São Paulo, quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

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Israel tenta fechar 2009 com troca de prisioneiros

Mediador alemão chega hoje à faixa de Gaza com proposta do governo Netanyahu

Em troca da libertação de soldado, Israel soltaria mil palestinos, mas apenas sob a condição de que eles não retornem à Cisjordânia


MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

O misterioso alemão responsável pela intermediação entre Israel e o grupo palestino Hamas chega hoje à faixa de Gaza, no que deve ser a última chance de um acordo ainda neste ano sobre a troca de prisioneiros entre os dois lados.
A negociação, que se arrasta há três anos e mobiliza a opinião pública israelense como poucos assuntos, ganhou ares de reta final nos últimos dois dias, quando o gabinete de segurança de Israel conduziu reuniões maratônicas e demonstrou enorme dificuldade de chegar a uma decisão.
No cerne do dilema está o destino do soldado israelense Gilad Shalit, capturado em junho de 2006, e a exigência do Hamas de que cerca de mil prisioneiros palestinos, muitos deles condenados por terrorismo, sejam libertados na troca.
A discussão rachou o gabinete israelense e deixou para o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu a palavra final. Segundo a imprensa local, ele aceitou a proposta do Hamas, mas com ressalvas. A principal: que os palestinos libertados sigam para a faixa de Gaza ou para o exterior, mas não possam retornar à Cisjordânia.
É essa a contraproposta que o mediador alemão, cuja identidade vem sendo mantida em sigilo, deverá apresentar hoje aos líderes do Hamas em Gaza.
"O dilema de Netanyahu decorre do reconhecimento de que, se permitir que altos líderes terroristas voltem para suas casas na Cisjordânia, ele será culpado por todo atentado que tiver origem nesse território", explicou o analista Aluf Benn, do jornal "Haaretz".
Trata-se também de um dilema pessoal: Netanyahu, cujo irmão foi morto em 1976 no comando de uma operação de resgate de reféns israelenses, sempre se opôs a negociar com terroristas. Agora, sofre uma enorme pressão popular para trazer de volta Shalit.
A questão central é o preço a ser pago. Entre os prisioneiros incluídos na lista que teria sido apresentada pelo Hamas estão condenados por atentados que mataram dezenas de civis israelenses. Além disso, a soltura de parte dos cerca de 11 mil palestinos em prisões israelenses fortaleceria o fundamentalista Hamas na disputa interna palestina contra o secular Fatah.
Mesmo assim, a maioria apoia um acordo: segundo uma pesquisa divulgada ontem, 52% dos israelenses acreditam que o governo tem obrigação moral de pagar praticamente qualquer preço para trazer de volta prisioneiros de guerra. Por outro lado, 35% creem que libertar terroristas serve de incentivo para novos atentados.
Um dos principais defensores do acordo no gabinete de segurança israelense, o ministro da Defesa Ehud Barak, tentou afastar a impressão de que Israel estaria se rendendo ao terror. "Nossa prioridade número um é trazer Gilad de volta para casa", disse ontem Barak, "mas não a qualquer preço".
À medida que a negociação caminha para o seu momento crítico, ambos os lados endurecem posições em busca de um acordo mais vantajoso. Um dos dirigentes do Hamas em Damasco (Síria) disse que o acordo pode naufragar se Israel insistir em enviar um grande número de prisioneiros para o exterior. "Não aceitaremos truques de última hora", disse Izat Rishak à TV síria.


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