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Bush propõe aumentar uso de etanol
Presidente quer reduzir consumo de gasolina em 20% em dez anos; maior parte da economia viria do combustível de álcool
Com a popularidade em recorde negativo por causa do Iraque, presidente tenta desviar a atenção para as questões domésticas
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Com a popularidade em queda livre e a maneira como conduz a Guerra do Iraque minando sua base de apoio, o presidente Bush apelaria para uma
questão cara aos norte-americanos no discurso "O Estado da
União", que faria ontem a partir das 21h01 locais (0h01 de hoje de Brasília): o consumo de
energia.
Segundo detalhes do plano
que apresentaria ao Congresso
dos EUA enviados à imprensa
horas antes do discurso, Bush
quer que o consumo de gasolina do país diminua 20% nos
próximos dez anos e que o etanol seja responsável por 75% da
compensação dessa redução.
Batizado de "Vinte em dez", o
plano determina que o uso
obrigatório de combustíveis renováveis seja de 132,5 bilhões
de litros em 2017 -um salto gigantesco, quando se leva em
conta que os EUA devem produzir 28,4 bilhões de litros de
etanol em 2007.
Efeito no Brasil
A longo prazo, a medida pode
ser uma boa notícia para o Brasil, que é o segundo maior produtor mundial do combustível
(o primeiro são os EUA).
Tal como está organizada a
produção norte-americana hoje, porém, o mais provável é que
de imediato beneficie os agricultores de milho norte-americanos, que contam com um poderoso lobby entre os republicanos no Congresso e dispõem
de generosos subsídios do governo federal. Pelo menos metade do novo etanol deve ser
feito a partir do milho.
Hoje, os EUA têm de importar 65% do petróleo consumido, que responde por 40% de
toda a energia no país. Esse total representa um quarto de todo o petróleo usado no mundo.
A maior parte das exportações
vem de regiões instáveis como
o Oriente Médio ou países com
os quais os EUA têm relação
conturbada, como a Venezuela.
Com esse e outros anúncios
relacionados à saúde pública,
educação infantil e imigração,
Bush tenta desviar a agenda do
fronte externo para a política
doméstica. O objetivo é tanto
encontrar pontos em comum
com a oposição democrata, que
conquistou em novembro a
maioria do Congresso, quanto
lançar cortina de fumaça em
seu plano para o Iraque, que
enfrenta forte rejeição pública
e começa a alienar até mesmo a
base governista.
Iraque
Nas últimas horas, liderados
por John Warner, republicano
mais graduado da Comissão de
Forças Armadas do Senado, políticos da situação expressaram
sua oposição ao aumento de
tropas proposto por Bush no
último dia 10. "O soldado americano não deve ser colocado no
meio de uma briga entre os sunitas e xiitas", disse Warner.
Os políticos ecoam números
eloqüentes de pesquisas de opinião recentes. Levantamento
do "Washington Post" e da ABC
News mostou que 65% se
opõem ao envio de mais soldados. Bush faria seu discurso
anual com seu pior índice de
aprovação desde que assumiu o
primeiro mandato, em 2001
(veja quadro nesta página).
De acordo com o American
Presidency Project, da Universidade da Califórnia em Santa
Barbara, apenas dois outros
presidentes em época de guerra
fizeram tal discurso com aprovação em níveis tão baixos: Richard Nixon, durante a Guerra
do Vietnã e no auge do Escândalo do Watergate, em 1974, e
Harry Truman, em 1952, durante a Guerra da Coréia.
Ainda assim, a Guerra do Iraque não estaria ausente do discurso. Bush deveria ocupar metade de seu tempo de 40 minutos para reforçar a defesa de seu
plano, voltar a criticar o programa nuclear do Irã e acusar o
país de interferência no Iraque.
Nas primeiras horas de hoje,
os democratas apresentariam
seu discurso de réplica. Seria
feito pelo senador James
Webb, ex-marine que foi secretário da Marinha no governo do
republicano Ronald Reagan
(1981-1988) e lutou no Vietnã.
Sua fala serviria para dividir o
impacto: é um democrata conservador, que se opôs à invasão
do Iraque, mas se recusou a
usar sua influência para impedir que o filho fosse mandado à
guerra.
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