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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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ATAQUE DO IMPÉRIO

PRISIONEIROS DE GUERRA

Iraque exibe 5 americanos capturados

Reuters/TV iraquiana
Imagens da TV iraquiana mostram os cinco soldados norte-americanos que foram capturados pelo Iraque durante combates em Nassiriah, no sul do país, e agora são prisioneiros de guerra

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

O Iraque exibiu ontem o dia inteiro na TV estatal cinco soldados norte-americanos capturados -quatro homens brancos e uma mulher negra-, todos da 507ª Companhia de Manutenção. Em cenas constrangedoras, eles tentavam responder a questões de um intérprete.
A TV iraquiana entremeava as imagens, depois retransmitidas para o resto do Oriente Médio e para o mundo pela rede de TV árabe Al Jazeera, com imagens chocantes de um local com o que chamou de cadáveres de quatro soldados norte-americanos.
Os soldados teriam sido pegos perto da cidade de Nassiriah, à beira do rio Eufrates, 320 km ao sul de Bagdá. Em entrevista na tarde de ontem, o ministro da Defesa, Sultan Ahmed Hashim, se recusou a dar detalhes da captura e a dizer quantos soldados inimigos haviam sido presos até agora.
"Quando soubermos os detalhes e números finais, diremos a vocês", afirmou. Indagado sobre o local e as condições e o local em que os cinco mostrados na TV estavam sendo mantidos, respondeu, rindo: "Aqui", referindo-se ao hotel Sheraton de Bagdá, onde acontecia a entrevista.
O presidente dos EUA, George W. Bush, exigiu bom tratamento aos prisioneiros. A Cruz Vermelha disse que a exibição na TV violava as Convenções de Genebra. As capturas ocorreram no momento em que o Iraque mostra maior resistência à invasão.

Interrogatório
Nas imagens exibidas pela TV, um intérprete começava perguntando basicamente o nome, a idade, a companhia e o país de cada um dos cinco presos. Um deles, que disse ser do Texas, estava deitado e trazia os olhos machucados, foi obrigado a levantar para aparecer melhor na frente das câmeras. A mulher, que se identificou como Sharon, 30 anos, também do Texas, exibia o pé esquerdo enfaixado.
Outro, que se identificou como Miller, do Kansas, o mais falante, respondeu que veio ao Iraque porque foi mandado e que tinha vindo "para consertar o que estava quebrado", quando indagado sobre sua função. O tradutor perguntou então se ele não tinha vindo para atirar nos iraquianos: "Se eles não atiram em mim, não atiro neles", respondeu.
Em outro segmento, pelo menos quatro corpos de soldados norte-americanos espalhados pelo chão eram mostrados, enquanto alguém arrumava suas identificações e tirava documentos de seus bolsos.
Aparentemente, nenhum mostrava ferimento grave. A certa altura, rindo, um funcionário tirou a camiseta que cobria o rosto de um dos corpos para que a visão da câmera ficasse melhor. Hasim não comentou as imagens, mas afirmou que 25 soldados da coalizão haviam sido mortos pelo Iraque nos últimos dois dias.
No sábado à noite, declaração atribuída ao presidente iraquiano, Saddam Hussein, prometia respeitar os direitos de prisioneiros de guerra. "O Iraque, por respeito a si mesmo e à humanidade, respeitará os prisioneiros de guerra do inimigo. Respeitaremos seus direitos de acordo com as Convenções de Genebra."
Na mesma declaração foi anunciada uma recompensa de US$ 33 mil para quem capturar vivo um piloto americano ou britânico. O valor cai para a metade se o piloto estiver morto.
No início da madrugada de hoje, um porta-voz das forças britânicas informou que dois soldados do Reino Unido estavam desaparecidos após o veículo em que se encontravam ter sido atacado.

Aviões derrubados
Ontem à tarde, o Ministério da Defesa havia dito que cinco aviões norte-americanos e britânicos tinham sido derrubados nos quatro primeiros dias de batalha, assim como dois helicópteros.
"São os Estados Unidos que estão sofrendo "Choque e Pavor" ", disse Hasim, ironizando o nome do megabombardeio da sexta. De acordo com o ministro, além de seu efetivo regular (cerca de 350 mil homens), o Exército contaria com 7 milhões de soldados saídos dos militantes do Partido Baath, no poder, mais 6 milhões de voluntários recrutados junto à população de 24 milhões. "Essas pessoas vão aparecer no lugar e na hora apropriados".
À tarde, a polícia municipal levou horas no que disse ser uma busca de dois pilotos cujo avião teria sido derrubado na noite de sexta, mas que teriam conseguido escapar usando assentos ejetores.
A primeira busca aconteceu nas margens do rio Tigre. Seguindo uma denúncia de um tradutor que disse ter visto um pára-quedas caindo, a polícia reuniu uma multidão de civis que caçava os supostos pilotos de maneira desordenada e caótica.
Barcaças foram trazidas e subiam e desciam o rio com faróis ligados. A certa altura, um matagal foi incendiado para afugentar quem estivesse escondido por lá. No fim da noite, a mesma situação se repetiu ao lado do Hotel Palestine, com busca de civis, chegada da polícia, culminando na queimada de outro matagal, dessa vez de um parque que ladeia outro trecho do rio Tigre. Ninguém foi encontrado ou capturado.
Os bombardeios na capital iraquiana continuaram pelo dia inteiro ontem, embora nenhum com a intensidade da noite de sexta-feira. De madrugada e de manhã, aconteciam a cada hora, intervalo que diminuiu para meia hora na tarde e noite.
Seguiam uma mesma constante: em cada alvo acontecia um grande estouro seguido de dois menores. A Folha confirmou que a sede do Ministério da Aeronáutica, no sudeste de Bagdá, foi um dos lugares atingidos nas últimas horas, assim como o bairro de El Zampharania, que reúne casas de ministros e do alto escalão de militares do governo de Saddam Hussein.
O comando de Bagdá optou por continuar com a tática de incendiar grandes tanques de petróleo para que a fumaça preta atrapalhe os mísseis norte-americanos e, posteriormente, os helicópteros da coalizão inimiga que tentarem entrar na cidade. O resultado é que, além do desastre ecológico, o céu passa a maior parte do tempo acinzentado. O ar está se tornando irrespirável.


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