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Palestinos explodem passagem para Egito
Com faixa de Gaza isolada por Israel, ao menos 200 mil pessoas atravessam a fronteira para comprar alimentos e mercadorias
Governo egípcio autoriza invasão e diz que moradores do território "passam fome por causa do bloqueio"; Israel se manifesta ao Cairo
Hatem Omar/Associated Press
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Palestinos passam por cima do muro que dividia a fronteira com o Egito em Rafah; maioria comprou comida e remédios, entre outros produtos, antes de voltar
DA REDAÇÃO
No sétimo dia do isolamento
imposto por Israel à faixa de
Gaza, militantes palestinos
derrubaram ontem parte do
muro que separa o território do
Egito, perto da passagem de
Rafah, permitindo que dezenas
de milhares de pessoas atravessassem a fronteira em busca de
alimentos e outros produtos.
O ditador do Egito, Hosni
Mubarak, anunciou ter dado
ordens para que as tropas encarregadas de controlar a fronteira permitissem a passagem
dos palestinos na parte egípcia
da cidade fronteiriça de Rafah.
"Eu disse que os deixassem entrar para comer e comprar comida, desde que não estivessem carregando armas", afirmou Mubarak. Na véspera, ele
havia ordenado a suas forças
que impedissem uma tentativa
semelhante de invasão.
"Mas hoje [ontem] um grande número deles voltou porque
os palestinos em Gaza estão
passando fome devido ao cerco
israelense. Tropas egípcias os
acompanharam para comprar
comida e depois permitiram
que eles voltassem à faixa de
Gaza", justificou Mubarak.
A invasão começou de madrugada, quando militantes do
grupo islâmico Hamas, que
controla a faixa de Gaza, abriram 15 buracos com dinamite e
escavadeiras em dois terços do
muro de metal e concreto que
serve de fronteira. Horas depois, uma maré humana invadiu o Egito. Integrantes do Hamas controlavam a situação e
organizavam uma fila de entrada e outra de saída.
Comércio
Estimativas sobre o número
de pessoas que atravessaram a
fronteira variam de 200 mil a
500 mil -o equivalente a um
terço da população de Gaza.
A maioria foi à parte egípcia
de Rafah em busca de comida,
combustível, cigarros e outros
bens que são escassos ou muito
caros em Gaza. Alguns retornavam até com cabras, ovelhas e
televisores para revendê-los no
lado palestino. No centro de
Gaza, uma feira foi improvisada
com produtos comprados no
Egito.
"Tenho uma loja em Khan
Yunes (sul do território), mas
estou sem a maioria dos produtos. Vim comprar o que falta",
disse um morador identificado
apenas como Hamedan, enquanto carregava caixas de detergente com os dois filhos.
Ao descer do táxi que o trouxe de volta a Gaza, Mohamed
Saeed não escondia a satisfação. "Refiz o estoque da casa
por meses. Comprei comida, cigarros e até dois galões de diesel para o meu carro", festejou.
Mohammed Abu Ghazel, 29,
disse ter atravessado a fronteira três vezes ao longo do dia.
Ele comprou cigarros no Egito
e os vendeu por um preço cinco
vezes mais alto em Gaza. "Com
isso, posso alimentar a família
por um mês", disse.
"Fazia meses que eu não tomava uma Coca-Cola. Em Gaza, o preço está multiplicado
por dez", afirmou um morador
que não quis se identificar.
Desde que o Hamas expulsou
de Gaza as forças leais ao presidente da Autoridade Nacional
Palestina (ANP), Mahmoud
Abbas, em junho de 2007, Israel restringiu drasticamente
as saídas e entradas do território. A situação piorou na semana passada, quando o Exército
israelense isolou totalmente a
área, em resposta ao lançamento de mísseis Qassam contra Israel. Na terça, o bloqueio foi aliviado para permitir a entrada
de combustível destinado a alimentar a central elétrica local.
O governo de Israel expressou preocupação com a movimentação e exigiu que o Egito
cumpra o acordo que lhe confere a responsabilidade de controlar a fronteira sul da faixa de
Gaza.
O líder do Hamas em Gaza,
Ismail Haniyeh, convidou ontem o movimento Fatah, de Abbas, e o governo egípcio a negociarem um novo acordo para o
controle das passagens fronteiriças de Gaza.
Com agências internacionais
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