São Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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Conferência nuclear no Cairo reuniu Israel e Irã

Chancelaria egípcia e porta-voz israelense confirmam informação, negada por Teerã

Governo iraniano diz que notícia é parte da "guerra psicológica" de Israel no momento em que Irã estuda pacto nuclear com potências


MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Uma conferência sobre não proliferação nuclear reuniu recentemente Israel e Irã no Cairo, onde os arqui-inimigos tiveram o primeiro contato direto em 30 anos. O encontro foi confirmado por Israel e negado pelo Irã.
Sob pressão externa devido a seu programa nuclear, o Irã dirá hoje se aceita a proposta negociada nos últimos dias com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), a Rússia, a França e os EUA, que diminui sua suposta capacidade de produzir armas atômicas.
Segundo especialistas, o encontro com os israelenses pode ser mais um gesto iraniano destinado a reduzir riscos de instabilidade, num momento em que o regime dos aiatolás ainda sofre a maior onda de oposição desde que chegou ao poder.
A divulgação do encontro entre israelenses e iranianos foi acompanhada do típico coro de desmentidos e meias-verdades, como é costume na região. Mas reportagem do respeitado jornal israelense "Haaretz" mostrou detalhes do raro diálogo.
O texto diz que os interlocutores foram Meirav Zafary-Odiz, diretora de controle de armas da agência atômica israelense, e Ali Asghar Soltanieh, embaixador do Irã na AIEA. Eles teriam se encontrado cara a cara diversas vezes em setembro, junto com diplomatas de sete outros países do Oriente Médio, além de representantes europeus e dos EUA.
Segundo o jornal, a israelense disse que seu país aceita em princípio discutir a possibilidade de um Oriente Médio sem armas nucleares. Mas afirmou que tem motivos para desconfiar da ideia, depois que em três décadas quatro países romperam compromisso com o Tratado de Não Proliferação Nuclear -Irã, Iraque, Líbia e Síria.
Soltanieh, sempre segundo o "Haaretz", repetiu que o programa nuclear de seu país tem fins pacíficos. E perguntou diretamente a Zafary-Odiz se Israel possui armas atômicas.
Em resposta, a representante israelense apenas sorriu. Israel não nega nem desmente, mas é consenso na comunidade internacional que o país é há décadas uma potência nuclear -a única do Oriente Médio.
No Cairo, o ministro das Relações Exteriores do Egito confirmou que a conferência de não proliferação aconteceu.
A agência atômica israelense afirmou que não houve "diálogo nem interação". Já o Irã negou que a reunião tenha ocorrido, acusando Israel de "guerra psicológica" para esvaziar as negociações com a AIEA.
Reunidos em Jerusalém para uma conferência internacional, especialistas e diplomatas consultados pela Folha manifestaram ceticismo em relação ao pré-acordo negociado nesta semana em Viena.
Ele prevê que Teerã envie 75% de seu urânio de baixo enriquecimento à Rússia e à França, que completariam o processo. Sem combustível nuclear, o Irã não poderia produzir a bomba.
"Não é o melhor acordo, porque os iranianos poderão continuar a produzir urânio. Só adia o problema", disse Meir Litvak, do centro de estudos iranianos da Universidade de Tel Aviv. "Mas mostra que os iranianos cedem à pressão."
Para a jornalista e escritora americana de origem libanesa Geneive Abdo, veterana na cobertura do mundo islâmico, o maior temor do regime iraniano é um ataque israelense. "Com Obama, os EUA deixaram de ser vistos como um risco imediato. O que preocupa o regime é Israel", disse Abdo.
Para o ex-ministro da Justiça do Canadá Irwin Cotler, mesmo se não tivesse pretensões nucleares o Irã deveria sofrer sanções pelas declarações negando o Holocausto do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Cotler criticou a visita que o presidente iraniano fará ao Brasil no próximo mês. "Quem incita o genocídio não deveria ser recebido por nenhum país", disse. Se ele for ao Canadá será preso."

Leia coluna de Clóvis Rossi sobre o Irã nuclear

www.folha.com.br/092953


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