São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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Órfãos de terremoto seguem sem pai adotivo após 6 meses

De 627 crianças que perderam pais em sismo de Sichuan, só 12 foram adotadas

Novas restrições impostas pelo governo chinês à adoção por estrangeiros e restrição de um só filho por casal constituem obstáculo


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI

Das 627 crianças que ficaram órfãs após o terremoto de Sichuan, na China, apenas 12 foram adotadas, seis meses após a tragédia que matou quase 70 mil pessoas.
Apesar da procura internacional pelos órfãos, o governo chinês decidiu em maio que só casais chineses acima de 30 anos de idade poderiam adotá-los. Estrangeiros e mesmo cidadãos de Hong Kong e Macau, as duas cidades autônomas do país, ficaram de fora.
O drama dos órfãos reflete um paradoxo recente na organização das adoções chinesas -a China ainda é o país com maior número de adoções internacionais no mundo. Em maio do ano passado, uma nova legislação foi instituída para dificultar a adoção de crianças por estrangeiros. Mas os casais chineses, mesmo os de classe média alta e alta, não parecem estar correndo para adotar os órfãos locais.
"O governo chinês diz que o número de crianças disponíveis para adoção caiu por conta do crescimento da classe média, que pode pagar a multa ao ter um segundo filho [o governo chinês permite apenas uma criança por casal], então menos bebês seriam abandonados, além de maior controle de natalidade e abortos", diz o jornalista americano Jeff Gammage, autor de "China Ghosts" (fantasmas chineses), um livro sobre a adoção no país.
"Também acho que a China reduziu as adoções no período pré-Olimpíada porque não queria que o país fosse visto como incapaz de cuidar de suas crianças".
Até 2005, 8.000 crianças, em sua maioria meninas abandonadas, eram adotadas anualmente por americanos, e outras 8.000 pelo resto do mundo. No ano passado, o total não chegou a 10 mil.
Na tradição chinesa, é o filho homem que cuida dos pais quando velhos. A mulher se dedica ao cuidado dos sogros, então para muitas famílias rurais a preferência pelo filho único estipulado por lei é por um menino, não uma menina.
O processo de adoção, que levava de 9 meses a 1 ano, agora pode levar até três anos. As novas regras proíbem solteiros, homossexuais, obesos e maiores de 50 anos de idade de adotarem no país. Casais gays e solteiros representavam 10% das adoções. "A China tinha o mais bem-sucedido programa internacional de adoções", lamenta Gammage, que tem duas filhas chinesas adotivas.


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