São Paulo, domingo, 23 de dezembro de 2007

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Premiê deposto é foco de eleição de hoje na Tailândia

Volta de Thaksin é o único tema que interessa a tailandeses na escolha do Parlamento

Acusado de corrupção, líder foi derrubado por golpe militar em 2006 e se exilou; votação busca restituir estabilidade e democracia

AMY KAZMIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM BANCOC

Em uma noite recente numa cidadezinha rural da Tailândia, o veterano político Chalerm Yoobamrung, um dos líderes do Partido do Poder do Povo (PPP), transmitiu uma mensagem simples num comício modesto. Em discurso acalorado, disse que os partidários de Thaksin Shinawatra, o ex-premiê afastado no golpe militar de 2006, devem votar no PPP nas eleições parlamentares de hoje para ajudar a trazer de volta o líder populista exilado.
"Se o PPP chegar ao governo, trarei Thaksin de volta à Tailândia", declarou Chalerm, entre aplausos. "Eu, Chalerm, embarcarei pessoalmente para buscá-lo. Mas depende de vocês eu poder fazer isso ou não." É uma mensagem que ressoa na área rural da Tailândia, de cujos eleitores Thaksin recebia boa parte de seu apoio graças a suas políticas desenvolvimentistas. "Thaksin cumpria o que prometia, e os membros de seu partido trabalhavam duro nesta região", comentou uma professora no comício, que não quis dizer o nome temendo represália. "Depois do golpe, a vida ficou mais difícil."
Às vésperas de uma eleição que visa restaurar a democracia e a estabilidade na Tailândia após dois anos de turbulência, o espectro de Thaksin Shinawatra assumiu grande proporção.
A impressão que se tem é que, numa disputa de outra forma pouco instigante, o futuro de Thaksin é a única questão que realmente motiva os eleitores. Os principais candidatos têm plataformas aparentemente inspiradas no hoje defunto partido Thai Rak Thai (Tailandeses Amam Tailandeses), de Thaksin, prometendo ampliar os serviços sociais e investir pesado em infra-estruturais.
Por trás dessa aparente uniformidade de propostas, porém, se escondem profundas diferenças de opinião em relação ao próprio Thaksin. Enquanto o governo militar diz buscar sua extradição para ser submetido a julgamento por corrupção, após congelar US$ 1,9 bilhão em bens de sua família, poucos acreditam que os militares ou seus aliados tenham qualquer desejo real de ver Thaksin retornar ao país.
Contrastando com isso, pode-se prever que o PPP -composto em sua maioria de 200 parlamentares anteriormente do TRT- proteja os interesses de Thaksin e abra o caminho a seu retorno, não como suspeito mas como líder respeitado. "Esta eleição é um referendo sobre a volta de Thaksin ao país", disse Suwai Prammanee, ex-senador candidato a uma vaga no Parlamento pelo PPP.

Risco de novo golpe
Pesquisas de opinião e analistas indicam que o PPP vai se tornar o maior partido no Parlamento de 480 cadeiras, para desagrado dos militares. Desde que tomaram o poder, os líderes golpistas têm procurado desacreditar Thaksin e desmontar a forte máquina eleitoral de seu partido. O ex-premiê foi acusado de abuso de poder em uma transação fundiária, e, em maio, um tribunal dissolveu o TRT e cassou os direitos políticos de 111 de seus líderes, incluindo Thaksin, por cinco anos.
Amplamente visto como agindo com procuração de Thaksin e do velho TRT, o PPP agora parece gozar de vantagem grande em relação ao Partido Democrata, no passado o maior da oposição, e ao Partido da Nação Tailandesa, liderado por desertores do TRT.
Discute-se no país se o Exército realmente permitiria que o PPP tomasse as rédeas do governo. O novo comandante do Exército, Anupong Paojinda, negou publicamente que as Forças Armadas pretendam lançar o que equivaleria a um novo golpe, caso o PPP vença.
Mas as autoridades eleitorais ameaçaram dissolver o PPP depois da descoberta de vídeos em que Thaksin aparece endossando o partido, e analistas acreditam que os militares possam fraudar a eleição. Num memorando secreto vazado recentemente, membros do alto escalão militar exortavam seus subordinados a trabalhar contra a vitória do PPP.
Analistas dizem que, após a eleição, os militares poderiam pressionar partidos menores a não participarem de um governo de coalizão com o PPP. "Os militares farão tudo a seu alcance para impedir o PPP de chegar ao poder", diz o cientista político Thitinan Pongsurihak, da Universidade Chulalongkorn. "Qualquer equação que inclua o PPP no poder seria um risco grande demais para eles."


Tradução de CLARA ALLAIN


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