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Conferência nuclear no Cairo reuniu Israel e Irã
Chancelaria egípcia e porta-voz israelense confirmam informação, negada por Teerã
Governo iraniano diz que notícia é parte da "guerra psicológica" de Israel no momento em que Irã estuda pacto nuclear com potências
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Uma conferência sobre não
proliferação nuclear reuniu recentemente Israel e Irã no Cairo, onde os arqui-inimigos tiveram o primeiro contato direto
em 30 anos. O encontro foi confirmado por Israel e negado pelo Irã.
Sob pressão externa devido a
seu programa nuclear, o Irã dirá hoje se aceita a proposta negociada nos últimos dias com a
AIEA (Agência Internacional
de Energia Atômica), a Rússia,
a França e os EUA, que diminui
sua suposta capacidade de produzir armas atômicas.
Segundo especialistas, o encontro com os israelenses pode
ser mais um gesto iraniano destinado a reduzir riscos de instabilidade, num momento em
que o regime dos aiatolás ainda
sofre a maior onda de oposição
desde que chegou ao poder.
A divulgação do encontro entre israelenses e iranianos foi
acompanhada do típico coro de
desmentidos e meias-verdades,
como é costume na região. Mas
reportagem do respeitado jornal israelense "Haaretz" mostrou detalhes do raro diálogo.
O texto diz que os interlocutores foram Meirav Zafary-Odiz, diretora de controle de
armas da agência atômica israelense, e Ali Asghar Soltanieh, embaixador do Irã na
AIEA. Eles teriam se encontrado cara a cara diversas vezes em
setembro, junto com diplomatas de sete outros países do
Oriente Médio, além de representantes europeus e dos EUA.
Segundo o jornal, a israelense disse que seu país aceita em
princípio discutir a possibilidade de um Oriente Médio sem
armas nucleares. Mas afirmou
que tem motivos para desconfiar da ideia, depois que em três
décadas quatro países romperam compromisso com o Tratado de Não Proliferação Nuclear -Irã, Iraque, Líbia e Síria.
Soltanieh, sempre segundo o
"Haaretz", repetiu que o programa nuclear de seu país tem
fins pacíficos. E perguntou diretamente a Zafary-Odiz se Israel possui armas atômicas.
Em resposta, a representante
israelense apenas sorriu. Israel
não nega nem desmente, mas é
consenso na comunidade internacional que o país é há décadas uma potência nuclear -a
única do Oriente Médio.
No Cairo, o ministro das Relações Exteriores do Egito confirmou que a conferência de
não proliferação aconteceu.
A agência atômica israelense
afirmou que não houve "diálogo nem interação". Já o Irã negou que a reunião tenha ocorrido, acusando Israel de "guerra
psicológica" para esvaziar as
negociações com a AIEA.
Reunidos em Jerusalém para
uma conferência internacional,
especialistas e diplomatas consultados pela Folha manifestaram ceticismo em relação ao
pré-acordo negociado nesta semana em Viena.
Ele prevê que Teerã envie
75% de seu urânio de baixo
enriquecimento à Rússia e à
França, que completariam o
processo. Sem combustível nuclear, o Irã não poderia produzir a bomba.
"Não é o melhor acordo, porque os iranianos poderão continuar a produzir urânio. Só
adia o problema", disse Meir
Litvak, do centro de estudos
iranianos da Universidade de
Tel Aviv. "Mas mostra que os
iranianos cedem à pressão."
Para a jornalista e escritora
americana de origem libanesa
Geneive Abdo, veterana na cobertura do mundo islâmico, o
maior temor do regime iraniano é um ataque israelense.
"Com Obama, os EUA deixaram de ser vistos como um risco imediato. O que preocupa o
regime é Israel", disse Abdo.
Para o ex-ministro da Justiça
do Canadá Irwin Cotler, mesmo se não tivesse pretensões
nucleares o Irã deveria sofrer
sanções pelas declarações negando o Holocausto do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Cotler criticou a visita que o
presidente iraniano fará ao
Brasil no próximo mês. "Quem
incita o genocídio não deveria
ser recebido por nenhum país",
disse. Se ele for ao Canadá será
preso."
Leia coluna de Clóvis Rossi
sobre o Irã nuclear
www.folha.com.br/092953
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