São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 2006

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IMBRÓGLIO DIPLOMÁTICO

Serviço secreto russo afirma que diplomatas britânicos usavam falsa pedra para receber dados sigilosos

Rússia acusa Reino Unido de espionagem

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

Um incidente que mistura lembranças da Guerra Fria com toques de Maxwell Smart, o Agente 86 do seriado de televisão, abriu uma crise diplomática entre a Rússia e Reino Unido.
O russo FSB (Serviço de Segurança Federal), o sucessor da KGB (serviço secreto soviético), acusou diplomatas britânicos de espionarem suas atividades com a ajuda de uma pedra falsa, em cujo interior havia um aparelho eletrônico.
De acordo com a denúncia, exibida com riqueza de detalhes anteontem à noite pela emissora estatal de televisão Rossiya, quatro funcionários da Embaixada do Reino Unido em Moscou e um russo que trabalhava ao lado deles abasteciam computadores portáteis com dados captados pela pedra, colocada numa rua da capital russa.
O programa mostrou imagens dos supostos espiões em ação, um deles carregando a falsa pedra em que havia o aparelho eletrônico.
No mesmo tom acusatório, o FSB, que já teve em seus quadros o presidente Vladimir Putin, afirmou ainda que um dos diplomatas britânicos financiava ONGs russas.
O governo britânico não negou as acusações. O Ministério das Relações Exteriores se disse "surpreso e preocupado" e informou que não há nenhuma irregularidade na relação do país com as ONGs.

Blair não nega
Questionado sobre o assunto durante sua entrevista coletiva mensal, o primeiro-ministro Tony Blair foi cínico. Disse que soubera do caso pela TV e tergiversou. "Receio que vocês terão a típica: "Nós nunca comentamos questões de segurança" -exceto quando queremos, obviamente. Acho que, quanto menos se falar sobre isso, melhor."
Segundo o FSB, o russo que participava do grupo foi preso. O porta-voz do órgão, Serguei Ignatchenko, afirmou que a questão poderia abalar as relações entre Moscou e Londres e seria resolvida num "nível político", levantando a possibilidade de que os quatro diplomatas possam ser convidados a deixar o país.
O alarde dos russos foi visto por alguns analistas como uma forma de intimidar o trabalho que fazem no país ONGs estrangeiras de defesa da democracia e dos direitos humanos.
O governo russo é sistematicamente acusado de controlar a imprensa e perseguir opositores. Uma lei sancionada recentemente pelo presidente Putin proíbe estrangeiros de fundarem ONGs com "propósitos políticos".
No curto comunicado da Chancelaria britânica, um porta-voz afirma que "é sabido que o governo dá apoio financeiro a projetos de ONGs russas no campo dos direitos humanos e da sociedade civil. Toda a nossa assistência é prestada abertamente com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de uma sociedade civil saudável na Rússia".
Embora o tenham qualificado como "de alta tecnologia", os russos não detalharam como funcionava o esquema. Aparentemente, o aparelho colocado dentro da pedra teria capacidade de processar dados veiculados na região onde ela era colocada. Essas informações mais tarde eram passadas para palm tops usados pelos diplomatas britânicos.


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