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Órfãos de terremoto seguem sem pai adotivo após 6 meses
De 627 crianças que perderam pais em sismo de Sichuan, só 12 foram adotadas
Novas restrições impostas pelo governo chinês à adoção por estrangeiros e restrição de um só filho por casal constituem obstáculo
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI
Das 627 crianças que ficaram
órfãs após o terremoto de Sichuan, na China, apenas 12 foram adotadas, seis meses após a
tragédia que matou quase 70
mil pessoas.
Apesar da procura internacional pelos órfãos, o governo
chinês decidiu em maio que só
casais chineses acima de 30
anos de idade poderiam adotá-los. Estrangeiros e mesmo cidadãos de Hong Kong e Macau,
as duas cidades autônomas do
país, ficaram de fora.
O drama dos órfãos reflete
um paradoxo recente na organização das adoções chinesas
-a China ainda é o país com
maior número de adoções internacionais no mundo. Em
maio do ano passado, uma nova
legislação foi instituída para dificultar a adoção de crianças
por estrangeiros. Mas os casais
chineses, mesmo os de classe
média alta e alta, não parecem
estar correndo para adotar os
órfãos locais.
"O governo chinês diz que o
número de crianças disponíveis para adoção caiu por conta
do crescimento da classe média, que pode pagar a multa ao
ter um segundo filho [o governo chinês permite apenas uma
criança por casal], então menos
bebês seriam abandonados,
além de maior controle de natalidade e abortos", diz o jornalista americano Jeff Gammage,
autor de "China Ghosts" (fantasmas chineses), um livro sobre a adoção no país.
"Também acho que a China
reduziu as adoções no período
pré-Olimpíada porque não
queria que o país fosse visto como incapaz de cuidar de suas
crianças".
Até 2005, 8.000 crianças, em
sua maioria meninas abandonadas, eram adotadas anualmente por americanos, e outras
8.000 pelo resto do mundo. No
ano passado, o total não chegou
a 10 mil.
Na tradição chinesa, é o filho
homem que cuida dos pais
quando velhos. A mulher se dedica ao cuidado dos sogros, então para muitas famílias rurais
a preferência pelo filho único
estipulado por lei é por um menino, não uma menina.
O processo de adoção, que levava de 9 meses a 1 ano, agora
pode levar até três anos. As novas regras proíbem solteiros,
homossexuais, obesos e maiores de 50 anos de idade de adotarem no país. Casais gays e solteiros representavam 10% das
adoções. "A China tinha o mais
bem-sucedido programa internacional de adoções", lamenta
Gammage, que tem duas filhas
chinesas adotivas.
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