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Após novas mortes, indígenas obtêm adesões na Colômbia
Dois participantes de marcha anti-Uribe perdem as vidas em confronto com polícia
Estudantes e central sindical
declaram apoio a protestos,
que demandam mais terras;
governo acusa Farc de estar
por trás de manifestações
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Dois manifestantes que participariam de uma grande marcha indígena contra a violência
e a falta de terras morreram anteontem durante enfrentamentos com a polícia colombiana. O protesto de 10 mil pessoas, iniciado na semana passada, recebeu nas últimas horas o
apoio de estudantes e sindicatos e tem provocado uma intensa troca de acusações entre o
movimento e o governo do presidente Álvaro Uribe.
Os dois mortos faziam parte
de um grupo de 200 indígenas e
camponeses que, segundo a Organização Nacional Indígena
da Colômbia (Onic), se integrariam à grande marcha na cidade de Villa Rica (sudoeste),
amanhã. Eles fecharam a rodovia Panamericana, uma das
mais importantes do país, dando início ao confronto com um
esquadrão antidistúrbios.
A polícia nega envolvimento
nas mortes e diz que podem ter
sido provocadas pela explosão
de uma bomba caseira.
Até sábado, quando devem
chegar a Cali, os indígenas terão percorrido cerca de 100 km
desde a cidade de Piendamó. O
protesto está sendo feito numa
das faixas da Panamericana
-eles se comprometeram a
não bloqueá-la totalmente.
Em reação às mortes, estudantes entraram em choque
com a polícia após bloquear várias ruas na região do aeroporto
internacional de Bogotá. Já a
Central Unitária dos Trabalhadores (550 mil filiados) prometeu marchas pelo país em apoio
aos indígenas e a uma greve de
cortadores de cana.
Até o fim de semana, os manifestantes esperam reunir 20
mil pessoas em Cali, onde exigirão a presença de Uribe.
Porta-vozes do governo têm
feito duras acusações contra o
movimento. O diretor da Polícia Nacional, Oscar Naranjo,
disse que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) estão por trás da mobilização, enquanto o ministro de
Proteção Social, Diego Palacio,
afirmou que o objetivo é "desestabilizar" Uribe.
"Neste país, quem se opõe ao
governo é considerado terrorista e conspirador. Diante disso, respondemos com uma
marcha pacífica. Nossa mobilização não tem interesses obscuros", disse ontem à Folha
Luis Fernando Arias, secretário-geral da Onic, em entrevista por telefone desde Santander de Quilichao, cidade onde
se encontrava a marcha.
Segundo a Onic, 1.273 indígenas foram assassinados desde
que Uribe assumiu, em 2002. A
organização afirma que existem no país 1,35 milhão de indígenas, 3% da população.
Sobre o problema de falta de
terras, Arias disse que, dos 27
milhões de hectares destinados
aos indígenas na Colômbia, 23
milhões estão sob preservação.
"As terras para o cultivo agrícola são muito poucas, porque a
maior parte está na mão dos latifundiários deste país."
A Onic também exige a adesão à Declaração da ONU sobre
os Direitos dos Povos Indígenas, aprovada em 2007. O país
foi o único da América Latina a
não aprovar o documento.
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