|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA se dizem "agradecidos" por papel do Brasil em relação ao Irã
Novo papel global brasileiro fará com que país "esbarre" mais nos EUA e relação vai requerer "criatividade", diz novo embaixador em Brasília, Thomas Shannon
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O novo embaixador dos EUA
no Brasil, Thomas Shannon,
disse que seu país estava "agradecido" aos brasileiros por terem transmitido de maneira direta ao Irã as preocupações da
comunidade internacional com
a falta de transparência do programa nuclear de Teerã.
"O Brasil achou uma maneira
de entregar algumas mensagens realmente importantes, e
elas não são mensagens dos
EUA, são amplamente compartilhadas e têm a ver com a importância de obedecer a acordos internacionais e respeitar
direitos humanos, não só políticos, mas de liberdade religiosa", disse Shannon anteontem,
em Washington.
"Também a importância de a
comunidade internacional endereçar a grande falta de confiança na transparência do programa nuclear [do Irã]", continuou. "Somos agradecidos aos
brasileiros por terem podido
entregar essas mensagens de
maneira direta."
A afirmação é a mais positiva
até agora a vir da diplomacia do
governo Barack Obama desde a
aproximação recente entre o
Brasil e o Irã, que culminou na
recepção do iraniano Mahmoud Ahmadinejad pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
em novembro, ambos fatos que
elevaram a tensão entre Brasília e Washington.
Confirma ainda teor de carta
que Obama tinha escrito a Lula
dias antes do encontro, em que,
segundo relatos, pedia ao brasileiro que repassasse a posição
americana em relação ao Irã, de
maior engajamento desde que
o regime dos aiatolás esclareça
suas intenções nucleares e dê
acesso ao seu programa.
"No fim, o teste de nossa diplomacia, não só dos EUA mas
a brasileira, e o esforço internacional maior de lidar com o Irã
serão julgados não por nosso
engajamento ou pelos processos que usamos, mas por nossos resultados", disse. "E é isso
que eu chamo de ter uma diplomacia movida a fatos. Nós temos de determinar o que funciona e o que não funciona."
Em encontro anteontem
com os embaixadores dos EUA
para Argentina, Chile, Paraguai
e Uruguai, promovido pelo Brazil Institute do Wilson Center,
Shannon disse ainda que os
EUA estavam "encantados"
com a presença no Conselho de
Segurança da ONU do Brasil,
que ocupa um assento provisório desde o dia 1º e luta por uma
vaga permanente.
O diplomata americano começou a dizer que o país era
uma potência emergente e depois se corrigiu: "O Brasil já
emergiu; é um ator global, uma
potência global". Nessa nova
capacidade, afirmou, é normal
que o país e os EUA "esbarrem"
mais em assuntos inéditos.
"Um dos desafios que tanto o
Brasil como os EUA têm, principalmente nossos corpos diplomáticos, é como vamos nos
entender conforme vamos esbarrando um no outro em partes do mundo onde nós na verdade nunca tínhamos nos esbarrado antes", afirmou.
Em sua fala inicial, Shannon
havia mencionado que o novo
patamar do relacionamento bilateral trará "desafios": "Isso é
uma coisa boa para a relação.
Mas vai requerer alguma criatividade; vai requerer a reimaginação do possível".
Texto Anterior: Opinião: Erros repetidos não podem ser acobertados pelos escombros Próximo Texto: Andes separam estabilidade da turbulência Índice
|