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AMÉRICA LATINA
Avião brasileiro que trará o ex-presidente já foi autorizado a pousar em Quito, mas documento ainda não saiu
Brasil aguarda salvo-conduto a Gutiérrez
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A QUITO
Apesar de um dia intenso de
consultas da Embaixada do Brasil
em Quito com o Itamaraty e o governo do Equador, o ex-presidente Lucio Gutiérrez seguia refugiado, na noite de ontem, na casa do
embaixador Sérgio Florencio.
Gutiérrez aguardava a emissão
de um salvo-conduto pelo novo
governo de seu país para que possa viajar ao Brasil, onde receberá
asilo territorial.
Segundo a Força Aérea Brasileira, as autoridades equatorianas já
deram permissão para que o
avião da FAB que levará Gutiérrez
ao país pouse no Equador. Mas
sem salvo-conduto, o ex-presidente pode ser detido ao deixar a
casa do embaixador. Há ordem
de prisão contra ele por ter ordenado a repressão violenta dos
protestos que antecederam sua
destituição, na última quarta.
"Estamos aqui na residência fazendo os nossos contatos e acompanhando os desdobramentos",
informou a assessoria da Embaixada. No início da noite, as conversações continuavam intensas
na casa do embaixador. "O lado
equatoriano também está trabalhando, analisando o texto do documento, porque há uma série de
trâmites jurídicos."
O sábado foi tranqüilo em Quito. Os protestos em frente à residência diplomática, que vinham
sendo diários, arrefeceram. Os
manifestantes, com poucas exceções, permaneceram em silêncio.
Enquanto Gutiérrez espera, arma-se no país um debate sobre a
constitucionalidade de sua destituição. Sexta, em declarações a
amigos por telefone que foram
gravadas por uma rádio e divulgadas, o ex-presidente chamou a
medida de "inconstitucional". Já a
promotoria pública disse que tudo ocorreu dentro da lei.
Em Tena, cidade natal de Gutiérrez, manifestantes organizaram protestos contra a destituição.
Reconhecimento e medo
Um ponto que têm incomodado políticos e imprensa do Equador é a demora da OEA (Organização dos Estados Americanos)
em reconhecer o governo encabeçado pelo vice de Gutiérrez, Alfredo Palacio. "O governo equatoriano no momento está mais preocupado com sua condição ante a
OEA do que em decidir sobre o
salvo-conduto de Gutiérrez", disse à Folha um diplomata equatoriano próximo às discussões em
torno do ex-presidente.
Na véspera, o chanceler Alfredo
Parra Gil mostrou irritação ao
responder sobre o tema. "[Reconhecimento] é algo a que temos
direito", disse a jornalistas. O ministro chefe de governo, Maurício
Gándara, emendou: "Não se requer reconhecimento de nenhum
país em que há uma sucessão
constitucional do governo".
A OEA vai enviar uma missão a
Quito para investigar as condições que levaram à saída de Gutiérrez, no ápice de uma semana
de intensos protestos populares.
Diante da avaliação dessa missão
o organismo emitirá seu parecer
sobre a legitimidade do governo.
Gutiérrez foi destituído em uma
sessão extraordinária do Congresso unicameral equatoriano
que durou menos de uma hora.
Segundo disse à Folha o deputado Andrés Páez, da Esquerda Democrática (oposição a Gutiérrez),
o motivo da rapidez foi medo.
"Havia uma turba lá fora nos
pressionando. Tínhamos que decidir rápido", disse à Folha.
Colaborou Eduardo Scolese, da Sucursal de Brasília
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