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Guerra em Gaza fortalece direita em Israel
Campanha eleitoral passa a priorizar segurança; Netanyahu mantém dianteira, mas é cedo para dizer se será novo premiê
Guinada conservadora é sublinhada por ascensão do partido Israel Beitenu, que questiona direito de árabes de terem cidadania do país
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
O governo de Israel passou os
22 dias da ofensiva na faixa de
Gaza negando que a proximidade das eleições tenha tido algum peso na decisão de ordenar os ataques contra o Hamas.
Mas, mesmo que a política não
tenha motivado a guerra, pesquisas de opinião feitas depois
do cessar-fogo mostram que a
guerra influenciou a política.
A menos de três semanas da
eleição que definirá o novo governo do país, no dia 10 de fevereiro, a guerra reforçou a guinada à direita dos últimos anos no
cenário político israelense. Ao
mesmo tempo, recolocou a segurança como o tema principal
da campanha, antes dominada
pela crise econômica.
Além de reduzir as diferenças ideológicas entre os discursos dos três principais candidatos ao cargo de primeiro-ministro, essa tendência fortaleceu a
ultradireita, sobretudo o partido Israel Beitenu (Israel Nossa
Casa). Seu polêmico líder, Avigdor Liberman, desponta como
um dos destaques da votação.
De acordo com uma pesquisa
divulgada pelo jornal "Yediot
Ahronot", o mais popular do
país, o partido conservador Likud receberia o maior número
de votos se os israelenses fossem hoje às urnas. Em segundo
lugar ficaria o Kadima, da chanceler Tzipi Livni, e em terceiro
o Trabalhista, do ministro da
Defesa, Ehud Barak.
A dianteira do partido do ex-premiê Binyamin Netanyahu,
contudo, não lhe garante a formação de um novo governo. Segundo a pesquisa, o Likud teria
29 das 120 cadeiras do Knesset
(Parlamento), tornando necessária uma aliança com pelo menos outros dois partidos. O Kadima teria 25 deputados, e os
trabalhistas, 17.
Criado há dez anos com uma
plataforma acusada de racista,
por questionar o direito de cidadania dos árabes do país, o
Israel Beitenu pularia dos 11
deputados que tem hoje para
14. Portanto, a uma distância
mínima do Partido Trabalhista,
herdeiro dos pioneiros socialistas que fundaram Israel.
Na pesquisa do jornal "Maariv", o segundo mais lido, a diferença desaparece, com trabalhistas e ultradireitistas empatados em 16 deputados.
Nesta semana, a Suprema
Corte derrubou decisão da Comissão Eleitoral do Knesset de
barrar os partidos árabes das
eleições, iniciativa liderada pelo Israel Beitenu. Mesmo com o
veto, o jornal de esquerda
"Haaretz" manifestou em editorial temer uma "libermanização" da política israelense, que
teria como vítima principal a
minoria árabe (20%).
As preferências partidárias
não são a única indicação do
endurecimento de opiniões.
Quase metade dos entrevistados acha que os ataques deveriam ter continuado até a reocupação de Gaza. Na véspera da
ofensiva, a grande maioria rejeitava essa possibilidade.
"A segurança voltou ao centro do debate", escreveu a colunista do "Yediot Ahronot" Sima
Kadmon. "Depois de período
em que todos [os candidatos] se
fantasiaram de economistas
que nos tirariam da crise, a tendência se inverteu totalmente."
A guerra melhorou a performance dos três principais candidatos. Livni e Barak, que comandaram a guerra ao lado do
premiê Ehud Olmert, saíram
fortalecidos por atenderem à
pressão pública, que esperava
uma resposta a oito anos de foguetes disparados de Gaza. Netanyahu, que sempre defendeu
a opção militar, manteve o status de quem tem melhor sintonia com o eleitorado.
O apoio da quase totalidade
dos israelenses à ofensiva explica a insatisfação de boa parte
do público com o desfecho.
Quase metade concorda com
Liberman em que os ataques só
deveriam ter sido suspensos
após a queda do Hamas.
Na esplanada do Muro das
Lamentações não há um único
cartaz eleitoral. A polícia proíbe a propaganda política no local mais sagrado para o judaísmo, mas poucos escondem seu
sentimento. "Voto no Liberman porque ele é o único que
vai direto ao ponto: se o Hamas
quer acabar com Israel, Israel
tem que acabar com o Hamas
antes", disse Efraim, 23, estudante de uma escola religiosa
na cidade velha de Jerusalém.
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