São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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Vantagem militar da Colômbia é relativa

País tem mais soldados do que os vizinhos, mas carece de equipamento para conflitos convencionais

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de o Exército colombiano ser maior que o venezuelano e o equatoriano juntos, em um eventual conflito entre esses países os números não necessariamente seriam fundamentais. O tipo de equipamento e a geografia teriam um impacto maior no conflito, segundo o pesquisador Adrian J. English, um dos maiores especialistas no mundo nas Forças Armadas latino-americanas e sua história militar.
"O Exército colombiano é numeroso, mas ele é voltado para a contra-insurgência. Não tem tanques, não tem artilharia pesada", disse English à Folha, em entrevista por telefone de sua casa em Dublin, Irlanda. "A Marinha do país também é pequena, assim como a Força Aérea", afirma o especialista.
English é autor de um clássico livro sobre as Forças Armadas da região ("Armed Forces of Latin America"), cuja evolução acompanha há mais de meio século. Seu último livro, publicado no ano passado, trata da Guerra do Chaco, entre Paraguai e Bolívia, de 1932 a 1935 ("The Green Hell" -"O inferno verde").
Não são as compras recentes de material bélico feitas pelo presidente venezuelano Hugo Chávez que afetariam mais um conflito. Há vários anos a Venezuela tem 80 tanques franceses AMX-30, lembra English; somando-se aos tanques leves, como o britânico Scorpion 90 e o francês AMX-13, o total desse tipo de blindados chega a mais de 200 no país.
O Exército colombiano tem cerca de 178 mil homens, quase tanto quanto o maior da América do Sul, o brasileiro (189 mil). O Exército da Venezuela tem um contingente pequeno mesmo em termos latino-americanos -34 mil homens- e a sua maior parte (27 mil) é de conscritos. Já o Equador tem efetivo de 37 mil.
Mas os colombianos estão em guerra interna com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e teriam de retirar tropas dessa missão para uma guerra convencional. Por outro lado, seus soldados têm muito mais experiência de combate.

Evento raro
Tanto a cordilheira dos Andes como a floresta amazônica colocariam limites no emprego de tropas. Para English, apenas uma estreita faixa de terreno permitiria o emprego de formações mecanizadas e de uma guerra de movimento.
Guerras convencionais envolvendo países sul-americanos foram raras nos últimos 50 anos. O último conflito do gênero pode dar uma pista de como seria uma guerra entre a Colômbia e seus vizinhos.
Tratou-se de outro "round" da disputa entre Peru e Equador, ao longo da fronteira na região amazônica. A chamada Guerra de Cenepa, em 1995, envolveu pequeno número de tropas e de aviação, mas não se estendeu a outros pontos da fronteira entre os dois países.
Resta saber o objetivo de uma guerra andina. Não seria uma disputa por território, como no caso de Peru e Equador; o conflito tem uma dimensão ideológica, e envolve a simpatia de Chávez pelas Farc, que também se consideram "bolivarianas e socialistas". Se Colômbia, Venezuela e Equador entrassem em luta, o mais provável será uma disputa fronteiriça curta, com eventuais ataques aéreos. Uma guerra mais por prestígio do que por resultados práticos.


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