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Relatórios da ONU apontam abusos de Israel em Gaza
Documentos têm como base relatos palestinos; Israel diz que risco à sua segurança é ignorado
Violações incluem criança usada de escudo; enviado vê crimes palestinos, mas em menor escala; EUA rejeitam textos e citam parcialidade
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Israel voltou a ser duramente
criticado ontem na ONU por
sua conduta na recente ofensiva militar contra o grupo palestino Hamas na faixa de Gaza.
Em dois relatórios construídos
principalmente com base em
relatos de palestinos, o país é
acusado de cometer graves
abusos, alguns com características de crimes de guerra.
O relator especial da ONU
para os territórios palestinos,
Richard Falk, disse ser necessária uma investigação abrangente para apurar alegações de crimes dos dois lados. Mas ressaltou que Israel deve estar no foco. "Há sérias alegações contra
os dois lados, mas elas não podem ser tratadas de forma
igual", disse Falk à Folha, após
apresentar seu relatório no
Conselho de Direitos Humanos. "A magnitude das alegações contra Israel é tão maior
que seria enganoso não fazer
uma distinção."
Falk foi impedido de entrar
em Israel em dezembro, duas
semanas antes do início dos
ataques a Gaza. Ele pretendia
visitar Gaza e Cisjordânia, mas
foi detido ao desembarcar em
Israel e expulso no dia seguinte. O relator queixou-se do tratamento "humilhante", que incluiu a reclusão em uma "cela
suja com mais cinco pessoas".
Entre as ações de Israel em
que vê "provas" de crimes de
guerra, Falk citou "o uso de armas modernas contra uma população civil indefesa", além de
munições proibidas, como fósforo branco. Também lembrou
que o confinamento da população de Gaza "sem ter para onde
fugir" viola a lei internacional.
Um segundo relatório sobre
Gaza apresentado ontem
acrescenta detalhes às críticas
a Israel. Nove especialistas da
ONU estiveram envolvidos na
preparação do documento,
mas só uma, a relatora para
crianças em conflitos armados,
teve autorização para visitar o
território após os ataques.
Um dos relatos feitos por Radhika Coomaraswamy é a de
um menino palestino de 11
anos usado por soldados israelenses como escudo humano.
Segundo a relatora, os militares forçaram o garoto a andar
na frente das tropas no bairro
de Tel al Hawa e a entrar em
prédios antes dos soldados.
Coomaraswamy também
acusa soldados israelenses de
atirarem em crianças, demolirem uma casa com um casal
dentro e de bombardearem um
prédio onde sabiam haver civis.
Na semana passada a conduta de Israel em Gaza voltou a
causar polêmica, depois de a
imprensa local divulgar relatos
de soldados sobre abusos cometidos na ofensiva.
Praticamente isolado, em
meio à chuva de críticas que se
seguiu à apresentação dos relatórios, Israel contra-atacou.
Disse que lhes faltava "capacidade ou desejo" de levar em
conta a ameaça do terrorismo e
os foguetes disparados de Gaza.
Como exemplo, citou a tentativa de explodir um carro em
Haifa, no sábado.
"Os relatórios afirmam examinar as ações de Israel enquanto deliberadamente ignoram e minimizam o terrorismo
e as outras ameaças que enfrentamos", disse o embaixador Aharon Leshno Yaar. Ele
acrescentou que o Hamas usa
civis de escudos ao disparar de
escolas, mesquitas e hospitais.
Os EUA rejeitaram a acusação
e chamaram Falk de parcial.
Citando números do Centro
Palestino de Direitos Humanos, o relator chegou à conclusão de que nos 22 dias de ação
foram mortos 1.434 palestinos
-incluindo 960 civis, 239 policiais e 235 militantes- e 13 israelenses, sendo três civis.
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