São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2009

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Guerra em Gaza fortalece direita em Israel

Campanha eleitoral passa a priorizar segurança; Netanyahu mantém dianteira, mas é cedo para dizer se será novo premiê

Guinada conservadora é sublinhada por ascensão do partido Israel Beitenu, que questiona direito de árabes de terem cidadania do país

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

O governo de Israel passou os 22 dias da ofensiva na faixa de Gaza negando que a proximidade das eleições tenha tido algum peso na decisão de ordenar os ataques contra o Hamas. Mas, mesmo que a política não tenha motivado a guerra, pesquisas de opinião feitas depois do cessar-fogo mostram que a guerra influenciou a política.
A menos de três semanas da eleição que definirá o novo governo do país, no dia 10 de fevereiro, a guerra reforçou a guinada à direita dos últimos anos no cenário político israelense. Ao mesmo tempo, recolocou a segurança como o tema principal da campanha, antes dominada pela crise econômica.
Além de reduzir as diferenças ideológicas entre os discursos dos três principais candidatos ao cargo de primeiro-ministro, essa tendência fortaleceu a ultradireita, sobretudo o partido Israel Beitenu (Israel Nossa Casa). Seu polêmico líder, Avigdor Liberman, desponta como um dos destaques da votação.
De acordo com uma pesquisa divulgada pelo jornal "Yediot Ahronot", o mais popular do país, o partido conservador Likud receberia o maior número de votos se os israelenses fossem hoje às urnas. Em segundo lugar ficaria o Kadima, da chanceler Tzipi Livni, e em terceiro o Trabalhista, do ministro da Defesa, Ehud Barak.
A dianteira do partido do ex-premiê Binyamin Netanyahu, contudo, não lhe garante a formação de um novo governo. Segundo a pesquisa, o Likud teria 29 das 120 cadeiras do Knesset (Parlamento), tornando necessária uma aliança com pelo menos outros dois partidos. O Kadima teria 25 deputados, e os trabalhistas, 17.
Criado há dez anos com uma plataforma acusada de racista, por questionar o direito de cidadania dos árabes do país, o Israel Beitenu pularia dos 11 deputados que tem hoje para 14. Portanto, a uma distância mínima do Partido Trabalhista, herdeiro dos pioneiros socialistas que fundaram Israel.
Na pesquisa do jornal "Maariv", o segundo mais lido, a diferença desaparece, com trabalhistas e ultradireitistas empatados em 16 deputados.
Nesta semana, a Suprema Corte derrubou decisão da Comissão Eleitoral do Knesset de barrar os partidos árabes das eleições, iniciativa liderada pelo Israel Beitenu. Mesmo com o veto, o jornal de esquerda "Haaretz" manifestou em editorial temer uma "libermanização" da política israelense, que teria como vítima principal a minoria árabe (20%).
As preferências partidárias não são a única indicação do endurecimento de opiniões. Quase metade dos entrevistados acha que os ataques deveriam ter continuado até a reocupação de Gaza. Na véspera da ofensiva, a grande maioria rejeitava essa possibilidade.
"A segurança voltou ao centro do debate", escreveu a colunista do "Yediot Ahronot" Sima Kadmon. "Depois de período em que todos [os candidatos] se fantasiaram de economistas que nos tirariam da crise, a tendência se inverteu totalmente."
A guerra melhorou a performance dos três principais candidatos. Livni e Barak, que comandaram a guerra ao lado do premiê Ehud Olmert, saíram fortalecidos por atenderem à pressão pública, que esperava uma resposta a oito anos de foguetes disparados de Gaza. Netanyahu, que sempre defendeu a opção militar, manteve o status de quem tem melhor sintonia com o eleitorado.
O apoio da quase totalidade dos israelenses à ofensiva explica a insatisfação de boa parte do público com o desfecho. Quase metade concorda com Liberman em que os ataques só deveriam ter sido suspensos após a queda do Hamas.
Na esplanada do Muro das Lamentações não há um único cartaz eleitoral. A polícia proíbe a propaganda política no local mais sagrado para o judaísmo, mas poucos escondem seu sentimento. "Voto no Liberman porque ele é o único que vai direto ao ponto: se o Hamas quer acabar com Israel, Israel tem que acabar com o Hamas antes", disse Efraim, 23, estudante de uma escola religiosa na cidade velha de Jerusalém.


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