São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / NOVAS IDÉIAS

Centro progressista domina futuro governo

Esquerdista Centro para o Progresso Americano emplaca membros na equipe de presidente eleito e vê suas idéias serem endossadas

Think-tank pode ter papel semelhante ao ocupado pela conservadora Heritage Foundation no governo do republicano Ronald Reagan


ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Nos anos 80, o presidente republicano Ronald Reagan (1981-89) encontrou no grupo de estudos conservador Heritage Foundation a base intelectual que precisava para formular suas políticas. Mais de 20 anos depois, algo semelhante parece ocorrer entre Barack Obama e o think-tank esquerdista Centro para o Progresso Americano (CAP), que já se tornou grande provedor de idéias e pessoal para a Casa Branca.
O melhor exemplo dessa relação se vê na atuação do presidente do CAP, John Podesta, 57. Ele foi escolhido para chefiar a equipe de transição do presidente eleito.
Outro dos principais membros do centro, o ex-senador Tom Daschle, deverá ser confirmado como próximo secretário da Saúde, uma das áreas prioritárias do novo governo.
Ron Clain, membro do conselho diretor do CAP, também alcançou cargo de destaque na equipe presidencial, tendo sido nomeado chefe-de-gabinete do vice-presidente Joe Biden. E há ao menos outros dez participantes do centro que fazem parte do time de transição.
Mas ainda mais importante do que a absorção de pessoal é a afinidade de idéias. Muitos afirmam que foi no centro que Obama buscou as propostas de retirada gradual do Iraque e de focar a estratégia militar dos EUA no Afeganistão.
Há também o plano do CAP para universalizar os seguros-saúde, que tem na indicação de Daschle endosso tácito de Obama. E o presidente eleito ainda usou parte do plano do CAP para sugerir a criação de "empregos ecológicos", algo ligado a uma estratégia para abordar a mudança climática.
É uma grande conquista para um grupo com cinco anos de existência e que não é o maior nem o mais bem financiado de Washington. O CAP tem aproximadamente 180 funcionários e um orçamento anual de US$ 27 milhões; o Instituto Brookings, que também enviou vários membros para equipes de Obama, tem mais de 400 funcionários e orçamento de US$ 48 milhões -mas menos influência até agora.

Medida de poder
O analista Michael Cohen, membro de outro think-tank esquerdista, o New America Foundation, concorda que a contribuição do CAP para a campanha de Obama foi "vital". "Os membros do centro foram muito bons, por exemplo, em sugerir políticas para segurança nacional", afirmou à Folha.
Mas Cohen minimiza a influência do CAP sobre Obama, que segundo ele "é alguém com idéias próprias". "Nenhum think-tank vai dirigir suas decisões. Obama terá atuação pragmática, de centro, e não esquerdista. É diferente do que ocorreu com a Heritage Foundation, pois Reagan não tinha propostas prontas."
A própria Heritage Foundation, porém, é rápida em traçar paralelos com o CAP. "Eles são agressivos, bons em publicidade, bem financiados e certamente têm um ponto de vista próprio", disse à Folha Lee Edwards, membro da fundação e expert no movimento conservador. "Estamos lisonjeados por decidirem nos imitar."
Em mais um ponto de similaridade, o CAP divulgou, dias após a eleição de Obama, um documento de proposição de políticas, intitulado "Mudança para a América: Um Plano Progressista para o 44º Presidente". A fundação conservadora fez o mesmo para Reagan pouco antes da eleição, em 1980.
Segundo Edwards, Reagan adotou ao menos parcialmente 60% das idéias do documento da fundação. "A questão agora é saber o quanto Obama seguirá as propostas do CAP", disse.
Mas ele vê um risco: a perda da capacidade crítica ante a proximidade com o governo.


Texto Anterior: Obama anuncia plano para criar empregos
Próximo Texto: Gabinete: Obama anuncia Robert Gibbs para a secretaria de Imprensa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.