|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Israel tenta fechar 2009 com troca de prisioneiros
Mediador alemão chega hoje à faixa de Gaza com proposta do governo Netanyahu
Em troca da libertação de soldado, Israel soltaria mil palestinos, mas apenas sob a condição de que eles não retornem à Cisjordânia
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
O misterioso alemão responsável pela intermediação entre
Israel e o grupo palestino Hamas chega hoje à faixa de Gaza,
no que deve ser a última chance
de um acordo ainda neste ano
sobre a troca de prisioneiros
entre os dois lados.
A negociação, que se arrasta
há três anos e mobiliza a opinião pública israelense como
poucos assuntos, ganhou ares
de reta final nos últimos dois
dias, quando o gabinete de segurança de Israel conduziu
reuniões maratônicas e demonstrou enorme dificuldade
de chegar a uma decisão.
No cerne do dilema está o
destino do soldado israelense
Gilad Shalit, capturado em junho de 2006, e a exigência do
Hamas de que cerca de mil prisioneiros palestinos, muitos
deles condenados por terrorismo, sejam libertados na troca.
A discussão rachou o gabinete israelense e deixou para o
primeiro-ministro Binyamin
Netanyahu a palavra final. Segundo a imprensa local, ele
aceitou a proposta do Hamas,
mas com ressalvas. A principal:
que os palestinos libertados sigam para a faixa de Gaza ou para o exterior, mas não possam
retornar à Cisjordânia.
É essa a contraproposta que
o mediador alemão, cuja identidade vem sendo mantida em sigilo, deverá apresentar hoje aos
líderes do Hamas em Gaza.
"O dilema de Netanyahu decorre do reconhecimento de
que, se permitir que altos líderes terroristas voltem para suas
casas na Cisjordânia, ele será
culpado por todo atentado que
tiver origem nesse território",
explicou o analista Aluf Benn,
do jornal "Haaretz".
Trata-se também de um dilema pessoal: Netanyahu, cujo irmão foi morto em 1976 no comando de uma operação de resgate de reféns israelenses, sempre se opôs a negociar com terroristas. Agora, sofre uma enorme pressão popular para trazer
de volta Shalit.
A questão central é o preço a
ser pago. Entre os prisioneiros
incluídos na lista que teria sido
apresentada pelo Hamas estão
condenados por atentados que
mataram dezenas de civis israelenses. Além disso, a soltura
de parte dos cerca de 11 mil palestinos em prisões israelenses
fortaleceria o fundamentalista
Hamas na disputa interna palestina contra o secular Fatah.
Mesmo assim, a maioria
apoia um acordo: segundo uma
pesquisa divulgada ontem, 52%
dos israelenses acreditam que o
governo tem obrigação moral
de pagar praticamente qualquer preço para trazer de volta
prisioneiros de guerra. Por outro lado, 35% creem que libertar terroristas serve de incentivo para novos atentados.
Um dos principais defensores do acordo no gabinete de segurança israelense, o ministro
da Defesa Ehud Barak, tentou
afastar a impressão de que Israel estaria se rendendo ao terror. "Nossa prioridade número
um é trazer Gilad de volta para
casa", disse ontem Barak, "mas
não a qualquer preço".
À medida que a negociação
caminha para o seu momento
crítico, ambos os lados endurecem posições em busca de um
acordo mais vantajoso. Um dos
dirigentes do Hamas em Damasco (Síria) disse que o acordo pode naufragar se Israel insistir em enviar um grande número de prisioneiros para o exterior. "Não aceitaremos truques de última hora", disse Izat
Rishak à TV síria.
Texto Anterior: Argentina: Após críticas, Néstor Kirchner acusa Grupo Clarín de mentir Próximo Texto: Frase Índice
|