São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Médico insurgente matava policiais em Kirkuk

PATRICK COCKBURN
DO "INDEPENDENT", EM KIRKUK

Quando policiais, soldados e autoridades feridos em ataques de insurgentes em Kirkuk chegavam ao principal hospital local, e médicos corriam em sua direção, eles esperavam que suas chances de viver teriam aumentado.
Na verdade, muitos dos feridos estavam condenados à morte, porque um dos médicos do Hospital República era membro de uma célula insurgente. Um inquérito policial revelou que, enquanto fingia tratar dos feridos, o médico matou pelo menos 43 deles.
O coronel Yadgar Shukir Abdullah Jaff, da polícia de Kirkuk, disse: "Ele se chamava Louay. Quando os terroristas não conseguiam matar um policial ou soldado, ele dava cabo do ferido. Ele ministrava uma dose alta de medicamento que intensificava suas hemorragias, provocando a morte".
De acordo com a polícia, Louay travou sua campanha assassina ao longo de oito ou nove meses. Ele aparentava ser um médico assistente que trabalhava duro e que, generosamente, se oferecia para trabalhar em qualquer setor do hospital, especialmente na sala de emergência. Com 272 soldados, policiais e civis mortos e 1.220 feridos em ataques insurgentes em Kirkuk durante o ano passado, os médicos estavam sobrecarregados e recebiam de bom grado qualquer ajuda adicional.
O médico foi preso depois da captura e confissão de Malla Yassin, chefe da célula à qual pertencia. "Fiquei realmente chocado ao saber que um médico, um homem instruído, pudesse ter feito aquilo", comentou o coronel.
Louay exemplifica a ferocidade da luta pela província petrolífera de Kirkuk. A disputa em torno da região é a maior razão pela qual os partidos em Bagdá ainda não formaram um novo governo desde a eleição de 15 de dezembro.
Expulsos de Kirkuk pelo então ditador Saddam Hussein e substituídos por colonos árabes, os curdos recapturaram a cidade em abril de 2003 e não têm intenção de entregá-la novamente. "Jamais deixaremos Kirkuk", disse Rizgar Ali Hamajan, ex-"peshmerga" (soldado) curdo que dirige o Conselho Provincial. "Ela faz parte do Curdistão." Ele lembra que tinha 18 meses de idade quando seus pais fugiram com ele de seu vilarejo, destruído pelo Exército iraquiano momentos depois.
Fumaça negra subiu sobre Kirkuk nesta semana, quando crianças queimaram pneus para comemorar o Nowruz, a festa curda da primavera. A fumaça intensificou o clima de ameaça na cidade dividida, marcada por explosões e tiroteios diários. Kirkuk não é um lugar onde muitos gostariam de viver, mas a batalha por seu controle ainda pode destruir o Iraque.


Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Iraque sob tutela: Série de ataques deixa 56 mortos no Iraque
Próximo Texto: Oriente Médio: Hamas coordenará ataques contra Israel, diz novo ministro palestino
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.