VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO

As acusações que Michael Jackson, 45, enfrenta agora, de ter molestado sexualmente um menino de 12 anos, parecem uma versão "cover" de um episódio de dez anos atrás. Em setembro de 1993, os pais do garoto Jordy Chandler, então com 13 anos, entraram na Justiça contra o cantor, mas o processo nunca chegou ao final porque um acordo sustou a ação.
Por esse acordo, que envolveu um pagamento cujo valor pode ter chegado a dezenas de milhões de dólares para a família de Chandler, as duas partes comprometeram-se a não dar declarações sobre o caso.
O esforço de Michael Jackson para abafar o episódio, porém, não foi 100% bem-sucedido. Em fevereiro deste ano, cópias de páginas do processo foram parar na internet por obra do site Smoking Gun (www.thesmokinggun.com).
Na ação de 1993, que correu numa corte da Califórnia, o advogado dos Chandlers, Larry Feldman -o mesmo que agora foi contratado pela família do menor cuja identidade ainda não foi revelada-, pede a condenação do cantor por agressão sexual contra o jovem Jordy.
"Esses contatos sexualmente ofensivos incluem, mas não se restringem a, o acusado Michael Jackson copulando oralmente com o querelante, o acusado Michael Jackson masturbando o querelante, o acusado Michael Jackson engolindo o sêmen do querelante e o acusado Michael Jackson fazendo o querelante manipular e acariciar o peito e os mamilos do acusado Michael Jackson, enquanto o acusado Michael Jackson se masturbava", diz a transcrição do processo publicada pelo site.
O processo tem quatro páginas com o depoimento de Jordy, em que são descritos todos os detalhes das relações dos dois. Segundo suas declarações, ele conheceu Jackson quando tinha cinco anos. Em maio de 1992, voltou a encontrar o cantor e, a partir daí, passou a receber vários telefonemas, que às vezes duravam cerca de três horas: "Conversávamos sobre videogames, o rancho Neverland, brincadeiras com pistolas de água e gente famosa que ele conhecia".
Em seguida, o depoimento de Jordy passa a descrever os avanços do cantor: "O contato físico entre mim e Michael Jackson progrediu gradualmente. O primeiro passo foi simplesmente um abraço. O seguinte foi um beijo rápido dele na minha bochecha. O passo seguinte foi quando Michael Jackson pôs sua língua na minha boca. Eu disse a ele que não gostava disso. Michael Jackson começou a chorar. Ele disse que não havia nada de errado nisso. Ele disse que isso não é errado só porque a maior parte das pessoas acha errado".
No depoimento atribuído a Jordy, Jackson disse que o menino não o amava tanto quanto um de seus "amigos jovens" que, segundo o cantor, permitia que ele o beijasse "com a boca aberta", deixando "que ele pusesse sua língua".
A certa altura, o menino, sempre de acordo com o site, detalha de que maneira Jackson se masturbava na sua frente e o masturbava "diversas vezes, com suas mãos e sua boca", quando estavam na cama. "Michael Jackson disse que eu não devia contar a ninguém o que tinha acontecido. Ele disse que era um segredo."
"Minha relação com Michael Jackson terminou quando meu pai obteve minha custódia em julho de 1993 e eu passei a viver na casa de meu pai", afirma Jordy, no depoimento relatado pelo Smoking Gun.

"Prova do crime"
Criado por William Bastone, um ex-repórter do jornal "Village Voice", o Smoking Gun (a prova do crime, numa tradução livre) é um site especializado na divulgação de documentos públicos que envolvem celebridades metidas em confusões que foram parar nos tribunais. As revelações exclusivas do site já foram aplaudidas por professores de jornalismo e ganharam matérias elogiosas em veículos como a revista semanal "Newsweek".
"Nós somos um site conhecido, bem estabelecido e com credibilidade. Quando colocamos os documentos na internet ninguém levantou qualquer dúvida sobre sua autenticidade", disse Bastone à Folha. Ao ser questionado se o cantor ou seus advogados haviam ameaçado o site com algum processo, Bastone disse: "Como ele poderia me processar? O que está lá no site nada mais é do que a coisa verdadeira. Tudo o que ele fez foi criticar a revelação dos documentos".
Apesar dos milhões de dólares, a vida de Jordy parece não ter ido muito bem na última década. Relatos publicados na imprensa sensacionalista americana dizem que ele é um homem de 23 anos solitário, introvertido e que rompeu relações com a mãe. "Tudo o que Jordy quer é ser um rapaz normal. Mas ele não vai conseguir. As memórias são muito dolorosas, e nenhum dinheiro no mundo pode compensar isso", disse o escritor Victor Gutierrez, autor de um livro sobre Jordy.
Michael Jackson, que foi indiciado na última quinta-feira e solto no mesmo dia após pagar uma fiança de US$ 3 milhões, nega todas as acusações -tanto as de 1993 como as atuais. Em janeiro, ele terá de se reapresentar à Justiça para enfrentar as novas etapas do processo.


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