São Paulo, terça-feira, 24 de março de 2009

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Relatórios da ONU apontam abusos de Israel em Gaza

Documentos têm como base relatos palestinos; Israel diz que risco à sua segurança é ignorado

Violações incluem criança usada de escudo; enviado vê crimes palestinos, mas em menor escala; EUA rejeitam textos e citam parcialidade


MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Israel voltou a ser duramente criticado ontem na ONU por sua conduta na recente ofensiva militar contra o grupo palestino Hamas na faixa de Gaza. Em dois relatórios construídos principalmente com base em relatos de palestinos, o país é acusado de cometer graves abusos, alguns com características de crimes de guerra.
O relator especial da ONU para os territórios palestinos, Richard Falk, disse ser necessária uma investigação abrangente para apurar alegações de crimes dos dois lados. Mas ressaltou que Israel deve estar no foco. "Há sérias alegações contra os dois lados, mas elas não podem ser tratadas de forma igual", disse Falk à Folha, após apresentar seu relatório no Conselho de Direitos Humanos. "A magnitude das alegações contra Israel é tão maior que seria enganoso não fazer uma distinção."
Falk foi impedido de entrar em Israel em dezembro, duas semanas antes do início dos ataques a Gaza. Ele pretendia visitar Gaza e Cisjordânia, mas foi detido ao desembarcar em Israel e expulso no dia seguinte. O relator queixou-se do tratamento "humilhante", que incluiu a reclusão em uma "cela suja com mais cinco pessoas".
Entre as ações de Israel em que vê "provas" de crimes de guerra, Falk citou "o uso de armas modernas contra uma população civil indefesa", além de munições proibidas, como fósforo branco. Também lembrou que o confinamento da população de Gaza "sem ter para onde fugir" viola a lei internacional.
Um segundo relatório sobre Gaza apresentado ontem acrescenta detalhes às críticas a Israel. Nove especialistas da ONU estiveram envolvidos na preparação do documento, mas só uma, a relatora para crianças em conflitos armados, teve autorização para visitar o território após os ataques.
Um dos relatos feitos por Radhika Coomaraswamy é a de um menino palestino de 11 anos usado por soldados israelenses como escudo humano. Segundo a relatora, os militares forçaram o garoto a andar na frente das tropas no bairro de Tel al Hawa e a entrar em prédios antes dos soldados.
Coomaraswamy também acusa soldados israelenses de atirarem em crianças, demolirem uma casa com um casal dentro e de bombardearem um prédio onde sabiam haver civis.
Na semana passada a conduta de Israel em Gaza voltou a causar polêmica, depois de a imprensa local divulgar relatos de soldados sobre abusos cometidos na ofensiva.
Praticamente isolado, em meio à chuva de críticas que se seguiu à apresentação dos relatórios, Israel contra-atacou. Disse que lhes faltava "capacidade ou desejo" de levar em conta a ameaça do terrorismo e os foguetes disparados de Gaza. Como exemplo, citou a tentativa de explodir um carro em Haifa, no sábado.
"Os relatórios afirmam examinar as ações de Israel enquanto deliberadamente ignoram e minimizam o terrorismo e as outras ameaças que enfrentamos", disse o embaixador Aharon Leshno Yaar. Ele acrescentou que o Hamas usa civis de escudos ao disparar de escolas, mesquitas e hospitais. Os EUA rejeitaram a acusação e chamaram Falk de parcial.
Citando números do Centro Palestino de Direitos Humanos, o relator chegou à conclusão de que nos 22 dias de ação foram mortos 1.434 palestinos -incluindo 960 civis, 239 policiais e 235 militantes- e 13 israelenses, sendo três civis.


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