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Premiê deposto é foco de eleição de hoje na Tailândia
Volta de Thaksin é o único tema que interessa a tailandeses na escolha do Parlamento
Acusado de corrupção, líder foi derrubado por golpe militar em 2006 e se exilou; votação busca restituir estabilidade e democracia
AMY KAZMIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM BANCOC
Em uma noite recente numa
cidadezinha rural da Tailândia,
o veterano político Chalerm
Yoobamrung, um dos líderes
do Partido do Poder do Povo
(PPP), transmitiu uma mensagem simples num comício modesto. Em discurso acalorado,
disse que os partidários de
Thaksin Shinawatra, o ex-premiê afastado no golpe militar
de 2006, devem votar no PPP
nas eleições parlamentares de
hoje para ajudar a trazer de volta o líder populista exilado.
"Se o PPP chegar ao governo,
trarei Thaksin de volta à Tailândia", declarou Chalerm, entre aplausos. "Eu, Chalerm,
embarcarei pessoalmente para
buscá-lo. Mas depende de vocês eu poder fazer isso ou não."
É uma mensagem que ressoa
na área rural da Tailândia, de
cujos eleitores Thaksin recebia
boa parte de seu apoio graças a
suas políticas desenvolvimentistas. "Thaksin cumpria o que
prometia, e os membros de seu
partido trabalhavam duro nesta região", comentou uma professora no comício, que não
quis dizer o nome temendo represália. "Depois do golpe, a vida ficou mais difícil."
Às vésperas de uma eleição
que visa restaurar a democracia
e a estabilidade na Tailândia
após dois anos de turbulência, o
espectro de Thaksin Shinawatra assumiu grande proporção.
A impressão que se tem é que,
numa disputa de outra forma
pouco instigante, o futuro de
Thaksin é a única questão que
realmente motiva os eleitores.
Os principais candidatos têm
plataformas aparentemente
inspiradas no hoje defunto partido Thai Rak Thai (Tailandeses Amam Tailandeses), de
Thaksin, prometendo ampliar
os serviços sociais e investir pesado em infra-estruturais.
Por trás dessa aparente uniformidade de propostas, porém, se escondem profundas
diferenças de opinião em relação ao próprio Thaksin.
Enquanto o governo militar
diz buscar sua extradição para
ser submetido a julgamento
por corrupção, após congelar
US$ 1,9 bilhão em bens de sua
família, poucos acreditam que
os militares ou seus aliados tenham qualquer desejo real de
ver Thaksin retornar ao país.
Contrastando com isso, pode-se prever que o PPP -composto em sua maioria de 200
parlamentares anteriormente
do TRT- proteja os interesses
de Thaksin e abra o caminho a
seu retorno, não como suspeito
mas como líder respeitado.
"Esta eleição é um referendo
sobre a volta de Thaksin ao
país", disse Suwai Prammanee,
ex-senador candidato a uma
vaga no Parlamento pelo PPP.
Risco de novo golpe
Pesquisas de opinião e analistas indicam que o PPP vai se
tornar o maior partido no Parlamento de 480 cadeiras, para
desagrado dos militares.
Desde que tomaram o poder,
os líderes golpistas têm procurado desacreditar Thaksin e
desmontar a forte máquina
eleitoral de seu partido. O ex-premiê foi acusado de abuso de
poder em uma transação fundiária, e, em maio, um tribunal
dissolveu o TRT e cassou os direitos políticos de 111 de seus líderes, incluindo Thaksin, por
cinco anos.
Amplamente visto como
agindo com procuração de
Thaksin e do velho TRT, o PPP
agora parece gozar de vantagem grande em relação ao Partido Democrata, no passado o
maior da oposição, e ao Partido
da Nação Tailandesa, liderado
por desertores do TRT.
Discute-se no país se o Exército realmente permitiria que o
PPP tomasse as rédeas do governo. O novo comandante do
Exército, Anupong Paojinda,
negou publicamente que as
Forças Armadas pretendam
lançar o que equivaleria a um
novo golpe, caso o PPP vença.
Mas as autoridades eleitorais
ameaçaram dissolver o PPP depois da descoberta de vídeos
em que Thaksin aparece endossando o partido, e analistas
acreditam que os militares possam fraudar a eleição.
Num memorando secreto vazado recentemente, membros
do alto escalão militar exortavam seus subordinados a trabalhar contra a vitória do PPP.
Analistas dizem que, após a
eleição, os militares poderiam
pressionar partidos menores a
não participarem de um governo de coalizão com o PPP. "Os
militares farão tudo a seu alcance para impedir o PPP de
chegar ao poder", diz o cientista
político Thitinan Pongsurihak,
da Universidade Chulalongkorn. "Qualquer equação que
inclua o PPP no poder seria um
risco grande demais para eles."
Tradução de CLARA ALLAIN
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