São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Líder no Iêmen é ex-preso de Guantánamo, diz Al Qaeda

Episódio ressalta obstáculo ao fechamento da prisão

ROBERT WORTH
DO "NEW YORK TIMES", EM BEIRUTE

Potenciais complicações do fechamento de Guantánamo -ordenado na quinta pelo presidente dos EUA, Barack Obama- foram enfatizadas ontem pelo surgimento de um ex-detento da prisão militar como vice-líder da Al Qaeda no Iêmen.
Said al Shihri, 35, é suspeito de participar de um atentado contra a Embaixada dos EUA em Sana que matou dez pessoas em setembro. Ele foi solto e entregue à custódia da Arábia Saudita em 2007 e ali passou por um programa de reabilitação de combatentes islâmicos até ressurgir na Al Qaeda.
Sua posição foi anunciada em comunicado do grupo na internet e confirmada por um agente americano de contraterrorismo. "Trata-se do mesmo sujeito", disse o funcionário, sob condição de anonimato. "Ele voltou à Arábia Saudita em 2007, mas como chegou ao Iêmen continua a ser incerto."
Um jornalista iemenita que entrevistou os líderes da Al Qaeda no Iêmen um ano atrás, Abduela Shaya, também confirmou a identidade. Ele disse que Shihri descreveu sua viagem de Cuba ao Iêmen e forneceu seu número em Guantánamo, 372. O número bate com documentos do Pentágono.
O Departamento da Defesa dos EUA chegou a afirmar que dezenas de ex-prisioneiros de Guantánamo "voltaram à luta", mas a alegação, difícil de documentar, é vista com ceticismo.
De qualquer forma, o desdobramento surge em um momento em que congressistas republicanos criticam o plano de fechar o campo de detenção militar americano em Cuba sem que haja outras medidas para lidar com os prisioneiros.
Quase metade dos cerca de 250 detentos é iemenita, e os esforços para repatriá-los dependem da criação de um programa de reabilitação no país em parte financiado pelos EUA.
Segundo dados do Pentágono, Shihri treinou táticas de guerra urbana em um acampamento afegão. Duas semanas após o 11 de Setembro, ele foi ao Afeganistão via Bahrein e Paquistão. Foi ferido em um ataque aéreo e passou 45 dias em um hospital paquistanês.
Os documentos dizem que Shihri se reuniu com um grupo de "extremistas" no Irã e ajudou a infiltrá-los no Afeganistão. Também informam que ele foi acusado de tentar organizar o assassinato de um escritor.
Mas, em uma seção que descrevia possíveis motivos para que fosse solto de Guantánamo, os documentos dizem que Shihri alegou ter viajado ao Irã para "adquirir tapetes para sua loja em Riad" e que ele negou conhecer os terroristas, relatando que, "se libertado, provavelmente retornaria a Riad para se unir à sua família".
O Iêmen começou a cooperar com os EUA no fim de 2001, mas a parceria tem se provado complicada, e alguns suspeitos-chave escaparam misteriosamente de prisões no país.


Texto Anterior: Músicos fizeram playback na posse para preservar seus instrumentos do frio
Próximo Texto: Ataques dos EUA matam ao menos 15 no Paquistão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.