São Paulo, domingo, 24 de abril de 2005

Próximo Texto | Índice

AMÉRICA LATINA

Avião brasileiro que trará o ex-presidente já foi autorizado a pousar em Quito, mas documento ainda não saiu

Brasil aguarda salvo-conduto a Gutiérrez

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A QUITO

Apesar de um dia intenso de consultas da Embaixada do Brasil em Quito com o Itamaraty e o governo do Equador, o ex-presidente Lucio Gutiérrez seguia refugiado, na noite de ontem, na casa do embaixador Sérgio Florencio.
Gutiérrez aguardava a emissão de um salvo-conduto pelo novo governo de seu país para que possa viajar ao Brasil, onde receberá asilo territorial.
Segundo a Força Aérea Brasileira, as autoridades equatorianas já deram permissão para que o avião da FAB que levará Gutiérrez ao país pouse no Equador. Mas sem salvo-conduto, o ex-presidente pode ser detido ao deixar a casa do embaixador. Há ordem de prisão contra ele por ter ordenado a repressão violenta dos protestos que antecederam sua destituição, na última quarta.
"Estamos aqui na residência fazendo os nossos contatos e acompanhando os desdobramentos", informou a assessoria da Embaixada. No início da noite, as conversações continuavam intensas na casa do embaixador. "O lado equatoriano também está trabalhando, analisando o texto do documento, porque há uma série de trâmites jurídicos."
O sábado foi tranqüilo em Quito. Os protestos em frente à residência diplomática, que vinham sendo diários, arrefeceram. Os manifestantes, com poucas exceções, permaneceram em silêncio.
Enquanto Gutiérrez espera, arma-se no país um debate sobre a constitucionalidade de sua destituição. Sexta, em declarações a amigos por telefone que foram gravadas por uma rádio e divulgadas, o ex-presidente chamou a medida de "inconstitucional". Já a promotoria pública disse que tudo ocorreu dentro da lei.
Em Tena, cidade natal de Gutiérrez, manifestantes organizaram protestos contra a destituição.

Reconhecimento e medo
Um ponto que têm incomodado políticos e imprensa do Equador é a demora da OEA (Organização dos Estados Americanos) em reconhecer o governo encabeçado pelo vice de Gutiérrez, Alfredo Palacio. "O governo equatoriano no momento está mais preocupado com sua condição ante a OEA do que em decidir sobre o salvo-conduto de Gutiérrez", disse à Folha um diplomata equatoriano próximo às discussões em torno do ex-presidente.
Na véspera, o chanceler Alfredo Parra Gil mostrou irritação ao responder sobre o tema. "[Reconhecimento] é algo a que temos direito", disse a jornalistas. O ministro chefe de governo, Maurício Gándara, emendou: "Não se requer reconhecimento de nenhum país em que há uma sucessão constitucional do governo".
A OEA vai enviar uma missão a Quito para investigar as condições que levaram à saída de Gutiérrez, no ápice de uma semana de intensos protestos populares. Diante da avaliação dessa missão o organismo emitirá seu parecer sobre a legitimidade do governo.
Gutiérrez foi destituído em uma sessão extraordinária do Congresso unicameral equatoriano que durou menos de uma hora.
Segundo disse à Folha o deputado Andrés Páez, da Esquerda Democrática (oposição a Gutiérrez), o motivo da rapidez foi medo. "Havia uma turba lá fora nos pressionando. Tínhamos que decidir rápido", disse à Folha.


Colaborou Eduardo Scolese, da Sucursal de Brasília


Próximo Texto: Dissolução da Corte pode livrar ex-presidente
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.