São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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Cafetina afirma ter agenciado modelos para Eliot Spitzer

Suposta testemunha no caso que derrubou governador de Nova York, Andreia Schwartz diz que trocou e-mails com ele

Prostituta diz que a partir de agora só dará entrevista se tiver pagamento; segundo ela, polícia dos EUA propôs trocar cidadania por delação

CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VILA VELHA (ES)

Apontada como testemunha-chave no escândalo de prostituição que provocou a renúncia do governador do Estado de Nova York Eliot Spitzer, a cafetina Andreia Schwartz, 33, afirmou ontem que mantinha contato por e-mail com Spitzer e com um assessor dele e sabia que ele, mesmo casado, procurava garotas para se relacionar.
Spitzer, que renunciou no último dia 12 após ter pago por serviços da garota de programa Ashley Dupré, 22, também acionava a cafetina brasileira para encontros com "modelos", de acordo com Schwartz.
"O governador também buscava modelos para ficar desfilando. Ouvi dizer que ele gostava de ver outros casais juntos. Eu achei estranho, porque ele tem mulher e tudo", afirmou Schwartz por telefone à Folha.
Durante todo o dia de ontem, Schwartz deu entrevistas, por telefone, a jornalistas, que estavam em frente à casa da família, em Vila Velha.
Spitzer, segundo Schwartz, trocava e-mails com ela. "Tenho e-mails do ex-governador e do assessor dele", disse Schwartz, que não quis identificar o assessor nem falar sobre o conteúdo das mensagens.
A cafetina disse que se correspondia por e-mail com muitos atores, cantores e políticos. Disse que a polícia americana revirou a casa dela e acessou o computador, onde encontrou as mensagens trocadas com Spitzer. "Eu já falei muito para você, agora só vou falar para jornais que estão pagando", cortou ela ao ser questionada sobre nomes. A brasileira também citou o envolvimento de um assessor do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, que entrou na corrida presidencial de 2008.

Agência de modelos
A brasileira negou ser cafetina. "Não existiam agentes de prostituição, não existiam páginas amarelas, não existia nada dessas coisas, entendeu? A única coisa é que, como eu estava envolvida com modelos e algumas pessoas do poder, fiz algumas festas, apresentei pessoas a pedido deles."
"Os policiais que se fizeram de meus amigos vários meses pediram para eu fazer uma agência de modelos, e isso virou o que chamam de prostituição. Eu tinha muito contato com modelos e tinha contato também com gente muito grande."
Schwartz disse que ficou no país porque a polícia e a Justiça americanas queriam informações sobre outras pessoas envolvidas. "A polícia fez um contrato para me entregar algumas coisas em dinheiro. Quer mais corrupção que isso? Eles violam as pessoas. Eles ficaram de me dar um dinheiro. O próprio governo, a Justiça no caso, o promotor de Justiça. Ficou de me dar uma parte em dinheiro. Eu não falei mais nada, mas, evidentemente, eu tenho muita informação", disse.
Schwartz afirmou que ficou mais tempo na cadeia para dar nomes, mas não quis delatar ninguém. "Eu não quero nem meu pior inimigo na cadeia."
"O "top" da federal disse: "A gente troca sua identidade, você vai para fora e me ajuda, eu sei que você não é cafetina, mas conhece esse pessoal". Falaram até que me davam o "permanent citizenship" (cidadania) para concluir isso."
A brasileira disse que foi presa, em 2006, "no auge" e que a polícia colocou drogas no apartamento dela. "Sou careta, não uso drogas."
Schwartz desembarcou em Vitória anteontem às 22h30. A Infraero permitiu a entrada de um veículo da estatal para buscá-la na pista do aeroporto. Após o desembarque, ela saiu em alta velocidade. O carro foi perseguido por veículos da imprensa. A família da cafetina disse que ela está na casa de parentes em Vila Velha.


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