas, porque a maior parte está na mão dos latifundiários deste país."
A Onic também exige a adesão à Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, aprovada em 2007. O país foi o único da América Latina a não aprovar o documento.


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