São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

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Bush propõe aumentar uso de etanol

Presidente quer reduzir consumo de gasolina em 20% em dez anos; maior parte da economia viria do combustível de álcool

Com a popularidade em recorde negativo por causa do Iraque, presidente tenta desviar a atenção para as questões domésticas

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Com a popularidade em queda livre e a maneira como conduz a Guerra do Iraque minando sua base de apoio, o presidente Bush apelaria para uma questão cara aos norte-americanos no discurso "O Estado da União", que faria ontem a partir das 21h01 locais (0h01 de hoje de Brasília): o consumo de energia.
Segundo detalhes do plano que apresentaria ao Congresso dos EUA enviados à imprensa horas antes do discurso, Bush quer que o consumo de gasolina do país diminua 20% nos próximos dez anos e que o etanol seja responsável por 75% da compensação dessa redução.
Batizado de "Vinte em dez", o plano determina que o uso obrigatório de combustíveis renováveis seja de 132,5 bilhões de litros em 2017 -um salto gigantesco, quando se leva em conta que os EUA devem produzir 28,4 bilhões de litros de etanol em 2007.

Efeito no Brasil
A longo prazo, a medida pode ser uma boa notícia para o Brasil, que é o segundo maior produtor mundial do combustível (o primeiro são os EUA).
Tal como está organizada a produção norte-americana hoje, porém, o mais provável é que de imediato beneficie os agricultores de milho norte-americanos, que contam com um poderoso lobby entre os republicanos no Congresso e dispõem de generosos subsídios do governo federal. Pelo menos metade do novo etanol deve ser feito a partir do milho.
Hoje, os EUA têm de importar 65% do petróleo consumido, que responde por 40% de toda a energia no país. Esse total representa um quarto de todo o petróleo usado no mundo. A maior parte das exportações vem de regiões instáveis como o Oriente Médio ou países com os quais os EUA têm relação conturbada, como a Venezuela.
Com esse e outros anúncios relacionados à saúde pública, educação infantil e imigração, Bush tenta desviar a agenda do fronte externo para a política doméstica. O objetivo é tanto encontrar pontos em comum com a oposição democrata, que conquistou em novembro a maioria do Congresso, quanto lançar cortina de fumaça em seu plano para o Iraque, que enfrenta forte rejeição pública e começa a alienar até mesmo a base governista.

Iraque
Nas últimas horas, liderados por John Warner, republicano mais graduado da Comissão de Forças Armadas do Senado, políticos da situação expressaram sua oposição ao aumento de tropas proposto por Bush no último dia 10. "O soldado americano não deve ser colocado no meio de uma briga entre os sunitas e xiitas", disse Warner.
Os políticos ecoam números eloqüentes de pesquisas de opinião recentes. Levantamento do "Washington Post" e da ABC News mostou que 65% se opõem ao envio de mais soldados. Bush faria seu discurso anual com seu pior índice de aprovação desde que assumiu o primeiro mandato, em 2001 (veja quadro nesta página).
De acordo com o American Presidency Project, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, apenas dois outros presidentes em época de guerra fizeram tal discurso com aprovação em níveis tão baixos: Richard Nixon, durante a Guerra do Vietnã e no auge do Escândalo do Watergate, em 1974, e Harry Truman, em 1952, durante a Guerra da Coréia.
Ainda assim, a Guerra do Iraque não estaria ausente do discurso. Bush deveria ocupar metade de seu tempo de 40 minutos para reforçar a defesa de seu plano, voltar a criticar o programa nuclear do Irã e acusar o país de interferência no Iraque.
Nas primeiras horas de hoje, os democratas apresentariam seu discurso de réplica. Seria feito pelo senador James Webb, ex-marine que foi secretário da Marinha no governo do republicano Ronald Reagan (1981-1988) e lutou no Vietnã. Sua fala serviria para dividir o impacto: é um democrata conservador, que se opôs à invasão do Iraque, mas se recusou a usar sua influência para impedir que o filho fosse mandado à guerra.


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