São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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Após batizar ex-muçulmano, Bento 16 exalta a conversão

Jornalista que se tornou ferrenho pregador antiislã foi batizado na vigília da Páscoa

Na missa de ontem, papa disse que "milagre" das conversões se deve à crença na ressurreição de Cristo; ele também pediu a paz

DA REDAÇÃO

Além de apelos pela paz mundial, o papa Bento 16 exaltou a conversão ao cristianismo ontem, durante a tradicional missa de Páscoa -que celebra, segundo a tradição cristã, a ressurreição de Jesus Cristo-, realizada na praça São Pedro.
"Graças à crença na ressurreição, milhares e milhares de pessoas se converteram ao cristianismo", disse à multidão que assistia à celebração sob chuva forte. "E esse é um milagre que se renova até os dias de hoje."
Na noite de sábado, na missa da vigília de Páscoa realizada na Basílica de São Pedro, o pontífice havia batizado sete adultos. Entre eles, Magdi Allam, um jornalista italiano de 55 anos de origem muçulmana. No islã, Jesus é considerado um mensageiro de Deus, mas sua divindade não é aceita.
A conversão foi mantida em segredo pelo Vaticano até menos de uma hora antes da missa, quando foi divulgado um comunicado que dizia: "Para a Igreja Católica, cada pessoa que pede para receber o batismo, depois de uma profunda busca pessoal, uma escolha completamente livre e uma preparação adequada, tem o direito de recebê-lo".
Subeditor do jornal "Corriere della Sera", Allam nasceu em uma região muçulmana no Egito, mas foi educado por católicos e dizia ser muçulmano não-praticante. Na Itália, ele se tornou um crítico ferrenho do islã. Na edição de ontem do "Corriere", Allam descreve Bento 16 como um "instrumento para a sua decisão". E completa: "[O batismo] foi um gesto histórico e corajoso".
Na tarde de ontem, Allam, que afirmou já andar com proteção policial policial há cinco anos, disse perceber que sua vida corre perigo, mas que não se arrepende de sua conversão. "Eu sei contra quem estou lutando, mas enfrentarei meu destino com a cabeça erguida e com a força interna de quem tem certeza sobre sua fé", disse.
O gesto de Bento 16 não foi o primeiro com potencial de criar atrito com os muçulmanos. Em 2006, o próprio Allam defendeu o papa quando o pontífice fez uma palestra na cidade de Regensburg, na Alemanha, que foi vista como depreciativa ao islã e provocou protestos entre os muçulmanos. Na palestra, ele citou a frase de um imperador bizantino do século 15 que criticava Maomé por expandir "pela espada" a sua religião.
No começo da semana passada, o papa foi acusado em um vídeo do terrorista Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, de liderar uma campanha contra o islamismo. Por meio do seu porta-voz, o pontífice, que está prestes a completar 81 anos, respondeu à ameaça na última quinta-feira, dizendo que a menção não tem fundamento e que não é um cruzado.

Pela paz
Durante a mensagem de Páscoa, o papa pediu o fim da injustiça, do ódio e da violência no mundo. Ele evocou "um compromisso ativo com a justiça em áreas ensangüentadas por conflitos e em qualquer lugar onde a dignidade humana continue a ser desprezada e pisoteada". E acrescentou, falando especificamente de Darfur, da Somália, da Terra Santa (Israel e territórios palestinos), do Iraque. do Líbano e do Tibete: "Espera-se que estes sejam precisamente os lugares onde os gestos de moderação e perdão devam crescer".
Foi o segundo apelo do papa em menos de uma semana pela paz no Tibete. Em ambos os casos, ele não mencionou a China, com a qual o Vaticano negocia a normalização das relações diplomáticas.


Com agências internacionais


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