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Amorim e diretor da AIEA divergem sobre negociação com Irã
Japonês diz que plano de troca de urânio "segue na mesa", mas deixa claro não pretender explorar agora formato sugerido por chanceler
Chefe da agência atômica da ONU afirma não ter acusado Teerã de buscar a bomba, mas diz que país deve sanar dúvidas listadas em relatório
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o diretor-geral da AIEA (Agência
Internacional de Energia Atômica), Yukiya Amano, demonstraram divergências quanto ao
rumo das negociações sobre o
programa nuclear do Irã, em
entrevista conjunta no Rio.
O japonês Amano, que assumiu o cargo há quatro meses e é
considerado mais alinhado aos
EUA que seu antecessor, o
egípcio Mohammed El Baradei,
também fez pressão discreta
para que o Brasil assine um
protocolo adicional ao TNP
(Tratado de Não Proliferação),
ampliando o alcance das inspeções da AIEA nas instalações
nucleares brasileiras.
O diretor da agência atômica
da ONU disse que "continua na
mesa" a proposta para que o Irã
troque seu estoque de urânio
com baixo enriquecimento por
combustível enriquecido a
20%, destinado a abastecer seu
reator para uso médico -o plano evitaria que os iranianos
usem o estoque para construir
uma bomba.
Mas Amano deixou claro que
não pretende ou não tem apoio
no momento para atualizar a
proposta no sentido sugerido
por Amorim, de que a troca simultânea, como quer Teerã, seja feita por intermédio de um
terceiro país, como a Turquia,
que tenha a confiança do Ocidente e dos iranianos.
Mesmo com um "convite em
aberto", ele disse não ter "plano
ou data particulares" para visitar o Irã -iniciativa que, segundo disse Amorim à Folha anteontem, daria novo impulso à
negociação. "Não posso ir a
Teerã para dizer oi, preciso ter
algo político para discutir. Negociamos discretamente, por
vários canais, e outros países,
como Brasil e Turquia, estão
falando com os interessados."
O diretor da AIEA indicou
ainda que sua prioridade é que
o Irã "esclareça" as suspeitas
levantadas no relatório divulgado por ele no mês passado.
Embora, afirmou, o texto não
acuse o país de ter um programa militar secreto, é preciso
que os iranianos se disponham
a "conversar" sobre o tema, o
que não fazem desde 2008.
O chanceler brasileiro, no
entanto, tem posição inversa.
Para ele, um acordo para a troca de combustível é que poderia melhorar a relação entre o
Irã e a AIEA. "Achamos que é
preciso haver cooperação. Para
que haja cooperação, seria positivo que o acordo avançasse.
Haveria mais clima para a discussão de outras questões."
Mesmo admitindo que a
AIEA tem de sanar as dúvidas
sobre o Irã, a diplomacia brasileira avalia que o relatório de
Amano recicla suspeitas velhas, citando "estudos alegados" feitos por agências de espionagem não nomeadas.
"A questão é ser cuidadoso,
porque você pode ser ingênuo
por acreditar muito no Irã ou
por acreditar muito nas agências de informação de outros
países", afirmou Amorim. Ele
voltou a citar o Iraque, "quando foi preciso pelo menos 200
mil pessoas mortas" para se
concluir que não havia armas
de destruição em massa.
Amano, que visitou a fábrica
de urânio enriquecido da INB
(Indústrias Nucleares do Brasil), falou do protocolo adicional no início da entrevista. "O
protocolo reforça a capacidade
de verificação da agência, e eu
gostaria de ver um número máximo de países aderindo."
A posição brasileira é a de só
negociar um protocolo do tipo
numa barganha em que as potências nucleares se comprometam com o desarmamento,
como prevê o TNP. O país afirma ainda que suas instalações
estão sob escrutínio suficiente,
da AIEA e da Abacc (Agência
Brasileiro-Argentina de Controle e Contabilidade).
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