São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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Palestinos explodem passagem para Egito

Com faixa de Gaza isolada por Israel, ao menos 200 mil pessoas atravessam a fronteira para comprar alimentos e mercadorias

Governo egípcio autoriza invasão e diz que moradores do território "passam fome por causa do bloqueio"; Israel se manifesta ao Cairo

Hatem Omar/Associated Press
Palestinos passam por cima do muro que dividia a fronteira com o Egito em Rafah; maioria comprou comida e remédios, entre outros produtos, antes de voltar

DA REDAÇÃO

No sétimo dia do isolamento imposto por Israel à faixa de Gaza, militantes palestinos derrubaram ontem parte do muro que separa o território do Egito, perto da passagem de Rafah, permitindo que dezenas de milhares de pessoas atravessassem a fronteira em busca de alimentos e outros produtos.
O ditador do Egito, Hosni Mubarak, anunciou ter dado ordens para que as tropas encarregadas de controlar a fronteira permitissem a passagem dos palestinos na parte egípcia da cidade fronteiriça de Rafah. "Eu disse que os deixassem entrar para comer e comprar comida, desde que não estivessem carregando armas", afirmou Mubarak. Na véspera, ele havia ordenado a suas forças que impedissem uma tentativa semelhante de invasão.
"Mas hoje [ontem] um grande número deles voltou porque os palestinos em Gaza estão passando fome devido ao cerco israelense. Tropas egípcias os acompanharam para comprar comida e depois permitiram que eles voltassem à faixa de Gaza", justificou Mubarak.
A invasão começou de madrugada, quando militantes do grupo islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza, abriram 15 buracos com dinamite e escavadeiras em dois terços do muro de metal e concreto que serve de fronteira. Horas depois, uma maré humana invadiu o Egito. Integrantes do Hamas controlavam a situação e organizavam uma fila de entrada e outra de saída.

Comércio
Estimativas sobre o número de pessoas que atravessaram a fronteira variam de 200 mil a 500 mil -o equivalente a um terço da população de Gaza.
A maioria foi à parte egípcia de Rafah em busca de comida, combustível, cigarros e outros bens que são escassos ou muito caros em Gaza. Alguns retornavam até com cabras, ovelhas e televisores para revendê-los no lado palestino. No centro de Gaza, uma feira foi improvisada com produtos comprados no Egito.
"Tenho uma loja em Khan Yunes (sul do território), mas estou sem a maioria dos produtos. Vim comprar o que falta", disse um morador identificado apenas como Hamedan, enquanto carregava caixas de detergente com os dois filhos.
Ao descer do táxi que o trouxe de volta a Gaza, Mohamed Saeed não escondia a satisfação. "Refiz o estoque da casa por meses. Comprei comida, cigarros e até dois galões de diesel para o meu carro", festejou.
Mohammed Abu Ghazel, 29, disse ter atravessado a fronteira três vezes ao longo do dia. Ele comprou cigarros no Egito e os vendeu por um preço cinco vezes mais alto em Gaza. "Com isso, posso alimentar a família por um mês", disse.
"Fazia meses que eu não tomava uma Coca-Cola. Em Gaza, o preço está multiplicado por dez", afirmou um morador que não quis se identificar.
Desde que o Hamas expulsou de Gaza as forças leais ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, em junho de 2007, Israel restringiu drasticamente as saídas e entradas do território. A situação piorou na semana passada, quando o Exército israelense isolou totalmente a área, em resposta ao lançamento de mísseis Qassam contra Israel. Na terça, o bloqueio foi aliviado para permitir a entrada de combustível destinado a alimentar a central elétrica local.
O governo de Israel expressou preocupação com a movimentação e exigiu que o Egito cumpra o acordo que lhe confere a responsabilidade de controlar a fronteira sul da faixa de Gaza.
O líder do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, convidou ontem o movimento Fatah, de Abbas, e o governo egípcio a negociarem um novo acordo para o controle das passagens fronteiriças de Gaza.


Com agências internacionais


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